Líder
do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB) declarou: “É preciso
reconhecer que a via do impeachment se estreitou” depois que o STF fixou
um rito processual que favorece Dilma Rosseff. Um dos tucanos mais
próximos do presidenciável Aécio Neves, Cunha Lima afirmou ao blog
que o impedimento de Dilma depende do PMDB e do povo. O partido
dividiu-se. “Michel Temer perdeu força. Ganhou um protagonismo maior
Renan Calheiros, que está alinhado com a Dilma.” Quanto ao povo, “não se
mostrou muito entusiasmado para ir às ruas com o propósito de derrubar a
Dilma e colocar o Michel no lugar dela.”
O tucanato ajusta
novamente sua alça de mira. Volta a priorizar a hipótese de cassação da
chapa Dilma-Temer no processo que corre no Tribunal Superior Eleitoral.
Algo que levaria à convocação de nova eleição presidencial em 90 dias.
Cunha Lima revela os planos que seu partido esboça: “Primeiro, forçar a
saída do Eduardo Cunha” do comando da Câmara.
Depois, “mudar a
estratégia de mobilização de rua”. No dizer de Cunha Lima, “está na hora
de os partidos políticos assumirem o palco principal da cena.” Como?
“Se fizermos uma campanha de esclarecimento, explicando que a nova
eleição de fato é o melhor caminho para permitir ao país essa
legitimidade que o novo governo precisa ter, acho que podemos conseguir
mobilização na rua.” Vai abaixo a transcrição da conversa com o líder
tucano.
—
O PSDB decidiu privilegiar o julgamento do TSE, que pode levar à
cassação da chapa Dilma-Temer, em detrimento do processo de impeachment
da presidente? O PSDB não se afasta do impeachment como
uma possibilidade. Mas nós acreditamos que uma nova eleição, convocada a
partir da cassação da chapa Dilma-Temer, é uma saída melhor para o
Brasil. A razão é simples: a legitimidade de um governo eleito cria
condições mais favoráveis para retirar o país da situação difícil em que
se encontra.
— Não receia que a defesa de uma fórmula que inclui o afastamento do vice Michel Temer afaste o PMDB do impeachment?
O PMDB sempre foi sócio majoritário dessa estrutura toda que levou o
Brasil à crise profunda. Não dá para eximir o PMDB de parte da
responsabilidade pelos problemas que enfrentamos. O país precisa de uma
coisa nova, uma outra forma de fazer política, uma mudança talvez muito
mais profunda do que o PMDB seria capaz de fazer.
— Supondo que ocorra nova eleição, um novo governo conseguiria governar sem o PMDB? Creio
que, definidas as novas eleições, podemos tentar trilhar o caminho da
conciliação. Não vejo a eleição como um espaço obrigatoriamente de
confronto e disputa. Podemos tentar construir uma alternativa
conciliatória, para estabelecer um governo de transição, com dois anos e
alguns meses, com o objetivo de chegar a 2018 com um mínimo de
equilíbrio para a disputa eleitoral.
— Não lhe parece onírico imaginar a eleição de um candidato conciliatório, sem disputa? Convocadas as eleições, PSDB e PT partirão para o confronto, não? Claro que uma eleição de confronto é a possibilidade maior. Mas creio que a gente pode tentar estabelecer um nível de diálogo.
— Nessa hipótese, Aécio Neves não disputaria?
Não conversei com Aécio sobre isso. Mas não o vejo como uma pessoa
obcecada. Estou certo de que, se tivermos a possibilidade de construir
uma solução, ele não será obstáculo. Parto do pressuposto de que teremos
um agravamento da situação econômica.
— Concorda que essa hipótese da conciliação é remota? Não acha que o caminho natural na eventualidade de cassação de Dilma e Temer seria a disputa? Claro, o mais natural é que haja disputa. Mas não descartaria a hipótese de uma concertação referendada pelas urnas.
— Prevalecendo o confronto, a disputa seria entre Aécio e Lula?
Sim, a tendência é mesmo a de termos a candidatura do Lula, que é o
nome de que o PT dispõe. E do lado do PSDB seria provável a presença do
Aécio, até pelo desempenho que ele teve no ano passado, o recall que ele tem, as pesquisas apontam isso claramente.
—
A Constituição prevê que, na hipótese de o TSE cassar Dilma e Temer, o
presidente da Câmara assumiria por 90 dias para organizar a realização
de novas eleições. Como confiar o país por três meses a Eduardo Cunha? Eduardo
Cunha já perdeu a condição de presidir a Câmara há muito tempo. Ele
conseguiu entrar em 2016 ainda no cargo. Mas não vai conseguir se manter
na cadeira porque não é maior do que a República. A República não pode
se transformar num joguete na mão de Eduardo Cunha. O país não pode
ficar refém de alguém que tem explicações tão graves a dar. As cartas
que ele tinha de postergação, de obstrução, foram ao limite da via
física.
— O PSDB já esteve do lado de Eduardo Cunha,
imaginando que ele ajudaria no impeachment. Hoje, parece claro que isso
foi um erro. Há algo que o partido pode fazer além de esperar que o STF
julgue o pedido da Procuradoria para afastar Cunha cautelarmente?
Creio que o partido tem como apressar esse processo. Farei conversas
sobre isso nesta quarta-feira, sobretudo com nossos amigos da Câmara.
Isso tudo tem que ser feito em sintonia com a Câmara, que é onde essas
coisas acontecem. Há aquele caminho da obstrução, que havia sido
proposto e depois foi abandonado. É um caminho que pode ser trilhado
pelo PSDB e outros partidos de oposição. Obstrução enquanto Eduardo
Cunha estiver na poltrona. Não é possível que ele seja maior do que o
Brasil. Precisamos forçar a saída do Eduardo Cunha.
