domingo, 19 de julho de 2015

Ainda minoria, mulheres ganham força por trás das câmeras da TV

  • Montagem UOL
    Denise Saraceni, Lilian Amarante, Amora Mautner e Júlia Jordão: diretoras têm se destacado na TV brasileira Denise Saraceni, Lilian Amarante, Amora Mautner e Júlia Jordão: diretoras têm se destacado na TV brasileira
 No Brasil e no mundo, mulheres fortes têm ganhado espaço como personagens centrais de várias séries e novelas, como "Game of Thrones", "Mad Men" e "I Love Paraisópolis". E nos bastidores, também, apesar de o meio ser tido sempre como muito masculino.

Nos últimos anos, elas têm garantido lugar de destaque ao lado de nomes já consagrados como o de Denise Saraceni –primeira mulher a se tornar diretora de núcleo da Globo– e o de Leonor Correa, que dirigiu o "Domingão do Faustão" e "O Melhor do Brasil". O maior sucesso recente das novelas, "Avenida Brasil" (2012), teve direção-geral de Amora Mautner, que se prepara para estrear ainda este ano a próxima trama de João Emanuel Carneiro. E em "Babilônia", atual novela das nove da Globo, Maria de Médicis divide a direção-geral com Dennis de Carvalho.

"Está caminhando, a gente só não está lá ainda", opina Júlia Jordão, diretora da série "O Negócio", produção brasileira da HBO. "Nos últimos vinte anos nos Estados Unidos, houve um salto de 21 para 27% [de mulheres nos bastidores], que é pouco. Talvez seja otimismo meu, mas eu tenho a impressão de que no Brasil isso é um pouco melhor, principalmente na área de produção."

A produção crescente da TV, fruto da Lei da TV Paga, que estabelece uma cota de produções nacionais a serem exibidas nos canais a cabo, também está exigindo uma maior profissionalização das produtoras, o que tem contribuído para o reconhecimento das mulheres no meio. "Isso é muito importante, a gente não é mais a mulherzinha do diretor", afirma Júlia. Eliane Ferreira, diretora de conteúdo da produtora Mixer, concorda: "Havia muita essa tendência, até porque as produtoras eram produtoras familiares. Então tinha isso de a esposa ser a mulher, o marido ser o diretor e eles fazerem a produção, de longas principalmente. Agora, por conta de o mercado independente se tornar mais forte, as produtoras estão mais profissionais, a gente vê aí as grandes produtoras realmente estruturadas, somando financeiro, presidência, uma equipe trabalhando seriamente."

Categorias técnicas têm menos mulheres

É nas categorias técnicas como edição, direção de fotografia e direção de arte, que a diferença se manifesta mais, de acordo com as mulheres ouvidas pela reportagem. Atualmente coordenadora de conteúdo do GNT, Sandra Brogioni começou sua carreira como editora, e ainda vê uma predominância masculina na área - ela nunca  trabalhou em uma equipe com mais mulheres do que homens quando exercia a função. "No começo do cinema, o filme era uma coisa física: você pegava, cortava com a tesoura, colava. Tinha essa coisa de falar que a mulher tem a mão menor, que ela é mais precisa. Mas aí começou a vir o eletrônico e criou-se isso de que mulher não entende de eletrônico, fios, cabos e sinal. Hoje há muita mulher que edita, que entende de equipamento, mas você ainda tem um predominância masculina".

As inovações tecnológicas têm ajudado a incluir mais mulheres nessa área do audiovisual - principalmente se for considerada a brusca diminuição de peso e tamanho das câmeras. Mas ainda há muito a percorrer. Primeira mulher brasileira a se tornar diretora de fotografia, Kátia Coelho nunca encontrou barreiras na profissão, mas vê poucas colegas do sexo feminino em sua área.

"Eu tinha 17 anos quando comecei e fiquei surpresa quando fiquei sabendo que não havia mulheres na área. De lá para cá, as coisas não mudaram tanto, eu acho. Mesmo as câmeras sendo leves, eu noto que não existe um número grande de mulheres na área. Eu não entendo bem. Se essa área era vista como masculina pelo peso, hoje essa questão não. Vejo que há muitas diretoras, mas fotógrafas são poucas. O que é chato, porque quando ocorre esse tipo de coisa, é porque há alguma barreira". Premiada no Festival de Gramado e no Kodak Vision Award - Women in Film (por "Tônica Dominante"), Kátia atualmente trabalha em um projeto da TV Câmara, em Brasília.


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