Depois de uma campanha eleitoral tão disputada quanto repleta de
imprevistos, chama a atenção o clima de expectativa e de especulação
abafada que cercou o breve descanso da presidente Dilma Rousseff (PT)
numa base naval do litoral baiano.
É como se desse curto interregno tivesse de sair uma figura diferente daquela que exerceu o governo nos últimos quatro anos. A própria publicidade eleitoral reconhecia a importância das mudanças, ao mesmo tempo em que apostava na bandeira da continuidade.
Insiste-se na necessidade de superar o perfil inóspito da presidente e de estabelecer pontes mais largas de contato entre o Planalto e os sistemas político e financeiro.
De algum modo se fortaleceu, entretanto, a expectativa de que, no segundo mandato, Dilma possa reinventar algo do espírito moralizador e intransigente dos tempos, já distantes, em que o rótulo mercadológico de "faxineira" obtinha ressonância na classe média.
Serão incompatíveis essas expectativas? Reinou o silêncio na praia de Aratu (BA). Num visível aceno ao mercado, o Banco Central surpreendeu os analistas ao elevar os juros básicos da economia.
Haveria nisso um sinal de preocupação, por parte da presidente, com os rumos da macroeconomia, visivelmente negligenciados durante o ano eleitoral? Ou se trata de iniciativa, vá lá o termo, autônoma das autoridades monetárias?
A essa pergunta se soma a que diz respeito ao nome do futuro ministro da Fazenda. Não se tem certeza quanto à disposição de Dilma para mitigar o estilo centralizador que a caracteriza, mas nomes fortes na economia –e na articulação política– parecem indispensáveis.
Vencedora nas urnas, a presidente viu nos últimos dias um renovado movimento de rebeldia em sua base parlamentar.
Os presidentes da Câmara e do Senado exercem sem maiores reverências o papel de representantes das pressões peemedebistas por mais cargos no novo ministério. Partidos menores acompanham o movimento, e desse acerado apetite resulta a preparação de uma pauta explosiva de propostas de gastos no Congresso.
A nova presidente –que é, porém, a mesma– ganhou inegável capital de votos e de autonomia depois de outubro. Não haverá de ignorar que o continuísmo de seus métodos não condiz com o horizonte de mais quatro anos no poder; mas dificilmente saberá reconfigurar um sistema que, se por vezes a exaspera, também lhe compraz.
Das águas de Aratu, o que vai emergir não se sabe: improvável Minerva ou impossível Medusa, a presidente descansou e, espera-se, refletiu sobre seu futuro.
FOLHA>UOL
LEOPOLDINA CORRÊA é jornalista com formação em Mídias Digitais pela UFC >>>> Diploma
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POLÍTICA E ECONOMIA