sexta-feira, 31 de julho de 2015

Tempo perdido


SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff desperdiçou nos últimos dias todas as chances que teve para desanuviar o ambiente político e construir uma saída para a crise em que seu governo está mergulhado.

Quando decidiu reduzir a meta fiscal deste ano, Dilma poderia ter aproveitado a ocasião para uma conversa franca com o país, sobre os erros cometidos na condução da economia, as dificuldades atuais e o futuro. Em vez disso, mandou os ministros da área econômica explicarem a medida e deixou crescer a impressão de que eles não se entendem muito bem, contribuindo para pôr em xeque a credibilidade de sua equipe.

Um dia depois, quando a Folha revelou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscara uma aproximação com seu antecessor, o tucano Fernando Henrique Cardoso, Dilma autorizou o ministro Edinho Silva a expressar entusiasmo pelo movimento e sugerir seu interesse em participar da conversa. Assim que petistas e tucanos bombardearam a iniciativa, Dilma achou melhor recuar e criticou a manifestação do ministro, como se nada tivesse com ela.

A presidente resolveu então chamar os governadores dos Estados para um encontro em Brasília. Antes de definir com clareza a pauta e os objetivos da reunião, deixou que versões contraditórias sobre suas intenções proliferassem. Todo mundo entendeu o convite como uma tentativa de Dilma de encontrar sócios para administrar a crise, pela qual nenhum deles se sente responsável.

Em seu discurso na abertura da reunião, a presidente afirmou que a economia voltará a crescer antes do que os pessimistas imaginam, que o crédito voltará a ser abundante, e que está preparando o país para um novo ciclo de expansão do consumo.

Com um discurso tão irrealista como esse, o mais provável é que a encenação promovida por Dilma sirva apenas para reduzir ainda mais sua credibilidade como interlocutora, uma das razões que têm alimentado a crise que seu governo atravessa.

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