sábado, 25 de julho de 2015

Suspeita de propina corrói apoio de Cunha na oposição

 Afinados com Eduardo Cunha (PMDB-RJ) desde que ele derrotou o governo Dilma Rousseff e o PT e assumiu a presidência da Câmara, em fevereiro, os partidos de oposição adotaram nos últimos dias, em sua quase totalidade, uma posição crítica ou de distanciamento cautelar em relação ao peemedebista.

A notícia de que o lobista Julio Camargo agora acusa Cunha de ter recebido US$ 5 milhões em propina e os rumores da iminente denúncia que será feita contra ele pela Procuradoria-Geral da República levaram os principais adversários da presidente Dilma a evitar abordar o tema, à espera dos desdobramentos.

A reação difere consideravelmente da de março, quando Cunha foi listado como um dos investigados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) sob suspeita de ter relação com o esquema de corrupção na Petrobras. Quatro siglas oposicionistas o apoiavam abertamente na ocasião. Agora, a defesa pública se resume ao Solidariedade.

No depoimento que prestou espontaneamente à CPI da Petrobras, em 12 de março, Cunha foi defendido de forma quase unânime, até por integrantes do PT.

Naquele depoimento, PSDB, DEM, PSB e Solidariedade manifestaram crença em sua inocência. Os outros dois oposicionistas, PPS e PSOL, embora não tenham passado um "cheque em branco", não o criticaram.

A dobradinha Cunha-oposição foi a principal responsável pelas sucessivas derrotas de Dilma Rousseff no plenário da Câmara.

Após a notícia da suposta propina de US$ 5 milhões, a defesa pública de Cunha na oposição ruiu. À exceção do Solidariedade, os demais oposicionistas ou pedem o seu afastamento do comando da Câmara (PPS e PSOL) ou usam o discurso de que tudo deve ser investigado.

Na sessão de março, o PSDB de Aécio Neves foi um dos mais efusivos na defesa de Cunha. "Se o sr. [Júlio] Camargo não confirma isso em sua delação, é mais um ponto favorável. (...) Na minha concepção, Vossa Excelência não perde, em momento algum, a autoridade que tem para presidir esta Casa", disse o líder da bancada tucana, Carlos Sampaio (SP).

Bruno Araújo (PSDB-PE), que lidera a bancada da oposição na Câmara, foi além: "Vossa excelência é hoje mais presidente do que às vésperas da divulgação dessa lista [do STF]".

O líder da bancada do PT, Sibá Machado (AC), se juntou ao coro: "Presidente Eduardo Cunha, confio nas suas palavras", afirmou o petista.

Julio Delgado recorreu à máxima do joio e do trigo. "Eu acho que vossa excelência não tem nenhum envolvimento nesse sistema mesmo. (...) Vamos ter que ter muita paciência na apuração de tudo, para separar o joio do trigo. (...) Tenho certeza que vossa excelência seja trigo."

REQUERIMENTOS

Além de o lobista Júlio Camargo ter mudado sua delação para incriminar Cunha, a Folha revelou que o nome de Cunha aparece como real autor de arquivos onde foram redigidos requerimentos na Câmara que serviram, supostamente, para achacar fornecedores da Petrobras.

"O que eu achava naquele dia [que ele não tinha envolvimento], eu posso dizer que hoje eu não acho mais. Isso tudo tem que ser apurado", afirmou o deputado Júlio Delgado nesta semana.

O PSDB tem evitado abordar o tema. Em conversas reservadas, Aécio recomenda que o partido não assuma uma posição precipitada. Na única declaração que deu sobre o caso, o tucano disse, via assessoria, que "todas as denúncias têm que ser investigadas, respeitado o amplo direito de defesa".

Uma das linhas de colisão entre Cunha e o PSDB é o ataque frontal feito pelo presidente da Câmara contra o Ministério Público, que ele acusa de querer prejudicá-lo politicamente. "O PSDB nem condena [suspeitos], nem adota essa linha de confrontação com as instituições", afirma o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), um dos mais próximos a Aécio.

Para o líder da bancada do DEM, Mendonça Filho (PE), Cunha não pode nem "ser condenado antecipadamente", nem ser "simplesmente blindado e não investigado". Ele diz, porém, não ver razão para afastamento do cargo. 




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