Não parece, mas a constatação é de Sergio Moro, 42, juiz federal que, neste mês, mandou prender altos executivos das maiores empreiteiras do país na Operação Lava Jato, que apura esquema de desvio e lavagem de dinheiro envolvendo a Petrobras.
Escrita em 30 de março de 2009, a frase é parte de um e-mail dele a amigos dizendo que desistira de julgar crimes de colarinho branco. "O melhor é investigar e abrir processos somente em relação ao tráfico de drogas e lavagem dela decorrente, para os quais o sistema ainda é eficiente."
Na época, o magistrado estava desiludido com a maneira com que a Justiça
tratava casos como o do banqueiro Daniel Dantas, solto em 2009 após
decisão do ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal),
com um pito público em um juiz federal, Fausto de Sanctis.
Moro, que não gosta de dar entrevistas, contou a amigos que não pensa como antes porque país e tribunais mudaram de ideia. Sobretudo após o julgamento do mensalão.
Dois números ilustram a mudança: advogados de alvos da Lava Jato já perderam mais de cem recursos, enquanto Moro teve só uma derrota –em maio, o STF mandou soltar o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
DISCRIÇÃO
Paranaense de Maringá e filho de um professor de geografia da UEM (Universidade Estadual de Maringá), onde se formou em direito, o juiz é descrito como obstinado, concentrado e discreto.
"Era tido pelos colegas como intelectualmente diferenciado. Reservado, estudioso, com um humor muito refinado", diz o juiz federal Anderson Furlan, 39, amigo de Moro desde 1992, quando, calouro, foi salvo por ele num trote.
Moro não era visto em festas e passava longe do movimento estudantil. "Nunca soube pra quem ele votou", assegura Furlan. Nem time de futebol? "Não tem. E se tivesse, não falaria porque talvez pudesse julgar esse time um dia. Discrição à pura prova."
Após um breve período trabalhando em um escritório de direito tributário, Moro tornou-se juiz federal cedo, aos 24 anos, em 1996.
Em 2003, começou seu primeiro grande caso, a investigação sobre a remessa ilegal ao exterior de cerca de US$ 30 bilhões via Banestado, banco estatal do Paraná. Nele, aprofundou conhecimentos sobre lavagem e colaboração com outros países, principalmente os EUA, onde estudou.
Em 2004, participou da Operação Farol da Colina, que culminou na prisão de 63 doleiros –a maior apuração sobre lavagem no Brasil até a Lava Jato. A experiência motivou a ministra Rosa Weber a convocá-lo para ajudá-la no julgamento do mensalão, em 2012. Advogados ficaram apreensivos –sua fama de "linha dura" já era grande.
A experiência rendeu. "Ele conheceu como pensam os ministros. Sabe onde uma investigação pode se tornar mais ou menos frágil", afirma o amigo Furlan. "É simples e discreto", diz Leonardo de Farias Duarte, juiz que foi auxiliar de Joaquim Barbosa na mesma época.
Entre os poucos comentários aos demais auxiliares sobre sua vida, Moro falou sobre seu descontentamento com os rumos da ação que movia contra a Universidade Federal do Paraná, onde até hoje ensina direito penal.
Por causa do trabalho no STF, ele tentou convencer a instituição a deixá-lo lecionar por três horários consecutivos às sextas-feiras, o que feria as normas internas. Moro ficou contrariado com a recusa e entrou com o processo. Perdeu em duas instâncias.
Nas classes, afrouxa a sisudez. É sério e exigente, mas faz tiradas e é acessível. Com alguns estudantes, trocava até torpedos. No início do ano, foi escolhido como nome de turma e participou do almoço de despedida dos alunos.
Um de seus temas preferidos nas aulas é a Operação Mãos Limpas, que combateu a lavagem de dinheiro e desmontou a máfia na Itália.
MELHOR SÓ
Na Lava Jato, a fama de juiz duro e competente vem se consolidando.
"Eu apanhei bastante dele. Não é fácil", conta um advogado com carreira na área criminal, que pediu para não ter o nome publicado. "Ele fundamenta as decisões muito bem. Conseguir reverter uma decisão é muito difícil."
