Investigadores da Operação Lava Jato dizem que o advogado Tiago Cedraz teve uma atuação discreta e cuidadosa dentro do esquema de corrupção da Petrobras.
Filho do presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), ministro Aroldo Cedraz, Tiago é suspeito de tráfico de influência e de receber propina do empreiteiro Ricardo Pessoa, o dono da UTC que fez acordo de delação premiada com a Justiça.
Segundo pessoas próximas à investigação, Tiago se preocupava em não registrar suas entradas no prédio da UTC. Também costumava retirar as baterias do celular durante as conversas. Isso, em tese, impediria que um eventual investigador acompanhasse suas conversas com algum tipo de dispositivo espião instalado em seu aparelho.
Ruy Baron/Valor/Folhapress | |
O advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do TCU, Aroldo Cedraz, alvo da Operação Lava Jato |
Os cuidados para tentar se manter nas sombras, no entanto, teriam esbarrado no perfil organizado de Pessoa.
Em seu acordo de delação, o empreiteiro repassou aos investigadores cópia de sua agenda mostrando todos os encontros com Tiago.
Tratado como chefe do cartel de empreiteiras que participava dos desvios da Petrobras, Pessoa contou que o advogado tratava de interesses da empresa no TCU. Afirmou que desembolou R$ 1 milhão para Tiago ajudar na liberação do processo licitatório de Angra 3, obra que estava sendo analisada pelo tribunal.
Também afirmou que fazia repasses mensais de R$ 50 mil para o advogado. As entregas, disse, eram feitas para um sócio de Tiago.
Há indícios de que o filho do presidente do TCU pode ainda ter tentado influenciar ações do tribunal na Operação Voucher da Polícia Federal, que investigou um suposto esquema de desvio de verbas repassadas por convênios do Ministério do Turismo.
Outros relatos apontam que o doleiro Alberto Youssef teria mandado um emissário fazer duas entregas de dinheiro no escritório de Tiago.
A casa e o escritório do advogado foram alvo de busca e apreensão da PF na semana passada. Investigadores não descartam que ele seja alvo de um inquérito no Supremo para apurar seu envolvimento no esquema.
A eventual participação de ministros do TCU no esquema de corrupção ainda está sendo analisada. Investigadores avaliam se Aroldo Cedraz repassou informações do caso ao filho.
O foco sobre os ministros do TCU é especialmente importante, já que são eles que irão julgar as contas de 2014 do governo Dilma, ato que, dependendo do resultado, poderá fortalecer os movimentos pelo impeachment.
OUTRO LADO
O presidente do TCU e seu filho negam que tenham participado do processo da usina de Angra 3.
Em nota divulgada à imprensa, o escritório Cedraz Advogado Associados afirmou que nunca atuou para o grupo UTC perante o TCU e que pautava sua atuação "pelo rigoroso cumprimento da legislação vigente, resultando inclusive a observância dos devidos impedimentos".
O escritório afirma ainda que Tiago Cedraz vai processar Ricardo Pessoa "pela mentiras lançadas no bojo de uma delação premiada".
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