A Polícia Federal deflagrou na manhã desta terça-feira (28) a 16ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Radioatividade.
O foco das investigações desta fase são contratos firmados por empresas
envolvidas na Lava Jato com a Eletronuclear, as obras da usina nuclear
Angra 3 e pagamentos de propina a funcionários da estatal.
Os agentes cumprem 30 mandados judiciais, sendo dois de prisão
temporária e cinco de condução coercitiva. Eles acontecem em Brasília,
São Paulo, Rio de Janeiro, Niterói e Barueri.
Entre os presos está o presidente licenciado da Eletronuclear,
subsidiária da Eletrobras, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva.
Ele pediu o afastamento do cargo em abril, após virem à tona notícias de
que ele teria recebido propina nas obras da usina nuclear de Angra 3.
Parte das revelações foram feitas na delação premiada de Dalton Avancini, ex-presidente da Camargo Corrêa. O almirante nega ter recebido pagamentos indevidos.
Segundo a PF, ele recebeu R$ 4,5 milhões em propinas entre 2009 e 2014.
Em entrevista coletiva na manhã desta terça, o procurador federal
Athayde Ribeiro Costa disse que o pagamento de propinas continuou a
ocorrer mesmo após a prisão dos primeiros executivos no âmbito da
Operação Lava Jato. "A corrupção no Brasil é endêmica e está em processo
de metástase", disse.
A outra prisão temporária foi de Flávio David Barra, executivo da
Andrade Gutierrez responsável por representar a empresa no consórcio de
Angra 3.
Em nota, a construtora disse que "sempre esteve à disposição da Justiça" e só vai se pronunciar após seus advogados analisarem os termos da ação da Polícia Federal.
Eles serão levados à sede da PF em Curitiba, onde deverão chegar na
noite desta terça, por volta das 20h30. Os mandados de prisão têm
validade de cinco dias.
Já os mandados de busca e apreensão acontecem contra Ricardo Ourique
Marques, Renato Ribeiro Abreu, Petrônio Braz Junior (executivo da
Queiroz Galvão), Othon Luiz Pinheiro da Silva, Maria Célia Barbosa da
Silva, Flavio David Barra, Fabio Andreani Gandolfo (executivo da
Odebrecht), Luiza Barbosa da Silva Bolognani, Ana Cristina da Silvia
Toniolo, Ricardo Ourique Marques (executivo da Techint Engenharia e
Construção).
Os mandados ainda atingem as empresas Eletronuclear, Aratec Engenharia Consultoria e Representações.
Outro alvo da operação foi o escritório do engenheiro Marques, diretor
da Techint Engenharia e Construção, uma das empresas beneficiadas na
licitação da usina Angra 3.
Há cerca de dois meses, ele declarou à Polícia Federal que se reuniu em
2010 com Wilson Carlos Cordeiro da Silva Carvalho, assessor financeiro
do então governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB-RJ) –que se
candidatou à reeleição naquele ano– e com o diretor de Abastecimento da
Petrobras à época, Paulo Roberto Costa. Segundo Marques, eles pediram
recursos para a campanha de Cabral.
O engenheiro foi ouvido na Polícia Federal em maio, pelo delegado Milton
Fornazari, que está à frente do inquérito do Superior Tribunal de
Justiça que investiga o envolvimento de Cabral e de seu sucessor, o
atual governador Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ) no escândalo do Petrolão.
16ª fase da Operação Lava Jato
ELETROBRAS
A Eletrobras tem papéis na Bolsa de Nova York, onde é obrigada a prestar
informações detalhadas de suas contas. Em abril, a estatal anunciou que
não publicaria seu balanço nos EUA devido ao envolvimento na Lava Jato.
Isso causou uma perda nas ações da companhia, o que levou investidores a
preparar um processo contra a empresa.
O atraso na divulgação dos números se deve à necessidade de uma
auditoria interna após o depoimento à Justiça do ex-presidente da
Camargo Corrêa Dalton Avancini.
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa também
sustenta que, a exemplo do que ocorria na Petrobras, empresas privadas
também formaram cartéis para atuar em outras áreas
do governo: "Eletrobras, construção de hidrelétricas, portos e
aeroportos", elencou, em delação premiada, reafirmando o que já havia
dito à CPI da Petrobras.
A Eletrobras percorre agora o mesmo caminho da Petrobras, pivô do
esquema investigado pela Lava Jato. A Petrobras demorou cinco meses para
publicar seu balanço nos EUA, até que uma auditoria interna chegasse ao
valor de perdas sofridas com a corrupção (R$ 6,3 bilhões).
Desde o final do ano passado, a Petrobras foi alvo de cinco ações
coletivas de indenização nos Estados Unidos (mais tarde unificadas),
além de ações individuais de fundos de investimento.
LAVA JATO
Com início em um posto de gasolina –de onde surgiu seu nome–, a Operação Lava Jato,
deflagrada em março de 2014, investiga um grande esquema de lavagem e
desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras do país e
políticos.
A 15ª fase da operação aconteceu no início do mês de julho e foi
intitulada Conexão Mônaco, em referência a operações financeiras do
ex-diretor no principado de Mônaco. Na ocasião, foi preso preventivamente o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Jorge Zelada.
São poucos os políticos que acredito que não estejam envolvidos, e o Pezão é um deles. Não acho que ele tenha feito parte desse esquema, porque apesar de tudo ele está fazendo um bom trabalho no Rio.
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