Paulo Lisboa - 20.jun.15/Folhapress | |
O presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht chega ao IML para realização de exame de corpo delito |
Promotores peruanos planejam visitar o Brasil ainda em julho para reunir
evidências sobre supostas práticas de suborno ligadas a um projeto
viário transcontinental. A afirmação, do procurador-geral do Peru, dá
uma dimensão regional a um dos maiores escândalos da história do país.
A missão apresentada pelo procurador-geral peruano, Pablo Sánchez, é o
sinal público mais aparente de uma cooperação internacional sobre um
caso que levou à prisão chefes de grandes grupos brasileiros do setor de
construção, à medida que a polícia vasculha registros em busca de
provas sobre formação de cartel em obras da Petrobras.
Nesta segunda-feira (20), por exemplo, ex-executivos da Camargo Corrêa foram condenados no âmbito da Operação Lava Jato. Executivos da Odebrecht, incluindo seu presidente, Marcelo Odebrecht, foram indiciados por suspeita de corrupção.
O interesse regional na investigação aumentou no mês passado, quando a Polícia Federal prendeu o presidente do grupo Odebrecht,
maior construtora da América Latina. A prisão do executivo colocou
bilhões de dólares em projetos de infraestrutura sob escrutínio por toda
a região.
O Equador iniciou auditorias de contratos da companhia. O
vice-presidente da Colômbia alertou que a empresa poderia ser proibida
de participar de concorrências públicas por décadas. Investigadores nos
Estados Unidos e no Panamá também têm colaborado com autoridades
brasileiras.
As investigações alarmaram as bem-conectadas construtoras do Brasil, que
têm superado rivais chinesas e europeias em megaprojetos de
infraestrutura e energia na América Latina.
BATALHA
Nenhuma dessas empresas tem um perfil regional mais ativo do que o da
Odebrecht, que é responsável por quase três quartos das construções de
infraestrutura feitas por empresas brasileiras no exterior. Seus
projetos incluem um porto em Cuba, metrôs na Venezuela e até mesmo uma
estátua em Lima que lembra o Cristo Redentor do Rio de Janeiro.
"A mensagem que o Brasil está dando com uma investigação desta escala, e
que vai ecoar se encontrarmos provas aqui, é uma clara batalha contra
corrupção na região. Quem quer que seja derrubado com isso", disse
Sánchez em entrevista à Reuters.
Ele acrescentou que sua equipe planeja entrevistar testemunhas e estudar
documentos reunidos por investigadores brasileiros em Curitiba.
Promotores peruanos foram motivados por alegações que surgiram na
imprensa local no mês passado –citando relatórios da polícia brasileira–
a respeito de subornos pagos por executivos de construtoras para
inflacionar o custo de uma rodovia que liga a Amazônia brasileira a
portos no oceano Pacífico.
Sánchez não quis dar nomes de suspeitos no inquérito inicial de oito
meses. A rodovia foi construída por diversas das maiores empreiteiras
brasileiras, incluindo divisões locais de Odebrecht, Camargo Corrêa,
Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão.
As sedes das companhias foram vasculhadas desde o ano passado e seus
executivos, presos, como parte de uma investigação sobre supostos
subornos e cartel de preços em contratos firmados com a Petrobras.
Odebrecht, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão negaram em comunicados
terem participado em qualquer esquema de corrupção no Brasil ou no Peru.
O porta-voz da Odebrecht no Peru, Fernán Altuve, disse que a companhia
"deixará [investigadores] revirarem a casa de baixo para cima e checarem
sob quaisquer colchões caso necessário, porque tem certeza de que o
trabalho foi feito corretamente".
A Odebrecht acrescentou em seu comunicado que as alegações de suborno
sobre o projeto de rodovia do lado peruano foram focadas em obras de um
trecho da rota nas quais a companhia não participou.
A Camargo Corrêa afirmou que está colaborando com as investigações em
andamento, acrescentando em comunicado que "desenvolve esforços para
sanar irregularidades e aprimorar sua governança corporativa".
Os preços dos títulos dessas companhias despencaram por preocupações de
que elas possam pagar pesadas multas e perder acesso a valiosos
contratos públicos no Brasil. Os preços dos títulos da Odebrecht caíram
ainda mais nas últimas semanas devido às investigações que se espalham
pela América Latina, de acordo com operadores de mercado.
Cerca de 44% da receita do grupo, e de 70% de seus contratos de construção, estão fora do Brasil.
DIVISÕES ESTRANGEIRAS
A divisão peruana é a mais antiga operação da Odebrecht e a maior em
número de trabalhadores, mas a companhia possui outros fortes laços na
América Latina.
Na Colômbia, onde a Odebrecht venceu contratos para um projeto fluvial
de US$ 1 bilhão e para uma rodovia de US$ 2 bilhões, o vice-presidente,
Germán Vargas Lleras, disse a jornalistas em junho que a companhia seria
proibida de disputar contratos públicos por até 20 anos se for
condenada por corrupção.
No Equador, o controlador-geral anunciou no mês passado novas auditorias
em contratos da Odebrecht assinados nos últimos anos, os quais incluem
projetos hidrelétricos e de refino de petróleo.
