Ricardo Stuckert/Instituto Lula | |
Durante visita à Espanha, Lula também se encontrou com o rei espanhol, Filipe 6º |
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva provocou polêmica em Portugal
ao responsabilizar o período da colonização portuguesa, até 1822, pelos
problemas do sistema educacional do Brasil.
"Eu sei que isto não agrada aos portugueses, mas Cristóvão Colombo chegou a Santo Domingo (atual República Dominicana) em 1492, e em 1507 já tinha sido criada uma universidade lá. No Peru em 1550, na Bolívia em 1624. No Brasil, a primeira universidade surgiu apenas em 1922", afirmou o ex-presidente, para quem essa demora "justifica os atrasos na educação" brasileira.
A declaração de Lula, durante uma conferência em Madri, na noite da última sexta (11), gerou uma forte reação da imprensa portuguesa quando atravessou a fronteira entre os dois países ibéricos.
O portal Observador, um dos principais de Portugal, ironizou o assunto: "Brasileiro burro? A culpa é do (Pedro) Álvares Cabral, diz Lula". "De quem é a culpa pelos atrasos na educação? É dos portugueses, diz Lula", publicou, por sua vez, o "Diário de Notícias", o mais antigo jornal português.
Entre os assuntos mais comentados pelos portugueses nas redes sociais nos últimos dias, a declaração de Lula continua rendendo opiniões fortes no país europeu. Num texto publicado no fim da tarde de segunda (14) no site do semanário econômico Oje, o colunista Diogo de Sousa-Martins diz que "não fica bem" a tentativa de atribuir "o ônus do atraso do sistema de educação brasileiro para uma colonização que abandonou o país há quase 200 anos e que nele inaugurou o ensino superior".
Apesar de as primeiras universidades brasileiras só terem sido fundadas no começo do século 20, como a Universidade do Paraná, em 1912, e a Universidade do Rio de Janeiro, em 1920, no período colonial existiam instituições de ensino superior no país, como a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, de 1792, e a Faculdade de Medicina da Bahia, criada em 1808.
A CULPA É DE QUEM?
O doutor em História Social pela USP (Universidade de São Paulo) e professor de História da UFMG Luiz Carlos Villalta discorda de que a responsabilidade sobre os problemas da educação brasileira deva recair apenas sobre os antigos colonizadores.
"O Brasil se tornou independente em 1822, e o governo imperial também não criou universidades em seus 77 anos de existência. A falta de universidades deve-se, sobretudo, aos erros de nossos próprios governos, das elites agrárias que os controlaram no Império e na República", explica Villalta.
Segundo a professora de História Ibérica da USP Ana Paula Torres Megiani, responsabilizar a colonização portuguesa por antigos problemas do Brasil não é um recurso novo, mas uma prática recorrente desde o fim da colonização. "Desde o século 19, todas as vezes que o Brasil passa por uma crise, política ou econômica, alguém sempre se lembra de culpar os portugueses do passado pelos nossos erros do presente", afirma Megiani.
FOLHA
"Eu sei que isto não agrada aos portugueses, mas Cristóvão Colombo chegou a Santo Domingo (atual República Dominicana) em 1492, e em 1507 já tinha sido criada uma universidade lá. No Peru em 1550, na Bolívia em 1624. No Brasil, a primeira universidade surgiu apenas em 1922", afirmou o ex-presidente, para quem essa demora "justifica os atrasos na educação" brasileira.
A declaração de Lula, durante uma conferência em Madri, na noite da última sexta (11), gerou uma forte reação da imprensa portuguesa quando atravessou a fronteira entre os dois países ibéricos.
O portal Observador, um dos principais de Portugal, ironizou o assunto: "Brasileiro burro? A culpa é do (Pedro) Álvares Cabral, diz Lula". "De quem é a culpa pelos atrasos na educação? É dos portugueses, diz Lula", publicou, por sua vez, o "Diário de Notícias", o mais antigo jornal português.
Reprodução | ||
O portal Observador, um dos principais de Portugal, ironizou o assunto |
Entre os assuntos mais comentados pelos portugueses nas redes sociais nos últimos dias, a declaração de Lula continua rendendo opiniões fortes no país europeu. Num texto publicado no fim da tarde de segunda (14) no site do semanário econômico Oje, o colunista Diogo de Sousa-Martins diz que "não fica bem" a tentativa de atribuir "o ônus do atraso do sistema de educação brasileiro para uma colonização que abandonou o país há quase 200 anos e que nele inaugurou o ensino superior".
Apesar de as primeiras universidades brasileiras só terem sido fundadas no começo do século 20, como a Universidade do Paraná, em 1912, e a Universidade do Rio de Janeiro, em 1920, no período colonial existiam instituições de ensino superior no país, como a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, de 1792, e a Faculdade de Medicina da Bahia, criada em 1808.
A CULPA É DE QUEM?
O doutor em História Social pela USP (Universidade de São Paulo) e professor de História da UFMG Luiz Carlos Villalta discorda de que a responsabilidade sobre os problemas da educação brasileira deva recair apenas sobre os antigos colonizadores.
"O Brasil se tornou independente em 1822, e o governo imperial também não criou universidades em seus 77 anos de existência. A falta de universidades deve-se, sobretudo, aos erros de nossos próprios governos, das elites agrárias que os controlaram no Império e na República", explica Villalta.
Segundo a professora de História Ibérica da USP Ana Paula Torres Megiani, responsabilizar a colonização portuguesa por antigos problemas do Brasil não é um recurso novo, mas uma prática recorrente desde o fim da colonização. "Desde o século 19, todas as vezes que o Brasil passa por uma crise, política ou econômica, alguém sempre se lembra de culpar os portugueses do passado pelos nossos erros do presente", afirma Megiani.
FOLHA
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