Pedro Franca/Associated Press |
O senador Delcídio do Amaral, preso na Operação Lava Jato, acusado de atrapalhar investigações |
09/12/2015 02h00
O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró relatou aos procuradores, na fase de negociação de sua delação premiada, que o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) recebeu suborno de US$ 10 milhões da multinacional Alstom durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), entre 1999 e 2001.
À época, ele ocupava a diretoria de Óleo e Gás da Petrobras, e Cerveró era um de seus gerentes. O ex-líder do governo no Senado foi preso no âmbito da Lava Jato no dia 25, sob acusação de tentar obstruir a investigação –ele prometera dinheiro a Cerveró para que seu nome não aparecesse na delação do ex-diretor da estatal.
O pagamento da propina ocorreu na compra de turbinas para uma termoelétrica que seria construída no Rio, a TermoRio, por US$ 550 milhões. A Petrobras tinha pressa em construir termoelétricas por causa do apagão que ocorreu no governo de FHC entre 2001 e 2002.
Sergio Lima - 2.dez.14/Folhapress |
O ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, após acareação na Câmara |
ENIGMA DECIFRADO
O repasse dos US$ 10 milhões foi intermediado pelo lobista Afonso Pinto Guimarães, que cuidava dos interesses da Alstom no Rio, segundo a versão de Cerveró.
Um documento apreendido pela Polícia Federal com o chefe de gabinete de Delcídio, Diogo Ferreira, que também está preso, trazia as seguintes inscrições: "Nestor, Moreira, Afonso Pinto" e "Guimarães Operador Alstom BR pago p/ Delcídio".
A delação de Cerveró, que começou a depor na segunda (7), esclarecerá o aparente enigma. Moreira é o ex-gerente da Petrobras Luis Carlos Moreira da Silva, que está sob investigação da Lava Jato e participou do caso das turbinas, segundo Cerveró.
A TermoRio, a maior termoelétrica do país movida a gás natural, foi inaugurada em 2006 em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
O relato do suposto suborno pago a Delcídio pela Alstom estará em um dos 36 anexos da delação do ex-diretor –cada um deles trata de um caso específico de propina.
Cerveró confirmou que ele próprio recebeu suborno da Alstom na compra das turbinas, em uma conta na Suíça. Para se livrar de um processo criminal naquele país, o ex-diretor fez um acordo com procuradores suíços.
O valor da propina e a multa que Cerveró pagou às autoridades suíças são mantidos sob sigilo.
A Folha revelou, em 2008, que havia suspeitas de pagamento de propina pela Alstom na construção da TermoRio. Um empresário investigado pela Polícia Federal relatara às autoridades que emprestou contas que tinha no Uruguai para que a Alstom pagasse propinas de US$ 550 mil e € 220 mil para que a Petrobras não atrasasse os pagamentos das turbinas.
Aparentemente, é um caso distinto daquele relatado por Cerveró em seu acordo.
A Alstom é alvo de uma série de investigações em São Paulo, sob suspeita de ter pagado propina em contratos com o Metrô, CPTM e empresa de energia do governo de São Paulo, sempre em governos tucanos.
A empresa nega sistematicamente o uso de suborno para obter contratos e diz seguir um rígido código de ética.
Cerveró já antecipou aos procuradores que tinha uma relação de intimidade com Delcídio.
Segundo o ex-diretor, sem o apoio de Delcídio ele não teria sido escolhido para atuar como gerente na diretoria de Óleo e Gás nem para ocupar o cargo de diretor da área Internacional da estatal.
OUTRO LADO
A Alstom vendeu a sua divisão de energia, que forneceu as turbinas para a Petrobras, e não comenta o assunto.
A empresa que comprou a divisão da Alstom, a GE, afirmou, em nota, que concluiu no último mês o negócio. Ela fez a seguinte declaração sobre o suposto pagamento de propina a Delcídio do Amaral relatado por Nestor Cerveró: "A GE não comenta especulações e reforça seu compromisso com a integridade e cumprimento das leis".
O advogado Maurício Silva Leite, que cuida da defesa do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), não quis comentar o relato de Cerveró, sob o argumento de que não conhece o depoimento.
