Por que doenças como a Aids mobilizam tanto e as hepatites, que matam muito mais, são ainda tão ignoradas? Eu e outros colegas já fizemos muitas vezes essa pergunta, mas não custa nada repeti-la nesta terça (28), Dia Mundial contra a Hepatite. Vários eventos estão previstos para alertar sobre essa epidemia silenciosa que afeta mais de 2 milhões de brasileiros, dos quais menos de 5% são tratados. Como tantas outras efemérides em saúde, é nesse dia em que a doença sai debaixo do manto da invisibilidade que a encobre e mostra a sua cara. Depois, cai no esquecimento de novo por mais um ano.
Todo mundo conhece alguém que já teve ou tem algum tipo de hepatite. Eu perdi uma prima, à época com 11 anos, vítima de hepatite A fulminante, fato raro já que, na infância, a A tende a ser benigna. Na gravidez ou em uma faixa etária mais avançada, ela pode matar. Como se pega? Água suja. E não adianta achar que você está protegido só porque vive em ambientes com ótimas condições sanitárias. É só viajar, comer algum alimento mal lavado e pimba!
Como costuma dizer o médico Drauzio Varella, as hepatites não têm o mesmo "charme" da Aids, por isso não consegue ter a mesma visibilidade. Para ele, a Aids é uma epidemia que desde o início atingiu pessoas com mais acesso aos meios de comunicação, além de envolver uma discussão moral, prato cheio para os jornalistas.
De uma forma ou de outra, todos corremos o risco de nos infectar com algum tipo de hepatite. Nós, mulheres, por exemplo, nos salões de beleza. A pesquisadora Andréia Schunck, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, visitou cem salões de beleza (dos mais simples aos mais chiques) de São Paulo. Passou pelo menos seis horas em cada salão. Encontrou procedimentos inadequados em todos eles. As manicures não lavavam as mãos, não lavavam os equipamentos e já os colocavam direto na autoclave. Também usavam nelas mesmas o material que usavam nas clientes. Andréia encontrou 10% de infectadas. O vírus B apareceu em 8% da amostra e o vírus C em 2%.
As manicures têm o direito de tomar a vacina que previne a hepatite B. É de graça, no SUS. Mas só 15% sabiam disso, segundo a pesquisa de Andréia.
Para a hepatite C ainda não há vacina, uma pena já que o vírus C é transmitido com muita facilidade. Enquanto na hepatites B, apenas 5% dos infectados se tornam portadores crônicos, na hepatite C são 80%. O vírus B não induz o câncer de fígado, mas ele causa cirrose, que pode aumentar a incidência de câncer de fígado.
A boa notícia para os portadores de hepatite C é que uma nova terapia que aumenta as chances de cura e diminui o tempo de tratamento estará disponível no SUS até dezembro deste ano, conforme anunciou o ministro da Saúde, Artur Chioro, nesta segunda (27). O tratamento é composto pelos medicamentos daclatasvir, simeprevir e sofosbuvir. Com ele, o Brasil será um dos primeiros países em desenvolvimento a ofertar a terapia no sistema público, que só neste ano vai custar até R$ 500 milhões.
O tratamento é importante, mas não dá para descuidar da prevenção e do diagnóstico precoce. Neste 28 de julho, a mensagem é simples: façam o teste. É o primeiro passo para a cura.
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