Dilma Rousseff de mãos dadas com o investigado Renan Calheiros dá sempre a impressão de uma senhora brincando no barro depois do banho. Michel Temer com o denunciado Eduardo Cunha
a tiracolo transmite a imagem de um senhor que apertou o cinto por
baixo do cós das calças, podendo perdê-las a qualquer momento. Uma
oposição que passa meses negociando com o sujo a deposição da mal lavada
revela um comportamento de alto risco, com clara tendência para a
autodesmoralização. E a plateia, submetida a um simulacro de democracia,
boceja. Em vez de passeatas, faz a sesta depois da macarronada de
domingo. Sob protesto.
É contra esse pano de fundo que vêm à luz
os dados da mais recente pesquisa Datafolha. Depois de atingir o ápice
da impopularidade em agosto, com 71% de desaprovação, Dilma
saboreia uma ligeira melhora na sua imagem. Continua no pântano, mas já
consegue colocar o nariz para fora. Seu desempenho é considerado ruim
ou péssimo por 65% dos brasileiros. A maioria (60%) ainda torce pela
abertura de um processo de impeachment. Mas um percentual quase idêntico
de brasileiros (58%) acha que o vice-presidente Michel Temer faria um governo igual ou pior do que o de Dilma.
O
Congresso sairá em recesso —bocejo— ou os congressistas cancelarão suas
férias? Alguém se importa? Haverá maioria para aprovar o impechment
—bocejo—ou a presidente salvará o pescoço da guilhotina? O pior de viver
numa democracia nivelada pela indecência é que o suspense perde a
graça. E as pessoas perdem o interesse. Potencializa-se o efeito
“farinha do mesmo saco”. Os políticos passam a ser vistos todos como se
fossem uns a cara esculpida e escarrada dos outros. Importam-se apenas
com os próprios interesses. E roubam, roubam.
A velha tese do
Churchill segundo a qual a democracia é o pior regime imaginável com
exceção de todos os outros, acabará ganhando uma versão brasileira: até
um arremedo de democracia é preferível a todas as alternativas de
ilicitocracia que costumam vigorar no Brasil. A política nacional parece
empenhada em testar até onde pode ir no seu desprezo pela opinião
pública. Aos poucos, o Brasil vai se tornando um país muito distante,
uma democracia lá longe. Tratado como cão, o povo já não abana o rabo.
Mas não sabe a quem deve morder primeiro. Na dúvida, boceja.
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POLÍTICA E ECONOMIA