O pesquisador americano Shawn Achor passou por uma depressão e contou
como saiu dela com ajuda de técnicas para mudar a maneira com que seu
cérebro, digamos, registrava o mundo. Virou best-seller com o livro
"Happiness Advantage", publicado no Brasil como "O jeito Harvard de ser
feliz" (Editora Saraiva). Depois de muitos trabalhos falando sobre a
ligação entre felicidade e sucesso, principalmente em grandes empresas
como Google, ele resumiu cinco ações que tomam pouquíssimo tempo e podem
aumentar o bem-estar imediatamente.
Não é necessário realizar
todas, segundo Achor, e não quer dizer que praticar as cinco vai deixar
alguém cinco vezes mais feliz. Mas "ter vários hábitos aumenta e
sustenta o efeito positivo". Aliás, para ele, a felicidade está no aqui e
agora e não em metas que sempre ficam mais distantes. As ações são as
seguintes:
Alguns são mais felizes que os outros?
A questão de por que algumas pessoas parecerem ser mais felizes que
outras inquieta a humanidade há muitos séculos, mas só há poucas décadas
o assunto tem sido tratado de forma científica, principalmente a partir
dos anos 1990 com a psicologia positiva, especialidade de Achor.
Segundo a psiquiatra Elaine Henna, da Universidade de São Paulo, "depois
que a medicina já resolveu várias doenças mais graves, abriu-se espaço
para estudar o bem-estar". Segundo ela, bem-estar é a medida usada para o
que chamamos de felicidade. "Não é a busca por prazer, é algo mais
ligado à paz interior", diz Elaine.
Achor explica que as partes mais primitivas do cérebro são responsáveis por detectar ameaças e o resto do cérebro evoluiu a partir dessas áreas primitivas. "As pessoas frequentemente pensam que são as pessoas profundas que veem o mundo como negativo, mas, na verdade, a negatividade é a coisa mais fácil que o cérebro pode fazer", diz. "É preciso um poder de profundidade e processamento incríveis para construir significado de eventos aparentemente banais ou ameaçadores".
A pesquisadora da USP explica que exercitar o pensamento otimista ativa áreas do cérebro responsáveis pelas emoções e faz com que fique mais automático enxergar experiências positivas. Segundo ela, o afeto, seja ele positivo (alegria, paz, gratidão) ou negativo (angústia, tristeza, raiva), gera alterações cerebrais no sistema subcortical (mais "visceral") e no cortical (mais racional). "A reação emocional não compreende apenas o sentir, mas também é fisiológica", diz Elaine. O sistema subcortical, por exemplo, está relacionado com a regulação neuroendocrinológica.
"Em situações de estresse agudo ocorre aumento na secreção de cortisol e resposta inflamatória generalizada. Estas alterações foram associadas à doença aterosclerótica, doença coronariana, diabetes, depressão, entre outros", explica a médica. Já os afetos positivos, sejam eles espontâneos ou provocados, estão relacionados à redução dos níveis de cortisol e da resposta inflamatória independentemente de gênero, idade, nível socioeconômico, etnia e estar empregado. "Os afetos positivos também foram associados a melhor resposta imune, por aumento na produção de imunoglobulinas e a maior tolerância aos efeitos adversos da quimioterapia em pacientes com câncer".
De acordo com o autor americano, além do papel contra doenças, essa "felicidade" aumenta a produtividade no trabalho. Ao mesmo tempo em que leciona uma das aulas mais concorridas na Universidade de Harvard, Achor também trabalha com grandes empresas, escolas e hospitais pelo mundo. Ele conta que um dos trabalhos que mais o surpreendeu foi realizado durante a crise financeira juntamente com os professores Ali Crum, da Universidade Stanford, e Peter Salovey, presidente da Universidade de Yale.
A missão era reduzir o estresse de funcionários do banco UBS. "Descobrimos que a mentalidade sobre o estresse importa mais do que quantidade de estresse em termos de efeitos sobre a saúde". O resultado foi que, após o treinamento para as pessoas encararem o estresse de forma positiva – como um desafio e não como uma ameaça –, os efeitos do estresse caíram 23% num período de duas semanas.
Dentro ou fora?
Voltando à questão de por que alguns parecem ser mais felizes do que outros, Elaine diz que estudos na área sugerem que fatores externos como sobrevivência digna, relação amorosa estável e relação social significativa representam de 10% a 20% da sensação de bem-estar. Já a personalidade, ou seja, características herdadas e desenvolvidas a partir de experiências, é responsável por cerca de 50% pela felicidade de uma pessoa. O restante vem de comportamentos cognitivos - atividades positivas ou negativas. "É claro que se uma pessoa mora em uma área de alta vulnerabilidade, os fatores externos podem ter um impacto maior". diz a pesquisadora.
