Ed Ferreira/Folhapress | |
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anuncia seu rompimento com o governo Dilma |
A decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de romper com o governo federal não teve o respaldo do PMDB, seu partido, nem de siglas da oposição. Líderes oposicionistas classificaram nesta sexta (17) como "muito grave" o anúncio feito pelo peemedebista, especialmente se novas denúncias surgirem contra o parlamentar.
A oposição teme que sua decisão crie uma crise institucional, levando a um agravamento da crise política e econômica pela qual passa o país. Eles veem o movimento com cautela e defendem as investigações contra o presidente, sem que Cunha seja poupado por declarar guerra à presidente Dilma Rousseff, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário. Até o momento, apenas o Solidariedade declarou apoio a Cunha publicamente.
Para o líder do Democratas na Câmara, Mendonça Filho (PE), a decisão de Cunha se somará à crise política econômica do governo. "Vislumbro um quadro muito difícil nesse segundo semestre. Há uma instabilidade institucional agravada. Ele declarou publicamente guerra ao governo", disse à Folha.
Mendonça disse que Cunha deve ter o direito de defesa garantido, mas não indicou apoio ao novo posicionamento do presidente da Casa. "Eu, como opositor, tenho como princípio, primeiro, buscar todos os fatos sobre corrupção. Não é porque eu sou opositor que eu vou querer a inviolabilidade institucional. Vou trabalhar para que todas as denúncias sejam apuradas", afirmou. O deputado disse acreditar que Cunha saberá delimitar o seu espaço como parlamentar e presidente da Câmara.
Apesar do tom de cautela, o presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), disse que a decisão de Cunha "abre as portas" para que um eventual pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff avance na Câmara. Cunha vinha se mantendo resistente à possibilidade de acatar pedido de afastamento da presidente, mas Agripino considera que o cenário mudou após as recentes declarações do deputado.
"Se o processo via com o Cunha na presidência um impeditivo, agora temos uma porta aberta se surgirem elementos jurídicos", afirmou.
Já o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), afirmou, em nota, que é preciso ter cuidado e evitar precipitações em um "momento em que se agrava ainda mais a crise política no país, com acusações contra Eduardo Cunha, abertura de investigação criminal contra [o ex-presidente] Lula pelo Ministério Público e investigação das contas da presidente da República [Dilma Rousseff no TSE [Tribunal Superior Eleitoral]".
Para Freire, a Câmara deve estar preparada para, se houver denúncia dos acusados, avaliar que medidas podem ser tomadas. "Se alguns se transformarem em réus em processos judiciais, talvez sejam necessárias licenças", disse na nota.
O PSOL defende que Cunha se afaste do cargo de presidente durante as investigações. "O presidente, ao confundir sua função com sua posição política e os ódios que destila, revela desequilíbrio para prosseguir no cargo. Sem esperança num gesto de grandeza de sua parte, licenciando-se até que tudo fique esclarecido, temos que construir com outras forças políticas esse afastamento, a bem da própria Câmara dos Deputados", disse o deputado Chico Alencar (RJ).
O deputado quer que a CPI da Petrobras promova uma acareação entre o peemedebista e o lobista Júlio Camargo, que nesta quinta (16), acusou Cunha de ter recebido US$ 5 milhões em propina.
O único partido da oposição que saiu em defesa de Cunha foi o Solidariedade, que em nota, afirmou que "nada é mais correto do que se afastar de um governo trapalhão, incompetente e que apaga fogo com gasolina".
Assinada pelo deputado Paulinho da Força (SP), a nota diz ainda que o partido foi um dos "principais fiadores da sua candidatura à presidência da Câmara". "Nestes cinco meses ele comandou a Casa de maneira absolutamente democrática e transparente. E não será uma denúncia sem qualquer tipo de prova que irá abalar a nossa confiança em seu trabalho."
Líderes do PSDB se mantiveram em silêncio sobre o rompimento de Cunha com o governo. O presidente da sigla, Aécio Neves (MG), não se manifestou mesmo após pedido da Folha.
ISOLAMENTO
No PMDB, a ordem é deixar Cunha isolado para evitar que os ataques do presidente da Câmara tenham efeitos sobre a aliança da sigla com o Planalto. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também investigado na Lava Jato, cancelou entrevista para fazer um balanço do semestre e manteve-se em silêncio sobre os ataques de Cunha.
"É uma posição dele, não é partidária. É um ato pessoal. O PMDB entrou [no governo] pela porta da frente. Queremos candidato próprio [à Presidência] em 2018, mas no momento adequado vamos acabar a aliança pela porta da frente. Não por uma porta lateral", afirmou o senador Eunício Oliveira (CE) à Folha, líder do PMDB no Senado.
