Eliane Cantanhêde
03 Julho 2015 | 05h 00
A pesquisa Ibope teve um efeito
desolador no PT, que se esforça para ser guardião de uma presidente da
República que não queria e para fingir que acredita em Lula como boia de
salvação. A sensação é de fim de festa, com o salão desarrumado, copos
quebrados, guardanapos pelo chão e bêbados vagando sem rumo, enquanto o
Titanic aderna.
A aprovação de Dilma Rousseff despencou para um só
dígito e a rejeição é a maior em 29 anos, pior mesmo do que as de Collor
e de Sarney, os ex-campeões de impopularidade. O campo da pesquisa,
curiosamente dez dias antes da divulgação, não pegou os 15 minutos de
glória de Dilma com Barack Obama nem captou, do outro lado, as
revelações de Ricardo Pessoa envolvendo campanhas de Lula e Dilma e, de
uma tacada só, dois ministros com assento no Planalto. Soma daqui,
subtrai dali, o resultado é atual.
Chocado, o PT vê a presidente serelepe, curtindo a dieta da
moda e pedalando sua bike ribanceira abaixo, enquanto leva uma bola nas
costas atrás da outra no Congresso, ora com um novo fator
previdenciário, ora com o aumento de até 78% dos funcionários do
Judiciário. E, assustado, descobre que Lula está sem rumo, sem vontade e
sem tantos seguidores assim que estejam dispostos a afundar com ele e
Dilma em toda essa lambança.
A proposta que Lula levou para as bancadas do PT no Congresso e
para os líderes ainda aliados do PMDB é, em si mesma, um sinal de
desespero: um pacto de governabilidade entre os três Poderes para “tirar
o País da crise”. Leia-se: ele sonha numa “união republicana” do
Legislativo e do Judiciário em torno do Executivo para tentar salvar o
mandato periclitante da pupila Dilma.
Como pensar em “pacto” entre Poderes, justamente num ambiente
de desconfiança entre eles e de críticas generalizadas à presidente? O
Executivo perdeu o controle e ficou a reboque do Congresso e da Justiça.
O Legislativo está nas mãos de Renan Calheiros e Eduardo Cunha, que
impõem uma derrota atrás da outra ao Planalto e estão no foco do
Judiciário. E o Judiciário não apenas investiga os presidentes da Câmara
e do Senado e boa parte dos congressistas, como pode se ver na
iminência de julgar ministros da antessala de Dilma.
Deputados e senadores petistas ouviram a ideia de Lula com
reverência, como fazem há mais de 35 anos, antes mesmo da criação do PT,
mas saíram dali envoltos em profundo desânimo. Se isso é tudo o que o
gênio da política tupiniquim tem a oferecer, é porque a coisa está para
lá de ruim.
Já os caciques do PMDB nem fizeram questão de esconder o
ceticismo com a solução improvisada – aliás, com tudo. Octogenário e
vivendo o ocaso da carreira política, José Sarney foi além e disse o que
todos ali pensavam, mas não ousavam admitir: a esta altura, com o
governo desmoronando, a economia idem e Dilma autista, pode ser tarde
demais para qualquer reação. Segundo relatos, Sarney avaliou, sem
subterfúgios, que a possibilidade de Dilma cair é cada vez mais real.
Se as conversas de Lula com o PT e o PMDB amigo já foram nesse
ambiente desolador, imaginem se, em vez de terem sido na segunda e na
terça, tivessem sido na quarta-feira, dia da divulgação do Ibope? Os
próprios petistas começam a dar sinal de cansaço. Eles se ressentem do
erro fatal que foi chegar alegremente ao paraíso das benesses e das
maracutaias e, como tiveram de engolir a imposição do nome de Dilma para
a Presidência, não encontram argumentos – e, na verdade, nem têm
vontade – para defendê-la agora. Pior: muitos não botam mais fé em Lula,
que também demonstra frustração, medo, impotência.
“Lula não manda mais nada”, atesta um velho amigo, repetindo
literalmente o que a senadora Marta Suplicy diz há tempos e revelando
que achou o ex-presidente deprimido, sem encanto, incapaz de apontar
caminhos e de convencer como pré-candidato em 2018. Como todos os
demais, Lula está vendo o desastre chegar sem saber como impedi-lo. Nem
como sobreviver a ele.
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POLÍTICA E ECONOMIA