Na primeira entrevista após a busca e apreensão em seus endereços residenciais e de trabalho, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse no início da tarde desta terça-feira (15) que não há hipótese de renunciar, acusou o governo de promover a ação por "revanchismo" e na tentativa de jogar nas costas do PMDB a "roubalheira do PT".
Cunha cobrou uma decisão imediata de seu partido no sentido de romper com o Palácio do Planalto.
"A gente sabe que o PT é o responsável por esse assalto que aconteceu no Brasil, pelo assalto na Petrobras. Todo dia a roubalheira do PT é fotografada, e de repente fazer uma operação com o PMDB? Isso causa muita estranheza entre nós. O povo é inteligente, sabe que o dia de hoje, dia do Conselho, às vésperas da decisão do processo de impeachment. Tem alguma coisa estranha no ar", afirmou o deputado.
Pedro Ladeira/Folhapress | |
Eduardo Cunha deixa a residência oficial da Câmara acompanhado de deputados aliados |
A entrevista de Cunha, que se considera "absolutamente inocente", foi dada no Salão Verde da Câmara, logo após almoço com deputados aliados em sua residência oficial.
Segundo o peemedebista, o governo age contra ele como vingança por ele ter aceito o pedido de impeachment. "Sou desafeto do governo, todo mundo sabe disso, e me tornei mais desafeto ainda depois que dei curso ao pedido de impeachment. Nada mais natural que eles busquem seu revanchismo. O que foi fazer o ministro José Eduardo Cardozo em Curitiba, em reuniões de madrugada, na semana passada?", disse Cunha, referindo-se à viagem recente do ministro da Justiça para a cidade que concentra as investigações da Lava Jato.
CONSELHO DE ÉTICA
O presidente da Câmara também disse considerar "nula" a decisão desta terça do Conselho de Ética de dar continuidade ao seu processo de cassação. Ele disse que irá recorrer ao Supremo Tribunal Federal sob a alegação de cerceamento do direito de defesa. Segundo ele, os deputados do colegiado "fizeram o jogo da plateia" para encobrir o processo de impeachment contra Dilma Rousseff.
"Todo mundo que tem o mínimo de conhecimento de regimento dessa Casa sabe que fizeram o jogo para a plateia e que é nulo o que está sendo feito hoje. Parece a impressão que estão até a meu serviço, passa a impressão que são meus aliados que dão essas decisões equivocadas", disse o presidente da Câmara.
Ele também acusou o governo de agir contra ele no Conselho para encobrir o impeachment.
Denunciado pela Procuradoria-Geral da República sob a acusação de envolvimento no petrolão, Cunha afirmou, excluída a suposta perseguição política a ele e ao PMDB, ter considerado normal a ação policial, dentro do curso de uma investigação, incluindo a apreensão de seu aparelho de telefone celular. Afirmou ainda que a operação é um indicativo de que os investigadores não têm provas contra ele.
"O celular é normal quando eles fazem busca e apreensão. Recolhem para fazer a captação dos dados e me devolvem", disse ele, acrescentando que os policiais levaram ainda papéis de sua casa. Cunha disse ter chamado um chaveiro porque não tinha a chave do cofre que a Câmara oferece aos deputados. "Toda a residência de deputado tem um cofre velho e antigo e ninguém sabe o que tem dentro desse cofre."
RETALIAÇÃO
As declarações de Cunha foram ditas mais cedo, em almoço com líderes da base aliada, ocasião em que ele falou em revanchismo e ameaçou retaliar o Palácio do Planalto em votações futuras na Câmara dos Deputados.
Em nova fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta terça-feira (15), a Polícia Federal mira, além de Cunha, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) e os senadores Fernando Collor (PTB-AL) e Fernando Bezerra (PSB-PE).
Outros dois inquéritos que também foram alvo das ações desta terça ainda são sigilosos. Ao todo, 53 mandados de busca e apreensão foram emitidos para endereços de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Pará, Ceará e Alagoas.
Segundo a Procuradoria-Geral da República, são nove os políticos com foro privilegiado alvo desta operação.
Foram emitidos mandados de busca e apreensão que atingiram inclusive imóveis de Cunha, incluindo endereços no Rio, sua residência oficial em Brasília e a diretoria-geral da Câmara, órgão responsável por fechar contratos e ordenar despesas. Três celulares de Cunha foram apreendidos. Ministros também tiveram buscas em seus endereços.
Os policiais foram autorizados a acessar dados de computadores, smartphones, celulares em geral, tablets e outros dispositivos eletrônicos e a apreender aparelhos eletrônicos, anotações, registros contábeis e comunicações realizadas entre os investigados.
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