Mas, mesmo em condições de risco, ambos lembram casos de estudos em que o bem-estar era maior se houvesse um dos fatores como gratidão ou conexões sociais fortes. Elaine lembra que, em 2010, um estudo na Itália reuniu dois grupos de alunos de uma escola pública em situação de vulnerabilidade. Uma das turmas escreveu cartas de gratidão e o outro apenas relatava o que tinha acontecido em seu dia. "Houve melhora de rendimento escolar e redução de conflito no primeiro grupo", diz a psiquiatra.
Achor trabalhou com agricultores que haviam perdido suas terras no Zimbábue e pessoas sob ameaça de sequestro na Venezuela, ambos com fortes conexões sociais. E relata que eles conseguiram manter um nível maior de otimismo e felicidade do que banqueiros, consultores e vendedores que estão na estrada o tempo e têm trabalhos longe de suas famílias.
Achor explica que as partes mais primitivas do cérebro são responsáveis por detectar ameaças e o resto do cérebro evoluiu a partir dessas áreas primitivas. "As pessoas frequentemente pensam que são as pessoas profundas que veem o mundo como negativo, mas, na verdade, a negatividade é a coisa mais fácil que o cérebro pode fazer", diz. "É preciso um poder de profundidade e processamento incríveis para construir significado de eventos aparentemente banais ou ameaçadores".
A pesquisadora da USP explica que exercitar o pensamento otimista ativa áreas do cérebro responsáveis pelas emoções e faz com que fique mais automático enxergar experiências positivas. Segundo ela, o afeto, seja ele positivo (alegria, paz, gratidão) ou negativo (angústia, tristeza, raiva), gera alterações cerebrais no sistema subcortical (mais "visceral") e no cortical (mais racional). "A reação emocional não compreende apenas o sentir, mas também é fisiológica", diz Elaine. O sistema subcortical, por exemplo, está relacionado com a regulação neuroendocrinológica.
"Em situações de estresse agudo ocorre aumento na secreção de cortisol e resposta inflamatória generalizada. Estas alterações foram associadas à doença aterosclerótica, doença coronariana, diabetes, depressão, entre outros", explica a médica. Já os afetos positivos, sejam eles espontâneos ou provocados, estão relacionados à redução dos níveis de cortisol e da resposta inflamatória independentemente de gênero, idade, nível socioeconômico, etnia e estar empregado. "Os afetos positivos também foram associados a melhor resposta imune, por aumento na produção de imunoglobulinas e a maior tolerância aos efeitos adversos da quimioterapia em pacientes com câncer".
De acordo com o autor americano, além do papel contra doenças, essa "felicidade" aumenta a produtividade no trabalho. Ao mesmo tempo em que leciona uma das aulas mais concorridas na Universidade de Harvard, Achor também trabalha com grandes empresas, escolas e hospitais pelo mundo. Ele conta que um dos trabalhos que mais o surpreendeu foi realizado durante a crise financeira juntamente com os professores Ali Crum, da Universidade Stanford, e Peter Salovey, presidente da Universidade de Yale.
A missão era reduzir o estresse de funcionários do banco UBS. "Descobrimos que a mentalidade sobre o estresse importa mais do que quantidade de estresse em termos de efeitos sobre a saúde". O resultado foi que, após o treinamento para as pessoas encararem o estresse de forma positiva – como um desafio e não como uma ameaça –, os efeitos do estresse caíram 23% num período de duas semanas.
Dentro ou fora?
Voltando à questão de por que alguns parecem ser mais felizes do que outros, Elaine diz que estudos na área sugerem que fatores externos como sobrevivência digna, relação amorosa estável e relação social significativa representam de 10% a 20% da sensação de bem-estar. Já a personalidade, ou seja, características herdadas e desenvolvidas a partir de experiências, é responsável por cerca de 50% pela felicidade de uma pessoa. O restante vem de comportamentos cognitivos - atividades positivas ou negativas. "É claro que se uma pessoa mora em uma área de alta vulnerabilidade, os fatores externos podem ter um impacto maior". diz a pesquisadora.
Mas, mesmo em condições de risco, ambos lembram casos de estudos em que o bem-estar era maior se houvesse um dos fatores como gratidão ou conexões sociais fortes. Elaine lembra que, em 2010, um estudo na Itália reuniu dois grupos de alunos de uma escola pública em situação de vulnerabilidade. Uma das turmas escreveu cartas de gratidão e o outro apenas relatava o que tinha acontecido em seu dia. "Houve melhora de rendimento escolar e redução de conflito no primeiro grupo", diz a psiquiatra.
Achor trabalhou com agricultores que haviam perdido suas terras no Zimbábue e pessoas sob ameaça de sequestro na Venezuela, ambos com fortes conexões sociais. E relata que eles conseguiram manter um nível maior de otimismo e felicidade do que banqueiros, consultores e vendedores que estão na estrada o tempo e têm trabalhos longe de suas famílias.
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