A megaoperação da Polícia Federal hoje prendendo o ex-diretor da Petrobras Renato Duque
e diretores de empreiteiras estreladas confirmam que o final do
primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff terá um clima de
“tempestade perfeita”, com muitos fatos negativos acontecendo ao mesmo
tempo.
Para azar do PT e sorte do PSDB, as ações da PF estão
coincidindo com um ato tucano pró-Aécio Neves em São Paulo, o maior
reduto de oposição petista no país.
Aliás, Dilma Rousseff está
fazendo na economia quase tudo aquilo que afirmou que seu adversário
(Aécio Neves) faria se fosse eleito. Os juros aumentaram. O preço dos
combustíveis foi reajustado. E a inflação continua a não dar sinais
claros de que esteja mesmo controlada.
No Congresso, a presidente enfrenta o risco real de um de seus maiores desafetos, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ser eleito presidente da Câmara. Como se sabe, a porta de entrada de pedidos de impeachment presidencial é o guichê comandado pela Câmara.
Uma
das petistas mais ilustres do país, Marta Suplicy, passou metade de
2014 dizendo que Luiz Inácio Lula da Silva seria um candidato a
presidente melhor do que Dilma Rousseff. Nesta semana, Marta pediu demissão de maneira estrepitosa
de seu cargo de ministra da Cultura –agora vai ser uma “petista de
oposição” no Senado, onde ainda desfruta de mais 4 anos de mandato.
A
presidente da República –que no momento está na reunião do G20, na
Austrália– terá pela frente dias e dias de noticiário sobre mais um
ex-diretor da Petrobras preso, junto com vários diretores de empreiteiras conhecidas pela generosidade ao fazerem doações de campanha.
Nem
a aparição de algum político ligado a partidos de oposição no meio da
Operação Lava Jato amenizará de forma significativa o impacto sobre o PT
e o governo federal. Os petistas comandam o país e a Petrobras há 12
anos. Nada justifica falar que “tudo começou no passado”. Até porque, se
assim o foi, houve tempo mais do que suficiente para higienizar a maior
estatal brasileira.
Tudo considerado, é uma tempestade perfeita
para Dilma Rousseff. Terá de compor um governo em meio a uma situação
econômica ruim, um clima político instável e poucas perspectivas de
reversão do cenário no curto prazo.
Economia capenga e política em
polvorosa se retroalimentam. Dilma terá de fazer mais política do que
nunca fez até agora, com muito vigor, para consertar o quadro
Dilma será a presidente da República que começará um mandato da maneira mais frágil em muitas e muitas décadas.
HISTÓRICO DAS TRANSIÇÕESNunca
na volta do país à democracia houve uma transição em meio a um cenário
tão negativo como o atual, sobretudo no campo das perspectivas futuras.
Pode-se
argumentar que em 1989 o país está em frangalhos, com hiperinflação e
um grande descrédito na política tradicional. Mas a eleição de Fernando
Collor dava ao eleito o poder de fazer quase tudo –como acabou fazendo– e
havia uma certa esperança no ar, pelo desejo dos brasileiros em conter a
alta de preços e de abrir o país à competição externa.
Em 1994 e
1998, com Fernando Henrique Cardoso, também houve esperança, em tons
diferentes. Quando o tucano foi eleito, o Plano Real empurrou o país
para a frente. Na reeleição, havia apreensão e um pouco de baixo astral,
mas a oposição ainda era comandada pelo “Lula 1.0”, com discurso
vitriólico e pré-carta ao povo brasileiro (que só veio em 2002). Muitos
se decepcionaram com o voto dado a FHC em 1998, pois o país entrou numa
barafunda econômica em 1999 –mas poucos achavam que Lula teria feito
melhor, naquela época.
Em 2002, Lula foi o candidato que fez a
esperança vencer o medo. Começou seu mandato muito forte. Em 2006,
apesar do mensalão do ano anterior, o petista foi reeleito porque as
políticas sociais davam certo, o Brasil crescia a um ritmo acelerado. No
começo de 2007, a popularidade de Lula continuou a subir e nunca mais
parou.
Em 2010, com mais de 80% de aprovação para seu governo e
uma economia bombando com crescimento de 7,5%, Lula fez com extrema
facilidade a sua sucessora, Dilma Rousseff.
Agora, o cenário é
completamente diferente. Como disse-me um integrante do governo federal
petista nesta semana: se o 2º turno da eleição presidencial tivesse sido
nas primeiras semanas de novembro, certamente a chance de Aécio Neves
(PSDB) ter vencido seria muito maior. E concluiu: “Acho que ele teria
sido o vencedor”.
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POLÍTICA E ECONOMIA