segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Campanha de Dilma explorou a baixaria com profissionalismo




Ernesto Rodrigues - 4.nov.2014/Folhapress
O publicitário Paulo Vasconcelos, responsável pela campanha de Aécio Neves
O publicitário Paulo Vasconcelos, responsável pela campanha de Aécio Neves
O publicitário que coordenou a campanha de Aécio Neves (PSDB) à Presidência, Paulo Vasconcelos, faz coro às críticas do candidato à estratégia de comunicação adotada pelo PT durante a disputa: "Eu já tinha visto a baixaria acontecer por estupidez, mas nunca havia visto ela ser explorada com profissionalismo", diz. 

Na primeira entrevista após a derrota de Aécio, Vasconcelos avalia a campanha mais acirrada desde a redemocratização. E deixa uma provocação ao marqueteiro da presidente Dilma Rousseff, João Santana, que em 2013 previa a reeleição da petista no primeiro turno dizendo que os adversários protagonizariam uma "antropofagia de anões": "A oposição tem um anão grandão, né? Só três centímetros menor do que a anã dele [risos]."

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Folha - O que foi decisivo para a derrota tucana?
Paulo Vasconcelos- Não consigo ver o resultado como derrota. Aécio tinha 10% na pré-campanha, passou para 20%, e aí a eleição mudou na antevéspera de começar a propaganda na TV. Toda a estratégia, meses de análise, tudo caiu junto com a catástrofe de Eduardo Campos [candidato do PSB que morreu em um acidente de avião]. A ida para o segundo turno se deu em uma grande onda e já havia uma previsão de queda. Ele ainda não era muito conhecido. Largou com votos de quem não queria a Dilma, mas teve pouco tempo para trabalhar um eleitor só dele. Por isso, o resultado foi uma vitória para ele e para a campanha.
 
Os 51 milhões de votos são um patrimônio pessoal do Aécio ou representam um eleitorado que não quer o PT e votaria em qualquer antagonista?
A campanha terminou com o Aécio sendo visto como uma alternativa. Claro que parte desse eleitorado tem mais aversão ao PT do que paixão pelo Aécio, mas hoje essa é uma parcela pequena. Ele passou a ser a porta de esperança para uma insatisfação que estava escondida.


Após a derrota, houve manifestações e algumas pessoas pediram a volta da ditadura. Como vê a associação do Aécio a esses setores?
São duas questões que devem ser separadas. Essa história de volta do regime militar não tem nada a ver com a trajetória do Aécio. Ele é filho da democracia e representa um partido social-democrata. 

Aécio diz que o PT fez a "mais baixa campanha" desde a redemocratização. Como avalia?
Já tinha visto a baixaria acontecer por estupidez, ignorância ou paixão, mas nunca havia visto a baixaria ser explorada com profissionalismo. Eles estimulavam nas redes sociais que o Aécio tinha um comportamento dúbio com mulheres, por exemplo. Depois acontecia uma pergunta no debate e por fim o programa de TV se referia a isso. Existia uma rede que se intercomunicava para tentar dar àquela afirmação uma percepção tangível.
 
Há a avaliação de que a agressividade teve mão dupla. A Petrobras foi muito usada por vocês, assim como a suposta incapacidade da presidente com a economia.
São dois pesos e duas medidas aí. Petrobras não é um assunto construído nas redes sociais, não é mentira. Essa é uma comparação da mentira com a verdade.
 
Mas o que teve mais impacto: a boataria nas redes ou as críticas na TV?
O produto final é que essa campanha [do PT] deseducou o eleitor. Deu oportunidade de as pessoas saírem às ruas com faixa de apologia ao regime militar porque saiu do debate político e entrou na estupidez. E na estupidez cabe tudo. O pai e a mãe daqueles cartazes é a baixaria.
 
E como viu a decisão do PSDB de pedir uma auditoria no resultado das eleições?
Preferia não comentar. O PSDB pode acertar ou errar na tentativa de fazer uma oposição mais aguda.
 
Renato Pereira, que coordenou a propaganda de Aécio antes da eleição, disse sua campanha pregou para convertidos'. Como avaliou isso?
Acho deselegante comentar o trabalho de colegas. Mas digo que se temos 51 milhões de convertidos, é bem legal.
 
Num balanço, então, qual foi o maior erro e o maior acerto da campanha?
O maior acerto foi não ter esmorecido. Eu talvez tenha trabalhado com a melhor equipe que já tive. O maior erro... Não estava no nosso radar ir para o segundo turno. Se falasse ao telefone na quarta-feira antes do domingo da eleição, o Aécio não estava indo para o segundo turno. As pesquisas não nos deram um norte. Os institutos deveriam fazer uma autocrítica para a gente não perder uma ferramenta importante.
 
O que foi determinante para a dupla derrota em Minas?
Desde 2012 existe uma agenda intensa da presidente e dos partidos de oposição para dificultar o caminho do Aécio. Além disso, o Pimentel [Fernando Pimentel, do PT, eleito governador no primeiro turno] não era visto como inimigo do Aécio. Eles protagonizaram uma das jogadas mais interessantes da política recente quando se juntaram para eleger o Márcio Lacerda prefeito [de Belo Horizonte]. Acho ainda que a campanha do Pimenta da Veiga (PSDB) não se preparou para defender o legado.
 
Por que Aécio teve o melhor desempenho da oposição desde 2003?
Numa eleição com tantas idas e vindas, o Aécio foi capaz de liderar. O PSDB nunca defendeu tanto sua história, nunca expôs tanto seu respeito pelo Fernando Henrique Cardoso. Aécio mostrou que tinha lado. Isso provocou nas pessoas um: "Ufa! Posso abrir a janela e dizer que eu gosto disso". O maior legado dele é ter feito as pessoas torcerem, conversarem sobre política.
 
Aécio levou dez dias para assumir que usou o aeroporto de Cláudio. Foi a decisão certa?
Esse assunto veio num momento em que o PSDB não tinha mídia para fazer o enfrentamento. A estratégia foi a possível de ser feita.
 
E como viu João Santana?
Ele ganhou, é o vitorioso. Mas agora a oposição tem um anão grandão, né? Só três centímetros menor do que a anã dele. [risos]
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RAIO-X

PAULO VASCONCELOS
  • AGÊNCIA - Vitória CI
  • CAMPANHAS - Coordenou as campanhas de Aécio Neves ao governo de Minas em 2002 e 2006, e a de Antonio Anastasia em 2010
  • ORIGENS - Natural de Belo Horizonte, Paulo Vasconcelos começou na área de marketing político em 1986 a convite de Aécio Cunha (PFL), pai do senador Aécio Neves. Depois trabalhou na DNA Propaganda. Em 1994, Paulo fundou o embrião da Vitória CI, a Vitória Marketing Político. Coordenou a campanha de Eduardo Azeredo (PSDB) em 1998

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