Depoimentos colhidos pela Polícia Federal e pela Procuradoria de Mato
Grosso envolvem o ministro da Agricultura, Neri Geller (PMDB), no
suposto esquema de venda ilegal de terras da União destinadas à reforma
agrária no Estado.
Como Geller possui foro privilegiado, os autos foram encaminhados ao STF
(Supremo Tribunal Federal). A corte ficará responsável por uma eventual
investigação sobre as suspeitas de participação dele no esquema.
A Operação Terra Prometida, deflagrada nesta quinta-feira (27), prendeu
40 pessoas suspeitas de participação no esquema. Dois irmãos do
ministro, os produtores rurais Odair e Milton Geller, se apresentaram à PF ontem e estão detidos no centro de custódia de Cuiabá.
Márcia Ribeiro - 28.abr.2014/Folhapress | ||
O ministro da Agricultura, Neri Geller, discursa na abertura da 21ª Agrishow em Ribeirão Preto |
Os depoimentos constam em decisão da Justiça Federal, assinada pelo juiz Fábio Henrique Rodrigues de Moraes Fiorenza, e que a Folha teve acesso.
Nela, o juiz diz que, segundo as investigações, "o chamado 'Grupo
Geller' seria comandado" por Neri Geller, que chegou a ter lotes
fraudados. De acordo com a operação, o grupo da família do ministro
possui mais de 15 lotes. Além dos irmãos, há vários outros parentes do
ministro citados nas investigações.
Num dos depoimentos, uma funcionária dos Geller diz que o peemedebista,
"na condição de ministro da Agricultura, tem se empenhado tanto em
pressionar o superintendente do Incra através do presidente do Incra de
Brasília".
Noutro trecho da decisão, um dos depoentes contou que o "grupo de
bandidos", além de tomar os lotes, ficava com 70% do crédito que o
governo mandava para os assentados. "Se nós não aceitássemos essas
condições, éramos expulsos do lote e obrigados a assinarmos a
desistência do lote."
No mesmo depoimento, dado em 8 de agosto de 2014, ele aponta quem seriam
os "laranjas" do ministro, alguns deles parentes de Geller, e diz que
maioria deles nem sabe onde ficam os lotes.
Noutro trecho, uma testemunha que não se identificou disse que a
"organização criminosa tem braços políticos (...) que fizeram doações
para campanhas eleitorais", dentre elas, a de Geller, reeleito deputado
federal em 2010.
O SUPOSTO ESQUEMA
O grupo formado por empresários e fazendeiros, entre eles os irmãos
Odair e Milton Geller, se apossava das áreas públicas, segundo as
investigações. Usando de expedientes como documentos falsos, vistorias
simuladas e força física, a quadrilha tomava as terras de pequenos
produtores.
Empresas multinacionais e do agronegócio também se beneficiaram do
esquema fraudulento, ocupando parte desses terrenos. Os prejuízos
causados aos sofres públicos podem atingir R$ 1 bilhão, segundo a
polícia.
Horas após a PF iniciar as diligências, o ministro da Agricultura
afirmou por meio de nota oficial que não estava envolvido na operação.
Afirmou ainda que não acreditava na participação de seus parentes, mas que lamentava o episódio.
Nesta sexta, a Polícia Federal também enviou nota à imprensa destacando
que o ministro não foi investigado no processo que corre na Justiça
Federal e resultou na prisão de seus irmãos.
A citação ao nome de Geller e o envio do material ao STF, no entanto,
pode precipitar sua saída da Esplanada. A substituição dele já era
tratada como questão de tempo no Palácio do Planalto. A senadora e
colunista da Folha Kátia Abreu (TO), também do PMDB, é a favorita para assumir a cadeira.
Antes mesmo da prisão de seus irmãos, o ministro vinha expondo a
correligionários o desejo de continuar no cargo durante o segundo
mandato de Dilma Rousseff. Na semana passada, procurou integrantes do
alto escalão peemedebista, inclusive o vice-presidente Michel Temer,
para tentar construir a permanência.
O governo ainda não bateu martelo sobre a data da saída. No Palácio do
Planalto, entretanto, a queda imediata de Geller é tratada como uma das
possibilidades.
O ministro não figura entre os quadros mais representativos do PMDB. Tem
bom trânsito com uma parte significativa da bancada da Câmara, embora
mão seja unanimidade entre os deputados do partido.
OUTRO LADO
A Folha tentou entrou em contato com o ministro no início da
noite. Uma assessora, porém, afirmou que ela estava participando de uma
audiência e não poderia atender o telefone.
A assessoria de imprensa do ministério informou apenas que Geller não
foi notificado oficialmente e, por isso, não iria se pronunciar sobre as
citações ao nome dele durante a investigação da Polícia Federal.
A defesa dos irmãos do ministro alegou que seus clientes são inocentes.
A reportagem tentou ainda falar com o Incra sobre as investigações, mas não conseguiu até o fechamento desta edição.
FOLHA
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