O senador Romero Jucá (PMDB-RR) disse que Cunha reagiu por ser vítima de um "excesso" das investigações, mas tomou uma posição individual. Crítico do governo Dilma, Jucá disse que adota postura "independente", mas não está rompido com o Planalto, ao contrário do presidente da Câmara. O peemedebista se diz "bombeiro" do atual momento de crise.
"O demérito não é ser investigado, o demérito é ser condenado. Então, enquanto não se condenar ninguém, você tem que ter uma postura equilibrada e da forma como estão se fazendo as divulgações, estão se fazendo prejulgamentos", disse Jucá ao defender a retomada do "clima de tranquilidade" nas investigações.
Líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS) disse que a decisão de Cunha é pessoal e não deve influenciar nas votações da Câmara. "Quem fala pelo PMDB são as instâncias nacionais, mas o cargo que ocupa exige dele posturas republicanas", afirmou o petista.
No mesmo sentido, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse que o PMDB exerce um papel fundamental, principalmente agora que faz a coordenação política, conduzida por Temer. "Espero que a posição individual, que nós respeitamos, seja pautada pela imparcialidade porque essa é a relação entre as instâncias do governo", disse à Folha. "O governo reafirma a importância da parceria com o PMDB", completou.
Guimarães afirmou ainda que o governo não tem nenhum tipo de ingerência sobre as investigações. "O governo não tem nada a ver com isso. O governo não se intromete, até porque não deve e não pode fazer isso", disse.
TIRO NO PÉ
Nos bastidores, a cúpula peemedebista considerou a atitude de Cunha um "tiro no pé", típica de quem está em "desespero". O partido acredita que o deputado deve perder força dentro da Câmara por atingir, de uma só vez, o Planalto, o Ministério Público e o Judiciário.
Cunha se reuniu na noite desta quinta com o vice-presidente Michel Temer e Renan, a quem anunciou que romperia com o governo. Segundo relatos, o deputado estava nervoso e, aos gritos, acusou o Planalto de colocar sua "digital" nas investigações para prejudicá-lo.
Temer ligou para diversos peemedebistas e pediu apoio em sua decisão de manter Cunha isolado, assim como numa eventual reunião da Executiva Nacional convocada por aliados do presidente da Câmara. O partido soltou nota para dizer que a posição de Cunha é individual] e não reflete a postura da sigla.
A oposição teme que sua decisão crie uma crise institucional, levando a um agravamento da crise política e econômica pela qual passa o país. Eles veem o movimento com cautela e defendem as investigações contra o presidente, sem que Cunha seja poupado por declarar guerra à presidente Dilma Rousseff, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário. Até o momento, apenas o Solidariedade declarou apoio a Cunha publicamente.
Para o líder do Democratas na Câmara, Mendonça Filho (PE), a decisão de Cunha se somará à crise política econômica do governo. "Vislumbro um quadro muito difícil nesse segundo semestre. Há uma instabilidade institucional agravada. Ele declarou publicamente guerra ao governo", disse à Folha.
Mendonça disse que Cunha deve ter o direito de defesa garantido, mas não indicou apoio ao novo posicionamento do presidente da Casa. "Eu, como opositor, tenho como princípio, primeiro, buscar todos os fatos sobre corrupção. Não é porque eu sou opositor que eu vou querer a inviolabilidade institucional. Vou trabalhar para que todas as denúncias sejam apuradas", afirmou. O deputado disse acreditar que Cunha saberá delimitar o seu espaço como parlamentar e presidente da Câmara.
Apesar do tom de cautela, o presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), disse que a decisão de Cunha "abre as portas" para que um eventual pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff avance na Câmara. Cunha vinha se mantendo resistente à possibilidade de acatar pedido de afastamento da presidente, mas Agripino considera que o cenário mudou após as recentes declarações do deputado.
"Se o processo via com o Cunha na presidência um impeditivo, agora temos uma porta aberta se surgirem elementos jurídicos", afirmou.
Já o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), afirmou, em nota, que é preciso ter cuidado e evitar precipitações em um "momento em que se agrava ainda mais a crise política no país, com acusações contra Eduardo Cunha, abertura de investigação criminal contra [o ex-presidente] Lula pelo Ministério Público e investigação das contas da presidente da República [Dilma Rousseff no TSE [Tribunal Superior Eleitoral]".
