Ed Ferreira/Folhapress | |
Os ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) durante anúncio da meta fiscal |
Logo pela manhã desta quinta-feira (23), assessores dos ministérios do Planejamento e da Fazenda entraram em ação e começaram a ligar para economistas de bancos nacionais e estrangeiros com a mensagem de que a redução da meta não significa "afrouxamento nem abandono do ajuste fiscal".
Ao final da tarde, já com o mercado no Brasil fechado, foi a vez de o Joaquim Levy (Fazenda) entrar em campo. Ele participou de uma conferência por telefone organizada pelo banco JPMorgan com economistas e investidores brasileiros e estrangeiros.
Na conferência, que teve mais de 1.400 participantes, Levy justificou a redução da meta diante do cenário de forte retração das receitas e frisou que ela não alterará de forma significativa a dinâmica da dívida do país.
Para ele, as agências de classificação de risco percebem que o país tem capacidade de lidar com os problemas com "vigor e realismo" necessários para garantir a retomada do crescimento.
"A beleza da economia brasileira é a capacidade de reagir e reagir rapidamente."
Em seus contatos, as equipes de Levy e Nelson Barbosa (Planejamento) buscavam ressaltar que o governo está sendo "transparente" e "realista", evitando um "tom otimista" descolado da realidade.
Um dado era enfatizado nas conversas, que o governo, mesmo reduzindo a meta de superavit primário de 1,1% para 0,15%, fez um novo corte de despesas de R$ 8,6 bilhões, o que sinaliza, segundo os assessores, um "compromisso" com o reequilíbrio das contas públicas.
Dentro da estratégia de acalmar o mercado, Barbosa estará nesta sexta-feira (24) em São Paulo para conversas com economistas de bancos e consultorias para explicar os ajustes no superavit.
IMAGEM DE LEVY
Além de garantir que o Brasil segue comprometido com o ajuste fiscal, outra preocupação do governo era evitar que prosperasse a imagem de que Levy saiu derrotado na definição da nova meta.
O ministro da Fazenda passou as últimas semanas defendendo a importância de manter ou fazer a menor redução possível da meta. Neste ponto, perdeu a disputa, pois prevaleceu a posição do Barbosa, que defendia a redução imediata do superavit.
A presidente Dilma tomou a decisão na última terça-feira (21). Até então, ela pensava em bancar uma redução menor como defendia Levy. Mudou de ideia depois de ser apresentada aos dados de queda acentuada da receita.
Segundo assessores, a presidente não queria estar exposta a novos questionamentos, como os do TCU (Tribunal de Contas da União), de que o governo faz manobras em suas contas para melhorá-las artificialmente.
Levy até tentou garantir uma meta maior propondo um corte mais forte de gastos e mais medidas de geração de receitas. Foi convencido, porém, de que as propostas não eram viáveis neste momento.
ENTENDA A NOVA META FISCAL
1. O que é a meta fiscal?
A poupança prometida pelo governo para controlar a dívida pública
2. Por que ela foi cortada?
A meta levava em conta estimativas feitas em 2014 para receita e gastos, mas a arrecadação está muito menor e as despesas subiram
3. O corte era obrigatório?
Pela lei, a cada bimestre é preciso reavaliar a receita e ajustar as despesas para assegurar a poupança prometida. A reavaliação deve ser submetida ao Congresso
4. Qual a consequência da meta menor?
O país não conseguirá economizar o suficiente para evitar que a dívida pública cresça.
Normalmente, uma meta menor indica mais espaço para gastos do governo.
Mas a equipe econômica anunciou que fará cortes extras de R$ 8,6 bi
5. Como isso afeta o país?
No curto prazo, mais cortes afetam obras e serviços públicos. A atividade do país levará ainda mais tempo para se recuperar. A poupança menor do governo elevará a dívida pública
6. O que acontece se a dívida do Brasil aumenta?
Agências que avaliam a capacidade de pagamento de devedores reduzem as notas do Brasil, e os juros precisam subir para compensar um risco considerado maior
7. Por que o dólar subiu e a Bolsa caiu?
Porque cresce a dúvida sobre a capacidade de recuperação da economia do país. Como os juros devem subir, haverá menos investimentos. Além disso, se a nota do país cair, grandes fundos internacionais ficarão impedidos de investir aqui e tirarão dólares. A procura maior que a oferta faz a cotação da moeda subir
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POLÍTICA E ECONOMIA