Desde que virou tema de uma marchinha de Carnaval, o agente da Polícia Federal Newton Ishii, 60, ou "japonês bonzinho", como passou a ser chamado nas ruas, é tratado como celebridade.
No sábado (5), precisou de ajuda de seguranças para ir embora de um evento de uma rádio de Curitiba. E durante o tempo que ficou no local foi requisitado para tirar mais de uma centena de selfies.
Também passou a ganhar ingresso para shows, foi procurado para ser homenageado pela cidade onde nasceu e teve convite para participar de um programa de TV.
Amigos e colegas começaram a ligar para perguntar quando ele trocará a polícia pela política. Sindicatos sondaram o interesse dele pelos palanques e, até mesmo, a possibilidade de Ishii se lançar candidato em 2016.
A pessoas próximas, Newton Ishii diz que, por enquanto, não pensa na possibilidade e evita mostrar tendências a qualquer partido.
Mas mesmo antes do verso "Ai meu Deus, me dei mal, bateu a minha porta o japonês da federal" ser ouvido por mais de 2,5 milhões de pessoas, há pouco mais de uma semana, Ishii já vinha aprendendo a lidar com a fama.
No início do ano, ele era parado para fazer selfies. No mês passado, o apresentador Sérgio Mallandro publicou no Facebook uma montagem com fotos do agente escoltando presos como o ex-ministro José Dirceu e o empreiteiro Marcelo Odebrecht seguida da frase: "se esse japonês tocar a campainha da sua casa às 6:00 da manhã, não abra porque você tá fudido. Rá!!".
Apesar de ter ficado conhecido como o executor das prisões, por aparecer escoltando alguns dos principais personagens da Lava Jato levados à cadeia, a última vez que Ishii levou alguém para a carceragem de Curitiba foi em janeiro. O alvo foi o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró que chegava de Londres no aeroporto do Galeão, no Rio.
A avaliação de que o agente estava visado e sua aparição poderia comprometer as operações fez com que ele saísse da linha de frente do cumprimento dos mandatos. Mas Ishii continuou liderando tarefas relevantes.
ENTRA E SAI
Chefe do Núcleo de Operações da Superintendência da PF do Paraná, ele responde pela logística e escolta de presos para locais como o IML, o Complexo Médico Penal –onde estão a maioria dos detentos da operação–, as CPIs, para onde os investigados são levados a depor, e as audiências com a equipe à frente da Lava Jato. Por isso, ainda aparece com frequência na mídia.
Também é ele quem controla o entra e sai de itens na carceragem, horários de banho de sol e tornozeleiras eletrônicas. Se uma perde o sinal, é o telefone de Ishii que toca para resolver a questão.
A importância do agente na rotina dos detentos fez com que parte dos advogados procurados pela Folha só se pronunciasse sob a condição de anonimato.
Entre muitos criminalistas, ele é visto como "fofoqueiro". Reclamam que faz comentários sobre o comportamento dos presos. Outros, como Rodrigo Rios, que atua na defesa de executivos da Engevix, Roberto Podval, que advoga para Dirceu, e Figueiredo Basto, defensor do doleiro Alberto Youssef, descrevem o agente como um policial "cordial" e "muito profissional" em sua função.
O PIB ESTÁ AQUI
Newton Ishii não quis dar declarações à reportagem. A advogados, ele contou que, em quase 40 anos como policial, nunca viveu nada como a Operação Lava Jato.
Destacou que o mais surpreendente foi a sétima fase, que levou para a PF 25 presos, entre eles presidentes de empreiteiras como OAS e Camargo Corrêa. Ishii repetia que "o PIB brasileiro estava lá". Naquele momento, ele tinha voltado à ativa havia apenas oito meses, depois de 11 anos afastado da polícia.
Em 2003, quando estava lotado em Foz do Iguaçu (PR), foi acusado de facilitação de contrabando, chegando a ser preso em uma operação denominada Sucuri.
O agente respondeu a um processo disciplinar, que acabou sendo arquivado. Na ação penal, foi condenado a pagar cestas básicas.
Após o episódio, aposentou-se. Mas graças a uma determinação do TCU, que fez com que vários policiais voltassem a trabalhar para cumprir um período a mais de serviço –dois anos no caso de Ishii– ele retornou à corporação em março de 2014.
Agentes dizem que Ishii hoje goza de confiança da direção da PF. A convocação para voltar veio do Superintendente do Paraná Rosalvo Franco. Ele e Ishii trabalharam juntos na outra passagem do policial por Curitiba.
Recentemente, porém, o agente envolveu-se em mais uma polêmica: ele está entre os investigados pelo vazamento da minuta de delação de Cerveró.