Para Freire, a Câmara deve estar preparada para, se houver denúncia dos acusados, avaliar que medidas podem ser tomadas. "Se alguns se transformarem em réus em processos judiciais, talvez sejam necessárias licenças", disse na nota.
O PSOL defende que Cunha se afaste do cargo de presidente durante as investigações. "O presidente, ao confundir sua função com sua posição política e os ódios que destila, revela desequilíbrio para prosseguir no cargo. Sem esperança num gesto de grandeza de sua parte, licenciando-se até que tudo fique esclarecido, temos que construir com outras forças políticas esse afastamento, a bem da própria Câmara dos Deputados", disse o deputado Chico Alencar (RJ).
O deputado quer que a CPI da Petrobras promova uma acareação entre o peemedebista e o lobista Júlio Camargo, que nesta quinta (16), acusou Cunha de ter recebido US$ 5 milhões em propina.
O único partido da oposição que saiu em defesa de Cunha foi o Solidariedade, que em nota, afirmou que "nada é mais correto do que se afastar de um governo trapalhão, incompetente e que apaga fogo com gasolina".
Assinada pelo deputado Paulinho da Força (SP), a nota diz ainda que o partido foi um dos "principais fiadores da sua candidatura à presidência da Câmara". "Nestes cinco meses ele comandou a Casa de maneira absolutamente democrática e transparente. E não será uma denúncia sem qualquer tipo de prova que irá abalar a nossa confiança em seu trabalho."
Líderes do PSDB se mantiveram em silêncio sobre o rompimento de Cunha com o governo. O presidente da sigla, Aécio Neves (MG), não se manifestou mesmo após pedido da Folha.
ISOLAMENTO
No PMDB, a ordem é deixar Cunha isolado para evitar que os ataques do presidente da Câmara tenham efeitos sobre a aliança da sigla com o Planalto. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também investigado na Lava Jato, cancelou entrevista para fazer um balanço do semestre e manteve-se em silêncio sobre os ataques de Cunha.
"É uma posição dele, não é partidária. É um ato pessoal. O PMDB entrou [no governo] pela porta da frente. Queremos candidato próprio [à Presidência] em 2018, mas no momento adequado vamos acabar a aliança pela porta da frente. Não por uma porta lateral", afirmou o senador Eunício Oliveira (CE) à Folha, líder do PMDB no Senado.
O senador Romero Jucá (PMDB-RR) disse que Cunha reagiu por ser vítima de um "excesso" das investigações, mas tomou uma posição individual. Crítico do governo Dilma, Jucá disse que adota postura "independente", mas não está rompido com o Planalto, ao contrário do presidente da Câmara. O peemedebista se diz "bombeiro" do atual momento de crise.
"O demérito não é ser investigado, o demérito é ser condenado. Então, enquanto não se condenar ninguém, você tem que ter uma postura equilibrada e da forma como estão se fazendo as divulgações, estão se fazendo prejulgamentos", disse Jucá ao defender a retomada do "clima de tranquilidade" nas investigações.
Líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS) disse que a decisão de Cunha é pessoal e não deve influenciar nas votações da Câmara. "Quem fala pelo PMDB são as instâncias nacionais, mas o cargo que ocupa exige dele posturas republicanas", afirmou o petista.
No mesmo sentido, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse que o PMDB exerce um papel fundamental, principalmente agora que faz a coordenação política, conduzida por Temer. "Espero que a posição individual, que nós respeitamos, seja pautada pela imparcialidade porque essa é a relação entre as instâncias do governo", disse à Folha. "O governo reafirma a importância da parceria com o PMDB", completou.
Guimarães afirmou ainda que o governo não tem nenhum tipo de ingerência sobre as investigações. "O governo não tem nada a ver com isso. O governo não se intromete, até porque não deve e não pode fazer isso", disse.
TIRO NO PÉ
Nos bastidores, a cúpula peemedebista considerou a atitude de Cunha um "tiro no pé", típica de quem está em "desespero". O partido acredita que o deputado deve perder força dentro da Câmara por atingir, de uma só vez, o Planalto, o Ministério Público e o Judiciário.
Cunha se reuniu na noite desta quinta com o vice-presidente Michel Temer e Renan, a quem anunciou que romperia com o governo. Segundo relatos, o deputado estava nervoso e, aos gritos, acusou o Planalto de colocar sua "digital" nas investigações para prejudicá-lo.
Temer ligou para diversos peemedebistas e pediu apoio em sua decisão de manter Cunha isolado, assim como numa eventual reunião da Executiva Nacional convocada por aliados do presidente da Câmara. O partido soltou nota para dizer que a posição de Cunha é individual] e não reflete a postura da sigla.
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