— Acha que o impeachment se tornou inviável? É
preciso reconhecer que essa via do impeachment se estreitou. O STF
atribuiu poderes ao Senado para rever uma eventual decisão da Câmara
favorável à abertura do processo. E a base do governo no Senado é um
pouco mais sólida. Além disso, o PMDB se mostra dividido.
— A divisão do PMDB é ruim para o impeachment? Só
vai haver impeachment com dois ‘Ps’: PMDB e povo. O PMDB está dividido.
O próprio Michel Temer, nos últimos dias, perdeu força dentro do
partido. Ganhou um protagonismo maior Renan Calheiros [presidente do
Senado], que está alinhado com a Dilma. E o povo não se mostrou muito
entusiasmado para ir às ruas com o propósito de derrubar a Dilma e
colocar o Michel no lugar dela.
— O que o leva a crer que a aposta no TSE reanimaria o povo?
Acredito que a possibilidade de mobilização em torno de novas eleições é
muito maior. Com eleição a sociedade é que decide. Aquelas
manifestações gigantescas foram realizadas num clima de mudança da forma
de fazer política. Traziam um desejo de mudança muito radical. E o PMDB
não vai representar isso com a assunção do Temer.
— Qual é a estratégia do PSDB?
Primeiro, forçar a saída do Eduardo Cunha. Com ele fica fraco o
impeachment e neutralizam-se as chances de o TSE cassar a chapa Dilma e
Temer. É importante que ele saia. A partir daí, temos que mudar a
estratégia de mobilização de rua.
Como assim? As
manifestações convocadas por movimentos como Brasil Livre e outros
foram importantes. Mas está na hora de os partidos políticos assumirem o
palco principal da cena. Não se faz política sem partido. Tenho
defendido há algum tempo. E vou insistir que, em 2016, em vez dessas
manifestações num dia único, no Brasil inteiro, nós possamos repetir o
modelo usado no impeachment do Collor e nas eleições diretas. Faz um
evento na Praça da Sé. Depois, em dia distinto, na Cinelândia. Faz no
Parque do Povo, em Campina Grande. E assim sucessivamente, sempre em
dias distintos. É preciso fazer um calendário de manifestações em que a
bandeira seja a convocação de nova eleição.
— Não teme
que, num momento de irritação das pessoas com a política, manifestações
convocadas por partidos políticos possam fracassar? Vamos
ter marketing, campanha para novas eleições. Se o impeachment
avançasse, o próprio PT, entre impedimento da presidente e eleições,
preferiria novas eleiçoes. Se fizermos uma campanha de esclarecimento,
explicando que a nova eleição de fato é o melhor caminho para permitir
ao país essa legitimidade que o novo governo precisa ter, acho que
podemos conseguir mobilização na rua. Não vejo entusiasmo das pessoas
para ir às ruas defender a saída da Dilma e a entrada do Temer. Aquelas
movimentações gigantescas foram realizada num clima de mudança da forma
de fazer política.
— O que o leva a crer que o TSE vai cassar a chapa Dilma-Temer?
A legislação eleitoral é muito dura, severa. Utilização de dinheiro de
propina em campanha é passível de cassação. Já está decidido que as
delações da Lava Jato serão incluídas no processo. Será uma fratura
exposta. Não tem como salvar o mandato da presidente e do seu vice.
Todos sabem que houve dinheiro sujo, caixa dois, na campanha da Dilma.
Isso vai ficar demonstrado nos autos. O que farão diante de provas
cabais três ministros do Supremo que integram o TSE, dois ministros do
STJ e dois representanrtes da OAB? Insisto: é fratura exposta. Não tem
como fugir. No caso do crime de responsabilidade, do impeachment, você
ainda tem margem de argumentação, sobretudo num juízo político como será
o do Senado. O crime eleitoral é diferente, não deixa margem. Usou
dinheiro sujo na campanha, é passível de cassação.
— A eleição, se viesse, ocorreria junto com o pleito municipal de 2016?
Seria o melhor momento, porque você já tem a Justiça Eleitoral
mobilizada para a eleição municipal. Você realiza a eleição sem gastar
um centavo a mais, porque colocar um voto a mais na urna eletrônica não
custa nada. Tudo conspira a favor. O TSE teria mais seis meses para
concluir o julgamento. Em meados de julho, a presidente e o vice seriam
afastados. Assume o presidente da Câmara, que a essa altura nao será
mais o Eduardo Cunha e, junto com a eleição municipal, elege-se um novo
presidente, que assume imediatamente, na semana seguinte.
— As articulações em torno desse assunto ficaram para depois do recesso do Legislativo, em fevereiro, certo? Sim.
Vou aproveitar o recesso, esse período de janeiro, para ter algumas
conversas. Vou viajar para alguns lugares. Já tenho conversado com
algumas pessoas. Aécio também está nessa linha. A gente está plantando a
semente para que venha a nova eleição. Como houve imensa frustração com
a decisão do STF, que, na leitura de todos, dificultou o impeachment,
cresce a possibilidade de nova eleição. Sobretudo porque foram cometidos
crimes. Diante de uma fratura exposta, o TSE não tem como salvar o
mandato de Dilma e Temer. O país não pode ficar sem saída. É preciso que
haja eleição limpa para presidente da República. Nós tivemos uma
eleição viciada, em que a máquina pública interferiu de maneira
indiscutível no resultado do pleito. As eleições limpas farão surgir um
governo legitimado, com condições mínimas para tentar tirar o país dessa
crise gravíssima.
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