Na gravação feita por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras, que culminou na prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e do banqueiro André Esteves, Ishii é citado como um dos possíveis vazadores.
Após as suspeitas contra ele, Bernardo fez chegar à PF um e-mail dizendo que estava atuando ao mencioná-lo.
Em sua defesa, Ishii tem dito que seu nome foi usado justamente por ter se tornado conhecido.
Colaborou ALEXANDRE ARAGÃO, de SP
Mas mesmo antes do verso "Ai meu Deus, me dei mal, bateu a minha porta o japonês da federal" ser ouvido por mais de 2,5 milhões de pessoas, há pouco mais de uma semana, Ishii já vinha aprendendo a lidar com a fama.
No início do ano, ele era parado para fazer selfies. No mês passado, o apresentador Sérgio Mallandro publicou no Facebook uma montagem com fotos do agente escoltando presos como o ex-ministro José Dirceu e o empreiteiro Marcelo Odebrecht seguida da frase: "se esse japonês tocar a campainha da sua casa às 6:00 da manhã, não abra porque você tá fudido. Rá!!".
Apesar de ter ficado conhecido como o executor das prisões, por aparecer escoltando alguns dos principais personagens da Lava Jato levados à cadeia, a última vez que Ishii levou alguém para a carceragem de Curitiba foi em janeiro. O alvo foi o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró que chegava de Londres no aeroporto do Galeão, no Rio.
A avaliação de que o agente estava visado e sua aparição poderia comprometer as operações fez com que ele saísse da linha de frente do cumprimento dos mandatos. Mas Ishii continuou liderando tarefas relevantes.
ENTRA E SAI
Chefe do Núcleo de Operações da Superintendência da PF do Paraná, ele responde pela logística e escolta de presos para locais como o IML, o Complexo Médico Penal –onde estão a maioria dos detentos da operação–, as CPIs, para onde os investigados são levados a depor, e as audiências com a equipe à frente da Lava Jato. Por isso, ainda aparece com frequência na mídia.
Também é ele quem controla o entra e sai de itens na carceragem, horários de banho de sol e tornozeleiras eletrônicas. Se uma perde o sinal, é o telefone de Ishii que toca para resolver a questão.
A importância do agente na rotina dos detentos fez com que parte dos advogados procurados pela Folha só se pronunciasse sob a condição de anonimato.
Entre muitos criminalistas, ele é visto como "fofoqueiro". Reclamam que faz comentários sobre o comportamento dos presos. Outros, como Rodrigo Rios, que atua na defesa de executivos da Engevix, Roberto Podval, que advoga para Dirceu, e Figueiredo Basto, defensor do doleiro Alberto Youssef, descrevem o agente como um policial "cordial" e "muito profissional" em sua função.
O PIB ESTÁ AQUI
Newton Ishii não quis dar declarações à reportagem. A advogados, ele contou que, em quase 40 anos como policial, nunca viveu nada como a Operação Lava Jato.
Destacou que o mais surpreendente foi a sétima fase, que levou para a PF 25 presos, entre eles presidentes de empreiteiras como OAS e Camargo Corrêa. Ishii repetia que "o PIB brasileiro estava lá". Naquele momento, ele tinha voltado à ativa havia apenas oito meses, depois de 11 anos afastado da polícia.
Em 2003, quando estava lotado em Foz do Iguaçu (PR), foi acusado de facilitação de contrabando, chegando a ser preso em uma operação denominada Sucuri.
O agente respondeu a um processo disciplinar, que acabou sendo arquivado. Na ação penal, foi condenado a pagar cestas básicas.
Após o episódio, aposentou-se. Mas graças a uma determinação do TCU, que fez com que vários policiais voltassem a trabalhar para cumprir um período a mais de serviço –dois anos no caso de Ishii– ele retornou à corporação em março de 2014.
Agentes dizem que Ishii hoje goza de confiança da direção da PF. A convocação para voltar veio do Superintendente do Paraná Rosalvo Franco. Ele e Ishii trabalharam juntos na outra passagem do policial por Curitiba.
Recentemente, porém, o agente envolveu-se em mais uma polêmica: ele está entre os investigados pelo vazamento da minuta de delação de Cerveró.
Na gravação feita por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras, que culminou na prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e do banqueiro André Esteves, Ishii é citado como um dos possíveis vazadores.
Após as suspeitas contra ele, Bernardo fez chegar à PF um e-mail dizendo que estava atuando ao mencioná-lo.
Em sua defesa, Ishii tem dito que seu nome foi usado justamente por ter se tornado conhecido.
Colaborou ALEXANDRE ARAGÃO, de SP
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