O advogados que cuidam da delação de Cerveró, Beno e Alessi Brandão, também não quiseram comentar o relato de seu cliente sobre o suposto pagamento de suborno pela Alstom.
A reportagem da Folha procurou Afonso Pinto Guimarães por seis vezes nos telefones de sua casa no Rio de Janeiro e no celular, mas não conseguiu contatá-lo. O jornal não conseguiu localizar a defesa do ex-gerente da Petrobras Luis Carlos Moreira da Silva.
A Petrobras não quis se manifestar sobre o caso.
O repasse dos US$ 10 milhões foi intermediado pelo lobista Afonso Pinto Guimarães, que cuidava dos interesses da Alstom no Rio, segundo a versão de Cerveró.
Um documento apreendido pela Polícia Federal com o chefe de gabinete de Delcídio, Diogo Ferreira, que também está preso, trazia as seguintes inscrições: "Nestor, Moreira, Afonso Pinto" e "Guimarães Operador Alstom BR pago p/ Delcídio".
A delação de Cerveró, que começou a depor na segunda (7), esclarecerá o aparente enigma. Moreira é o ex-gerente da Petrobras Luis Carlos Moreira da Silva, que está sob investigação da Lava Jato e participou do caso das turbinas, segundo Cerveró.
A TermoRio, a maior termoelétrica do país movida a gás natural, foi inaugurada em 2006 em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
O relato do suposto suborno pago a Delcídio pela Alstom estará em um dos 36 anexos da delação do ex-diretor –cada um deles trata de um caso específico de propina.
Cerveró confirmou que ele próprio recebeu suborno da Alstom na compra das turbinas, em uma conta na Suíça. Para se livrar de um processo criminal naquele país, o ex-diretor fez um acordo com procuradores suíços.
O valor da propina e a multa que Cerveró pagou às autoridades suíças são mantidos sob sigilo.
A Folha revelou, em 2008, que havia suspeitas de pagamento de propina pela Alstom na construção da TermoRio. Um empresário investigado pela Polícia Federal relatara às autoridades que emprestou contas que tinha no Uruguai para que a Alstom pagasse propinas de US$ 550 mil e € 220 mil para que a Petrobras não atrasasse os pagamentos das turbinas.
Aparentemente, é um caso distinto daquele relatado por Cerveró em seu acordo.
A Alstom é alvo de uma série de investigações em São Paulo, sob suspeita de ter pagado propina em contratos com o Metrô, CPTM e empresa de energia do governo de São Paulo, sempre em governos tucanos.
A empresa nega sistematicamente o uso de suborno para obter contratos e diz seguir um rígido código de ética.
Cerveró já antecipou aos procuradores que tinha uma relação de intimidade com Delcídio.
Segundo o ex-diretor, sem o apoio de Delcídio ele não teria sido escolhido para atuar como gerente na diretoria de Óleo e Gás nem para ocupar o cargo de diretor da área Internacional da estatal.
OUTRO LADO
A Alstom vendeu a sua divisão de energia, que forneceu as turbinas para a Petrobras, e não comenta o assunto.
A empresa que comprou a divisão da Alstom, a GE, afirmou, em nota, que concluiu no último mês o negócio. Ela fez a seguinte declaração sobre o suposto pagamento de propina a Delcídio do Amaral relatado por Nestor Cerveró: "A GE não comenta especulações e reforça seu compromisso com a integridade e cumprimento das leis".
O advogado Maurício Silva Leite, que cuida da defesa do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), não quis comentar o relato de Cerveró, sob o argumento de que não conhece o depoimento.
O advogados que cuidam da delação de Cerveró, Beno e Alessi Brandão, também não quiseram comentar o relato de seu cliente sobre o suposto pagamento de suborno pela Alstom.
A reportagem da Folha procurou Afonso Pinto Guimarães por seis vezes nos telefones de sua casa no Rio de Janeiro e no celular, mas não conseguiu contatá-lo. O jornal não conseguiu localizar a defesa do ex-gerente da Petrobras Luis Carlos Moreira da Silva.
A Petrobras não quis se manifestar sobre o caso.
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