Falta pouco, acho eu, para que a verdadeira natureza do chamado "petrolão" venha à luz, a despeito do esforço de alguns savonarolas que gostariam de enterrar o capitalismo junto com o combate à corrupção, mal que consideram inerente a esse sistema.
Às vezes, tenho a impressão de que o Brasil acabará abrigando os últimos esquerdistas do mundo em posições, como direi?, de cátedra. E é muito provável, vamos ver, que a verdade venha à luz como decorrência do esforço do bom jornalismo, não das delações premiadas, cuja narrativa vai sendo ajustada segundo a vontade dos narradores.
Pequena digressão: como ignorar que a metafísica influente da Operação Lava Jato traz consigo o financiamento público de campanha, o fim da doação de empresas a partidos, a demonização da iniciativa privada e o ódio ao lucro? Parte dessa agenda, vejam que coisa pouco curiosa!, coincide com a do PT. O fato de a dita operação ter aspectos saneadores não pode matar o espírito crítico do observador. A ideologia, como sempre, é uma leitura interessada –pouco importa a natureza do interesse– da verdade.
Se a nossa academia não estivesse, com as exceções honrosas de sempre, ocupada com irrelevâncias, eis aí um vasto estudo: qual é a mentalidade dos homens que compõem a força-tarefa de Curitiba? Quais são suas utopias? Quais são seus valores? Como veem as garantias individuais oferecidas pelos regimes democráticos? O que pensam da atividade política? Eu não tenho dúvida de que isso renderia um estudo formidável da mentalidade plasmada nos meios jurídicos nos últimos 30 anos.
O processo do mensalão mandou, sim, alguns figurões para a cadeia, rompeu um círculo de impunidade que se dava, então, como certo e pode, sem favor, ser considerado um marco, dado o que se tinha até então. Mas seu desfecho também coonestou uma farsa, de que as severas condenações da banqueira Kátia Rabello e do publicitário Marcos Valério são emblemas. A julgar pelas penas amargadas pelas personagens daquele escândalo, tem-se a impressão de que a dupla estava no comando. Estava?
Se não entendi errado –e me impressiona que a fala tenha repercutido tão pouco–, o deputado Miro Teixeira (Pros-RJ) relatou a esta Folha, na segunda, em entrevista a Leonardo Souza, ter assistido ao momento inaugural do mensalão, quando, nas suas palavras, o governo Lula decidiu, em 2003, que "'aquele Congresso burguês' poderia ter uma maioria organizada por orçamentos". Notem: ele fala em "orçamentos", com letra minúscula e no plural. Não tenho dúvida de que Miro assistiu ao nascimento de um crime de responsabilidade, que passou impune.
O petrolão é a versão vitaminada do mensalão, cuja natureza se perdeu de forma miserável. Tratou-se ali de um assalto ao Estado de Direito e à institucionalidade, de uma afronta à independência entre os Poderes, de uma agressão aos mais comezinhos princípios republicanos. E não se organiza uma máquina como essa sem um comando claro e um centro de operações.
É a essa natureza do petrolão que a Operação Lava-Jato ainda não chegou. É essa essência que pode ficar escondida nas dobras da ideologia se o jornalismo não fizer direito o seu trabalho. Mas eu expresso a convicção de que fará e de que, desta vez, será possível chegar ao chefe e revelar o seu crime mais grave: o assalto à democracia.
Às vezes, tenho a impressão de que o Brasil acabará abrigando os últimos esquerdistas do mundo em posições, como direi?, de cátedra. E é muito provável, vamos ver, que a verdade venha à luz como decorrência do esforço do bom jornalismo, não das delações premiadas, cuja narrativa vai sendo ajustada segundo a vontade dos narradores.
Pequena digressão: como ignorar que a metafísica influente da Operação Lava Jato traz consigo o financiamento público de campanha, o fim da doação de empresas a partidos, a demonização da iniciativa privada e o ódio ao lucro? Parte dessa agenda, vejam que coisa pouco curiosa!, coincide com a do PT. O fato de a dita operação ter aspectos saneadores não pode matar o espírito crítico do observador. A ideologia, como sempre, é uma leitura interessada –pouco importa a natureza do interesse– da verdade.
Se a nossa academia não estivesse, com as exceções honrosas de sempre, ocupada com irrelevâncias, eis aí um vasto estudo: qual é a mentalidade dos homens que compõem a força-tarefa de Curitiba? Quais são suas utopias? Quais são seus valores? Como veem as garantias individuais oferecidas pelos regimes democráticos? O que pensam da atividade política? Eu não tenho dúvida de que isso renderia um estudo formidável da mentalidade plasmada nos meios jurídicos nos últimos 30 anos.
O processo do mensalão mandou, sim, alguns figurões para a cadeia, rompeu um círculo de impunidade que se dava, então, como certo e pode, sem favor, ser considerado um marco, dado o que se tinha até então. Mas seu desfecho também coonestou uma farsa, de que as severas condenações da banqueira Kátia Rabello e do publicitário Marcos Valério são emblemas. A julgar pelas penas amargadas pelas personagens daquele escândalo, tem-se a impressão de que a dupla estava no comando. Estava?
Se não entendi errado –e me impressiona que a fala tenha repercutido tão pouco–, o deputado Miro Teixeira (Pros-RJ) relatou a esta Folha, na segunda, em entrevista a Leonardo Souza, ter assistido ao momento inaugural do mensalão, quando, nas suas palavras, o governo Lula decidiu, em 2003, que "'aquele Congresso burguês' poderia ter uma maioria organizada por orçamentos". Notem: ele fala em "orçamentos", com letra minúscula e no plural. Não tenho dúvida de que Miro assistiu ao nascimento de um crime de responsabilidade, que passou impune.
O petrolão é a versão vitaminada do mensalão, cuja natureza se perdeu de forma miserável. Tratou-se ali de um assalto ao Estado de Direito e à institucionalidade, de uma afronta à independência entre os Poderes, de uma agressão aos mais comezinhos princípios republicanos. E não se organiza uma máquina como essa sem um comando claro e um centro de operações.
É a essa natureza do petrolão que a Operação Lava-Jato ainda não chegou. É essa essência que pode ficar escondida nas dobras da ideologia se o jornalismo não fizer direito o seu trabalho. Mas eu expresso a convicção de que fará e de que, desta vez, será possível chegar ao chefe e revelar o seu crime mais grave: o assalto à democracia.
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