Na denúncia contra Marcelo Odebrecht e executivos de sua empresa, apresentada na sexta (24), o Ministério Público Federal afirma que a maior empreiteira do país cooptou funcionários da Petrobras, por meio de suborno, para fraudar concorrências e ganhar três das dez maiores obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), no valor total de R$ 12,6 bilhões.
A narrativa dos procuradores acusa a Odebrecht de obter informações privilegiadas e elevar artificialmente o valor de contratos por meio de manobras suspeitas no Comperj (Complexo Petroquímico do Rio) e nas refinarias de Abreu e Lima (Rnest, PE) e Getúlio Vargas (Repar, PR).
Acionista e mais alto executivo do conglomerado, Marcelo Odebrecht é descrito pela acusação como alguém que tinha conhecimento e mandava diretores da companhia a corromper.
Nestes projetos, acusa o Ministério Público, a propina a dirigentes da estatal e a operadores do PT, do PMDB e do PP teria alcançado de R$ 377 milhões -parte supostamente depositada por um intricado sistema de contas secretas no exterior.
Na licitação do Paraná, 22 empresas —das quais 15 suspeitas de integrar o cartel— apresentaram propostas. A menor, do consórcio Conpar (Odebrecht, UTC e OAS), era de R$ 2,27 bilhões. Como estava 43% acima da estimativa inicial da Petrobras, o certame foi suspenso.
Contrariando a orientação do jurídico da estatal pela abertura de nova licitação, a Petrobras reviu para cima sua estimativa inicial e o então gerente de serviços Pedro Barusco, hoje um dos delatores da Operação Lava Jato, conduziu uma negociação direta com o consórcio.
O contrato foi assinado em R$ 1,82 bilhões em 2007 com cláusulas consideradas lesivas pelo departamento jurídico, como a obrigação da Petrobras de indenizar o consórcio da Odebrecht por paralisações em dias de chuva.
Entre 2008 e 2012, o então diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, outro que admitiu o recebimento de propina em troca de redução de pena, assinou 12 aditivos que elevaram o valor da obra para R$ 2,29 bilhões —praticamente o mesmo valor da proposta que gerou o cancelamento da licitação.
Em troca, diz a Procuradoria, houve pagamento de R$ 70 milhões para Costa, Barusco e para o então diretor de Serviços Renato Duque.
Gel Lima/Código 19/Folhapress | |
Imagens da Refinaria Presidente Getúlio Vargas da Petrobras na cidade de Araucária (PR) |
COMPERJ
Obra mais cara do PAC, o Comperj custa hoje 2,5 vezes mais do que o originalmente previsto. Consórcios liderados pela Odebrecht levaram contratos de R$ 5,69 bilhões. A Procuradoria diz que suborno alcançou R$ 167 milhões.
O maior contrato, o do ciclo de águas e utilidades (R$ 3,82 bilhões), foi obtido sem licitação e com indícios de vazamento de informações privilegiadas, acusa o órgão.
Sob a alegação de urgência, a licitação da obra foi dispensada e o consórcio TUC (Odebrecht, UTC e PPI) apresentou proposta inicial de R$ 4 bilhões em novembro de 2011. Um mês depois, baixou para R$ 3,82 bilhões, praticamente empatando com a estimativa sigilosa da estatal.
Antes do início da negociação com a Petrobras, e-mail do executivo Rogério Araújo, da Odebrecht, indica que Paulo Roberto Costa pressionou outras empreiteiras a se unir à Odebrecht —para o MPF, indício da cooptação de Costa pela empreiteira.
Numa das obras de Abreu e Lima, segundo procuradores, Odebrecht apresentou proposta que superava em 19,9% o valor da estimativa da Petrobras.
Outros consórcios, suspeitos de integrar cartel de empreiteiras, foram desclassificados por preços acima do teto de 20% sobre a estimativa.
OUTRO LADO
Por meio de nota, a Odebrecht refutou a denúncia do Ministério Público Federal de que Marcelo Odebrecht orientava seus diretores a obter contratos com a Petrobras por meios fraudulentos.
Segundo a companhia, o executivo —que está preso desde 19 de junho— não participa das decisões da construtora.
"Marcelo Odebrecht é, desde janeiro de 2009, diretor-presidente da holding Odebrecht S.A., empresa dividida em 15 negócios, estruturados em 10 pessoas jurídicas distintas, com atuação em 21 países. O papel da holding é e sempre foi o de gestor desses investimentos", afirma a nota da companhia.
"Ou seja: a versão apresentada pelo Ministério Público Federal não tem fundamento, já que a holding não é responsável direta pela operação de nenhum negócio."
Sobre as acusações de cartel e favorecimento nas obras do PAC citadas —Comperj, Rnest e Repar—, a Construtora Norberto Odebrecht respondeu que não participa e nunca participou de nenhum tipo de cartel.
Declarou também que todos os contratos que mantém com a Petrobras foram obtidos por meio de processos de seleção e concorrência que seguiram a legislação.
A Folha não conseguiu obter um posicionamento da Petrobras no domingo (26).
A estatal tem ingressado com ações judiciais contra empreiteiras suspeitas de integrar o esquema de corrupção, visando obter ressarcimento dos prejuízos sofridos.
A Petrobras tem afirmado também que colabora com as investigações.
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