Ernesto Rodrigues - 4.nov.2014/Folhapress | ||
O publicitário Paulo Vasconcelos, responsável pela campanha de Aécio Neves |
O publicitário que coordenou a campanha de Aécio Neves (PSDB) à
Presidência, Paulo Vasconcelos, faz coro às críticas do candidato à
estratégia de comunicação adotada pelo PT durante a disputa: "Eu já
tinha visto a baixaria acontecer por estupidez, mas nunca havia visto
ela ser explorada com profissionalismo", diz.
Na primeira entrevista após a derrota de Aécio, Vasconcelos avalia a
campanha mais acirrada desde a redemocratização. E deixa uma provocação
ao marqueteiro da presidente Dilma Rousseff, João Santana, que em 2013
previa a reeleição da petista no primeiro turno dizendo que os
adversários protagonizariam uma "antropofagia de anões": "A oposição tem
um anão grandão, né? Só três centímetros menor do que a anã dele
[risos]."
*
Folha - O que foi decisivo para a derrota tucana?
Paulo Vasconcelos- Não consigo ver o resultado como derrota.
Aécio tinha 10% na pré-campanha, passou para 20%, e aí a eleição mudou
na antevéspera de começar a propaganda na TV. Toda a estratégia, meses
de análise, tudo caiu junto com a catástrofe de Eduardo Campos
[candidato do PSB que morreu em um acidente de avião]. A ida para o
segundo turno se deu em uma grande onda e já havia uma previsão de
queda. Ele ainda não era muito conhecido. Largou com votos de quem não
queria a Dilma, mas teve pouco tempo para trabalhar um eleitor só dele.
Por isso, o resultado foi uma vitória para ele e para a campanha.
Os 51 milhões de votos são um patrimônio pessoal do Aécio ou
representam um eleitorado que não quer o PT e votaria em qualquer
antagonista?
A campanha terminou com o Aécio sendo visto como uma alternativa. Claro
que parte desse eleitorado tem mais aversão ao PT do que paixão pelo
Aécio, mas hoje essa é uma parcela pequena. Ele passou a ser a porta de
esperança para uma insatisfação que estava escondida.
Após a derrota, houve manifestações e algumas pessoas pediram a volta
da ditadura. Como vê a associação do Aécio a esses setores?
São duas questões que devem ser separadas. Essa história de volta do
regime militar não tem nada a ver com a trajetória do Aécio. Ele é filho
da democracia e representa um partido social-democrata.
Já tinha visto a baixaria acontecer por estupidez, ignorância ou paixão,
mas nunca havia visto a baixaria ser explorada com profissionalismo.
Eles estimulavam nas redes sociais que o Aécio tinha um comportamento
dúbio com mulheres, por exemplo. Depois acontecia uma pergunta no debate
e por fim o programa de TV se referia a isso. Existia uma rede que se
intercomunicava para tentar dar àquela afirmação uma percepção tangível.
Há a avaliação de que a agressividade teve mão dupla. A Petrobras foi
muito usada por vocês, assim como a suposta incapacidade da presidente
com a economia.
São dois pesos e duas medidas aí. Petrobras não é um assunto construído
nas redes sociais, não é mentira. Essa é uma comparação da mentira com a
verdade.
Mas o que teve mais impacto: a boataria nas redes ou as críticas na TV?
O produto final é que essa campanha [do PT] deseducou o eleitor. Deu
oportunidade de as pessoas saírem às ruas com faixa de apologia ao
regime militar porque saiu do debate político e entrou na estupidez. E
na estupidez cabe tudo. O pai e a mãe daqueles cartazes é a baixaria.
E como viu a decisão do PSDB de pedir uma auditoria no resultado das eleições?
Preferia não comentar. O PSDB pode acertar ou errar na tentativa de fazer uma oposição mais aguda.
Renato Pereira, que coordenou a propaganda de Aécio antes da eleição,
disse sua campanha pregou para convertidos'. Como avaliou isso?
Acho deselegante comentar o trabalho de colegas. Mas digo que se temos 51 milhões de convertidos, é bem legal.
Num balanço, então, qual foi o maior erro e o maior acerto da campanha?
O maior acerto foi não ter esmorecido. Eu talvez tenha trabalhado com a
melhor equipe que já tive. O maior erro... Não estava no nosso radar ir
para o segundo turno. Se falasse ao telefone na quarta-feira antes do
domingo da eleição, o Aécio não estava indo para o segundo turno. As
pesquisas não nos deram um norte. Os institutos deveriam fazer uma
autocrítica para a gente não perder uma ferramenta importante.
O que foi determinante para a dupla derrota em Minas?
Desde 2012 existe uma agenda intensa da presidente e dos partidos de
oposição para dificultar o caminho do Aécio. Além disso, o Pimentel
[Fernando Pimentel, do PT, eleito governador no primeiro turno] não era
visto como inimigo do Aécio. Eles protagonizaram uma das jogadas mais
interessantes da política recente quando se juntaram para eleger o
Márcio Lacerda prefeito [de Belo Horizonte]. Acho ainda que a campanha
do Pimenta da Veiga (PSDB) não se preparou para defender o legado.
Por que Aécio teve o melhor desempenho da oposição desde 2003?
Numa eleição com tantas idas e vindas, o Aécio foi capaz de liderar. O
PSDB nunca defendeu tanto sua história, nunca expôs tanto seu respeito
pelo Fernando Henrique Cardoso. Aécio mostrou que tinha lado. Isso
provocou nas pessoas um: "Ufa! Posso abrir a janela e dizer que eu gosto
disso". O maior legado dele é ter feito as pessoas torcerem,
conversarem sobre política.
Aécio levou dez dias para assumir que usou o aeroporto de Cláudio. Foi a decisão certa?
Esse assunto veio num momento em que o PSDB não tinha mídia para fazer o
enfrentamento. A estratégia foi a possível de ser feita.
E como viu João Santana?
Ele ganhou, é o vitorioso. Mas agora a oposição tem um anão grandão, né? Só três centímetros menor do que a anã dele. [risos]
-
RAIO-X
PAULO VASCONCELOS
- AGÊNCIA - Vitória CI
- CAMPANHAS - Coordenou as campanhas de Aécio Neves ao governo de Minas em 2002 e 2006, e a de Antonio Anastasia em 2010
- ORIGENS - Natural de Belo Horizonte, Paulo Vasconcelos começou na área de marketing político em 1986 a convite de Aécio Cunha (PFL), pai do senador Aécio Neves. Depois trabalhou na DNA Propaganda. Em 1994, Paulo fundou o embrião da Vitória CI, a Vitória Marketing Político. Coordenou a campanha de Eduardo Azeredo (PSDB) em 1998
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