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Plataforma da Petrobras |
A Petrobras está substituindo fornecedores locais abatidos pela Operação Lava Jato por empresas estrangeiras, principalmente chinesas, na construção de plataformas para o pré-sal.
Segundo a Folha apurou, três estaleiros —Integra, Rio Grande e Enseada— transferiram parte de suas obras para a China, com aval da Petrobras, por falta de fôlego financeiro. O contrato com a Iesa foi rompido e relicitado.
Petrobras transfere obras para a China
O objetivo da troca de fornecedores é evitar mais atrasos na entrega de um pacote de dez plataformas, que serão instaladas em campos estratégicos do pré-sal, como Lula, Búzios e Tupi.
Se houver mais problemas, a meta de produção da empresa —que foi reduzida no último plano de negócios para 2,8 milhões de barris por dia em 2020— correrá risco.
Para representantes da indústria naval, a ida dos projetos para a China vai agravar a crise do setor, que já demitiu 14 mil pessoas neste ano.
Os chineses estão conquistando os contratos por sua agressividade nos preços. Alguns negócios chegam a ser fechados por 20% a menos do que seria pago para o fornecedor brasileiro.
Nos últimos meses, a Petrobras recebeu cerca de US$ 10 bilhões de bancos chineses, que funcionaram como um "colchão" para sua grave crise financeira. A estatal, no entanto, nega que exista qualquer contrapartida nos empréstimos.
LAVA JATO
A situação dos estaleiros nacionais se agravou depois que seus acionistas, que já não tinham expertise no setor de petróleo, foram envolvidos na Lava Jato.
O caso mais grave é o da Iesa, que entrou em recuperação judicial no ano passado. O contrato foi rompido, prejudicando as médias empresas que forneciam insumos para o estaleiro.
A Iesa tinha se comprometido a construir módulos para seis plataformas. Uma delas, a P-66, está parada em Angra dos Reis (RJ), faltando apenas os equipamentos encomendados à empresa.
Depois de atrasos sucessivos e operações de "salvamento" malsucedidas, Iesa e Petrobras se desentenderam e brigam na Justiça pelo espólio da obra.
A Petrobras acaba de concluir a relicitação, que, segundo a Folha apurou, foi vencida pela chinesa Cosco e pela tailandesa BJC.
Outros contratos também foram repassados total ou parcialmente para chineses, com anuência da Petrobras. Nesses casos, os compromissos com pequenos fornecedores locais são mantidos.
A Integra, formada por OSX e Mendes Junior, repassou recentemente a obra de montagem de duas plataformas para a chinesa Cooec, com aval da Petrobras.
O consórcio começou a ter problemas depois que a OSX foi arrastada pela quebradeira do empresário Eike Batista e acabou de se desintegrar com a crise da Mendes Junior, envolvida na Lava Jato.
Na construção dos cascos das plataformas, há problemas em quase todos os contratos. Apenas três estão perto de ser finalizados.
Os estaleiros Enseada (Odebrecht, OAS e UTC) e Rio Grande (Engevix) já repassaram outros três cascos para os chineses da Cosco.
Ainda não há definição sobre o futuro dos últimos quatro. A Petrobras negocia uma maneira de pagar diretamente aos fornecedores de Rio Grande para manter as obras.
O objetivo é dar uma sobrevida ao estaleiro até a entrada de um sócio. Os mais cotados são chineses e sul-coreanos, que podem acabar levando o projeto para fora.
CONTEÚDO LOCAL
Para analistas, os atrasos nas entregas dessas plataformas, que já chegam a mais de um ano, são uma prova das dificuldades provocadas pela exigência de conteúdo local estabelecida a partir do governo Lula.
Segundo apurou a Folha, a estatal espera manter o conteúdo local em 60%, apesar da transferência de parte das obras para o exterior. A exigência da ANP é 30%.
Procurados, os estaleiros não deram entrevista. A Petrobras informou que "sempre busca as melhores condições de custos e prazos" para atingir suas metas de produção e que "procura cumprir as metas de conteúdo local estabelecidas pela lei".
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