Devem ser mesmo tempos sombrios, como disse o presidente do Senado, Renan Calheiros,
estes em que os melhores discursos do parlamento saem de bocas das
quais menos esperamos. Ainda ressoa pelo plenário do Senado (talvez
porque, vez ou outra, ele a repita) a primeira intervenção do senador
Magno Malta pós-reeleição, em novembro do ano passado. Tido pela
inteligência brasileira como um dos parlamentares mais obscurantistas,
Malta disse, em aparte ao primeiro discurso do colega
Aécio Neves, que o tucano não perdeu as eleições presidenciais de 2014,
mas “recebeu um livramento da parte de Deus”. Enumerando o cenário de
degradação político-econômica que já se anunciava, o senador do PP
arrematou: “Eles [os petistas] iam instigar o povo, e Vossa Excelência,
como presidente, ia pagar uma conta que não é sua! Quem vai ter que
pagar essa conta é quem fez strip-tease moral em praça pública e
destruiu a economia deste país!“
Do outro lado do ringue da oratória, está o eloquente vice-líder do
Governo na Câmara, Silvio Costa, um governista rústico que diz aos
gritos no plenário tudo aquilo que um colega de Governo como o afável ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro,
se permite apenas sussurrar em meio a referências
artístico-filosóficas. Após a prisão de boa parte do grupo político que
hoje comanda o país, sobrou a Costa, um pernambucano do Partido Social
Cristão, as melhores defesas do Governo — que, na verdade, se limitam
aos melhores ataques à oposição, como nesta singela pérola já devidamente viralizada nos anais do folclore político brasileiro:
“Vocês precisam, acima de tudo, dizer ao país qual é o tipo de proposta
que vocês têm. Sabe qual é a proposta de vocês? É proposta de menino
buchudo, ficar arengando todo dia”.
Silvio Costa tem razão: a oposição que aí está, mais conhecida por
PSDB e DEM, não conseguiu se apresentar à população brasileira como
alternativa ao que vivemos nos últimos 12 anos durante as recentes
eleições — que dirá depois delas. Magno Malta também está certo: se o
Governo do PT é responsável pelo que vivemos hoje política e
economicamente, que seja o PT a tentar resolver os problemas; ou pelo
menos que seja o PT e todo seu arco-íris partidário a sofrer as
consequências de não resolver esses problemas.
O impeachment aguarda atualmente as coordenadas de que caminho deve percorrer: se pelo Tribunal de Contas da União ou pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Então, talvez, não haja opção. Se a presidenta Dilma Rousseff for pega
em alguma irregularidade, a deposição não é questão de escolha.
Cumpra-se a lei. Assim, a sangria termina logo em Brasília, mas o que o
país ganhará com isso além da calmaria momentânea antes da próxima
deposição?
A maior parte dos eleitores brasileiros optou por acreditar em
promessas que se revelariam mentiras semanas após a eleição. Que sofram
as consequências por isso também, e talvez agora aprendam, enfim, que é
preciso mais do que discurso para governar um país. Que aprendam que,
por mais que tentem convencê-los do contrário, um político, um Governo
ou um partido não têm o poder de resolver por mágica ou boas intenções
os problemas do país — ainda mais se, antes de tentar fazê-lo, não
passar por reformas drásticas.
E, se o TCU e o TSE não encontrarem nada de errado, que Dilma Rousseff
permaneça no cargo — contra as pressões que, comenta-se, vêm até de
dentro do próprio PT. Nada de renúncia! Não nos abandone, presidenta.
Não nos deixe sós! Do contrário, podemos cair na tentação de acreditar
que a senhora vai embora por causa dos golpistas; que a economia do país
vai mal por conta do malvado capital financeiro; que a direita enfim
conseguiu minar o cândido Governo de esquerda que nós elegemos com tanto
carinho. Fica, Dilma. E, quem sabe, em 2018 não aparece uma opção
melhor.
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POLÍTICA E ECONOMIA