A companhia disse em comunicado que Colômbia e Equador estão conduzindo auditorias de rotina, e não investigações formais.
COOPERAÇÃO
A procuradora-geral do Panamá, Kenia Porcell, disse à Reuters ter
recebido um pedido de cooperação de promotores brasileiros, mas
acrescentou que o Panamá não está conduzindo seu próprio inquérito sobre
a Odebrecht "neste momento".
Investigadores no Brasil também disseram estar trabalhando juntamente
com o Departamento de Estado norte-americano e com a comissão de valores
mobiliários dos EUA, a SEC. Nenhuma das agências comentou sobre
quaisquer investigações em andamento, e a Odebrecht disse não ter
recebido notificação formal a respeito de uma investigação ou
colaboração dos EUA.
Advogados especialistas em crimes de colarinho branco disseram que a
empreiteira, que tem uma subsidiária nos EUA e vende títulos em Nova
York, poderia ser processada sob a legislação anticorrupção
internacional americaa caso tenha pago suborno para autoridades públicas
em qualquer outro lugar.
Se acusada e condenada sob a legislação norte-americana, a companhia
poderia enfrentar duras multas e a possibilidade de perder acesso a
alguns contratos nos EUA, como uma arena de basquete em Miami e rodovias
no Texas e na Califórnia.
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OS CRIMES DOS EMPREITEIROS
Três ex-executivos da Camargo Corrêa foram condenados nesta segunda (20)ACUSAÇÃO: Executivos da Camargo Corrêa pagaram R$ 50 milhões em propina para a diretoria de Abastecimento da Petrobras, nas obras da Repar (Refinaria Getúlio Vargas, no RJ) e Refinaria Abreu e Lima (PE)
Pedro Ladeira - 20.mai.2015/Folhapress | |
Dalton Avancini - DELATOR | |
Cargo: ex-presidente da Camargo Corrêa | |
Pena: 15 anos e 10 meses + multa de R$ 1,2 milhão + R$ 2,5 milhões de indenização cível | |
Como cumprirá a pena: Em prisão domiciliar até mar.16, seguidos de, pelo menos, 2 anos no regime semiaberto diferenciado (obrigação de dormir em casa) com trabalho comunitário, com posterior progressão para o regime aberto |
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Pedro Ladeira - 20.mai.2015/Folhapress | |
Eduardo Leite - DELATOR | |
Cargo: ex-vice-presidente da Camargo Corrêa | |
Pena: 15 anos e 10 meses + multa de R$ 900 mil + R$ 5,5 milhões de indenização cível | |
Como cumprirá a pena: Em prisão domiciliar até mar.16, seguidos de, pelo menos, 2 anos no regime semiaberto diferenciado (obrigação de dormir em casa) com trabalho comunitário, com posterior progressão para o regime aberto |
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Pedro Ladeira - 20.mai.2015/Folhapress | |
João Ricardo Auler | |
Cargo: ex-presidente do conselho de administração da Camargo Corrêa | |
Pena: 9 anos e 6 meses + multa de R$ 288 mil | |
Como cumprirá a pena: Inicialmente, em regime fechado, podendo evoluir para o semiaberto após 1/6 da pena |
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Crimes: corrupção, lavagem de dinheiro e atuação em organização criminosa
h2. Também foram condenados:* Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras
* Alberto Youssef, doleiro
* Jayme de Oliveira Filho, funcionário de Youssef
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À ESPERA
Executivos que ainda serão julgados e quanto cada empreiteira pagou em propina, segundo o Ministério PúblicoEMPRESA | PROPINA PAGA | RÉUS |
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MENDES JÚNIOR | R$ 71,6 milhões | Sérgio Mendes, Rogério Cunha de Oliveira, Ângelo Alves Mendes, Alberto Vilaça Gomes, José Humberto Resende |
UTC | R$ 86,4 milhões | Ricardo Pessoa - DELATOR, João de Teive e Argollo |
OAS | R$ 29,3 milhões | Léo Pinheiro, Agenor Franklin Medeiros, Mateus Coutinho de Sá Oliveira, José Ricardo Nogueira Breghirolli, Fernando Andrade |
ENGEVIX | R$ 52,9 milhões | Gerson Almada, Carlos Eduardo Strauch, Newton Prado Jr., Luiz Roberto Pereira |
GALVÃO ENGENHARIA | R$ 46 milhões | Erton Medeiros Fonseca, Jean Alberto Luscher Castro, Dario Galvão Filho, Eduardo de Queiroz Galvão |
Foram indiciados pela PF:
ODEBRECHT- Marcelo Odebrecht
- Rogério Santos de Araújo
- Alexandrino Alencar
- Márcio Faria da Silva
- Cesar Ramos Rocha
- Otávio Marques de Azevedo
- Rogério Nora de Sá
- Flávio Lúcio Magalhães
- Antonio Campello de Souza
- Elton Negrão de Azevedo Jr.
- Lucélio Goes
- Paulo Dalmazzo*
* Paulo Dalmazzo é o único indiciado que não está preso
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