Cotidiano
Cadernos apreendidos com um casal de "contadores" do PCC (Primeiro Comando da Capital) no Paraná, em agosto do ano passado, acabaram resultando na maior operação já realizada contra a facção criminosa no país.
Deflagrada nesta quinta-feira (17), a operação pretende cumprir 767 mandados de prisão contra integrantes do PCC, facção criada em São Paulo que se espalhou pelo país.
Mais da metade dos investigados já estão detidos em penitenciárias do Paraná. Para a polícia, no entanto, os novos mandados são importantes para desestimular o ingresso na organização criminosa.
Até as 15h, 194 mandados ainda não haviam sido cumpridos. Foram presos 93 suspeitos. Outros 484 já estavam nas penitenciárias e receberam nova ordem de prisão.
Inicialmente, a Secretaria da Segurança do Paraná divulgou a existência de 757 mandados, mas depois corrigiu o número.
A polícia também cumpriu quatro mandados de busca, um deles em um hotel
no centro de Curitiba que a investigação apontou como pertencente à
facção. O estabelecimento era usado para lavagem de dinheiro e para
hospedar chefes de outros Estados. Contas bancárias também foram
bloqueadas.
"Nós queremos desestimular, desmistificar a quadrilha", disse o
secretário de Segurança do Paraná, Wagner Mesquita. "É um combate à
cultura de facção", completou Luiz Alberto Cartaxo Moura, diretor do
Depen (Departamento Penitenciário do Paraná).
"Pense como preso: estou para sair. Agora me aparece um novo mandado só
por causa desses caras [do PCC]?", disse Moura.Todos os suspeitos irão
responder pelo crime de associação criminosa, previsto em lei desde 2013
e cuja pena pode chegar a três anos de prisão.
Questionada se haveria risco de rebeliões com as novas prisões, a
Secretaria da Segurança informou que está monitorando a movimentação dos
presos e que estará preparada para agir caso algum risco seja
identificado.
BATISMO
A investigação começou a partir da prisão de duas pessoas que
trabalhavam como "contadores" do PCC no Paraná, em agosto de 2014.
Debaixo do colchão do casal foram encontradas dezenas de cadernos e
anotações –o que deu nome à operação, chamada de Alexandria em
referência à grande biblioteca da Antiguidade, destruída por um
incêndio.
Os papéis contêm os "batismos" feitos pela facção no Paraná, os
padrinhos de cada afiliado e números de telefone –a polícia não explicou
como era o ato de filiação ao PCC.
Os cadernos também registram o pagamento das mensalidades, de cerca de
R$ 400, apelidadas de "cebola". "Batizou, tem que pagar a cebola. É
igual padre, é para sempre", diz Moura.
Com as informações, as polícias Militar e Civil traçaram um organograma
da facção, pediram o grampeamento de cerca de 200 telefones e
interceptaram 30 mil ligações. Nas conversas, identificaram chefes de
outros 11 Estados, que realizavam crimes como tráfico de drogas, roubos,
tráfico de armas e homicídios.
As informações da investigação serão remetidas aos outros Estados –além
de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia,
Alagoas, Ceará, Goiás, Santa Catarina, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
"RESUMOS"
Os cadernos apreendidos dão detalhes sobre o modus operandi do PCC.
A principal atividade –e a mais lucrativa– da facção é o tráfico de
drogas. Com o dinheiro, os chefes pagam advogados, dão suporte
financeiro a algumas famílias e garantem proteção a quem está dentro ou
fora da prisão.
No Paraná, a maioria dos membros está presa. É o oposto do cenário em
São Paulo, onde a maior parte está solta, ou "na sintonia", segundo o
jargão da facção.
Os chefes são chamados de "resumos". Existem resumos locais, regionais,
federais e disciplinadores (esses, os responsáveis pela execução de
inimigos ou infiéis, de acordo com as investigações).
Quem faz a comunicação entre quem está preso e quem está "na sintonia"
são advogados e familiares. Na operação desta quinta, dois advogados
também foram detidos, suspeitos de desvirtuarem suas funções e atuarem,
na prática, em favor do grupo, transmitindo recados a líderes e
auxiliando na administração.
A Secretaria de Segurança do Paraná admite que vem falhando em impedir a
comunicação dos membros nos presídios. O órgão, porém, afirma que está
fazendo sua parte com a operação e que, no ano que vem, pretende
instalar bloqueadores de sinal de celular nas penitenciárias para
dificultar a atividade do PCC.
Os nomes dos presos não foram divulgados.
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