A velha cantilena usada de forma estridente pelo governo petista sempre
que se sente acuado já não surte efeito. Mais uma vez, o grito de guerra
de um hipotético complô contra o partido está em curso. A estratégia
tem uso recorrente. Em momentos distintos, já foi usada para atacar a
mídia, as elites intelectuais, os protestos de rua e por aí afora.
Nesse raciocínio, tudo o que contraria os interesses do PT é golpe. No
atual contexto, a imprensa divulga os escândalos do petrolão? Trata-se
da imprensa golpista. O TCU analisa as contas do governo Dilma? Para o
PT é golpe. O TSE investiga se houve recursos de propina na campanha da
presidente? Golpe de inconformados, dizem os petistas. A Polícia Federal
e o Ministério Público cumprem com independência suas funções? Golpe,
dizem eles. Milhões de pessoas ocupam as ruas com críticas ao governo?
Trata-se de golpistas de direita, analisa o partido. Ninguém escapa,
somos todos golpistas –menos os iluminados do PT.
Para eles, os outros são sempre os culpados de todos os males. Os outros
tramam dia e noite para tirar o PT do poder. Não cola mais. Os
brasileiros não aceitam mais o engodo.
A quem serve o factoide do golpe criado na semana passada? Claramente
uma estratégia do marketing petista, a ideia de propagar com insistência
uma mesma mentira, repetidamente, em coro orquestrado, serve para
tentar dar unidade e amplitude ao discurso do seu fragilizado campo
político. É uma velha receita seguida de novo por todos os níveis do PT,
do mais alto escalão ao militante pago para insuflar as redes sociais.
Entre lidar com a verdade ou se esconder na mentira, o partido escolheu,
de novo, evitar a realidade.
Sabemos todos –inclusive o PT– que, felizmente, não existe espaço para
nenhum retrocesso no sistema democrático brasileiro. O que o partido
teme, na verdade, é o funcionamento dos instrumentos da nossa sociedade
democrática.
Existe, sim, um grande golpe em curso –mas ele vem do andar de cima. Um
golpe contra os brasileiros que deram ao governo um voto de confiança e
que, em troca, receberam um bilhete de entrada para um país em queda
livre, com desemprego nas alturas, redução de benefícios trabalhistas,
inflação beirando a casa de dois dígitos em algumas capitais, tarifas
públicas em aumento crescente.
O mais grave neste cenário é a incapacidade do governo de governar de
fato. No lugar do trabalho sério, a bravata. O governo e o PT fariam um
enorme bem aos brasileiros se imprimissem à gestão do país o mesmo vigor
que despendem ao incorporar roteiros mirabolantes ditados, mais uma
vez, pelo marketing da mentira e da conveniência.
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POLÍTICA E ECONOMIA