A oposição, que aposta na Lava Jato como principal fonte de desgaste do PT no governo federal, tem saído em defesa de Moro. Parlamentares do bloco fizeram chegar a seus ouvidos que, caso se sentisse pressionado ou ameaçado, poderia pedir ajuda.
O juiz jamais respondeu aos acenos. Segundo interlocutores escalados para essas missões, manda dizer que agradece a preocupação, mas está muito bem sozinho, obrigado.
Moro, que não gosta de dar entrevistas, contou a amigos que não pensa como antes porque país e tribunais mudaram de ideia. Sobretudo após o julgamento do mensalão.
Dois números ilustram a mudança: advogados de alvos da Lava Jato já perderam mais de cem recursos, enquanto Moro teve só uma derrota –em maio, o STF mandou soltar o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
DISCRIÇÃO
Paranaense de Maringá e filho de um professor de geografia da UEM (Universidade Estadual de Maringá), onde se formou em direito, o juiz é descrito como obstinado, concentrado e discreto.
"Era tido pelos colegas como intelectualmente diferenciado. Reservado, estudioso, com um humor muito refinado", diz o juiz federal Anderson Furlan, 39, amigo de Moro desde 1992, quando, calouro, foi salvo por ele num trote.
Moro não era visto em festas e passava longe do movimento estudantil. "Nunca soube pra quem ele votou", assegura Furlan. Nem time de futebol? "Não tem. E se tivesse, não falaria porque talvez pudesse julgar esse time um dia. Discrição à pura prova."
Após um breve período trabalhando em um escritório de direito tributário, Moro tornou-se juiz federal cedo, aos 24 anos, em 1996.
Em 2003, começou seu primeiro grande caso, a investigação sobre a remessa ilegal ao exterior de cerca de US$ 30 bilhões via Banestado, banco estatal do Paraná. Nele, aprofundou conhecimentos sobre lavagem e colaboração com outros países, principalmente os EUA, onde estudou.
Em 2004, participou da Operação Farol da Colina, que culminou na prisão de 63 doleiros –a maior apuração sobre lavagem no Brasil até a Lava Jato. A experiência motivou a ministra Rosa Weber a convocá-lo para ajudá-la no julgamento do mensalão, em 2012. Advogados ficaram apreensivos –sua fama de "linha dura" já era grande.
A experiência rendeu. "Ele conheceu como pensam os ministros. Sabe onde uma investigação pode se tornar mais ou menos frágil", afirma o amigo Furlan. "É simples e discreto", diz Leonardo de Farias Duarte, juiz que foi auxiliar de Joaquim Barbosa na mesma época.
Entre os poucos comentários aos demais auxiliares sobre sua vida, Moro falou sobre seu descontentamento com os rumos da ação que movia contra a Universidade Federal do Paraná, onde até hoje ensina direito penal.
Por causa do trabalho no STF, ele tentou convencer a instituição a deixá-lo lecionar por três horários consecutivos às sextas-feiras, o que feria as normas internas. Moro ficou contrariado com a recusa e entrou com o processo. Perdeu em duas instâncias.
Nas classes, afrouxa a sisudez. É sério e exigente, mas faz tiradas e é acessível. Com alguns estudantes, trocava até torpedos. No início do ano, foi escolhido como nome de turma e participou do almoço de despedida dos alunos.
Um de seus temas preferidos nas aulas é a Operação Mãos Limpas, que combateu a lavagem de dinheiro e desmontou a máfia na Itália.
MELHOR SÓ
Na Lava Jato, a fama de juiz duro e competente vem se consolidando.
"Eu apanhei bastante dele. Não é fácil", conta um advogado com carreira na área criminal, que pediu para não ter o nome publicado. "Ele fundamenta as decisões muito bem. Conseguir reverter uma decisão é muito difícil."
A oposição, que aposta na Lava Jato como principal fonte de desgaste do PT no governo federal, tem saído em defesa de Moro. Parlamentares do bloco fizeram chegar a seus ouvidos que, caso se sentisse pressionado ou ameaçado, poderia pedir ajuda.
O juiz jamais respondeu aos acenos. Segundo interlocutores escalados para essas missões, manda dizer que agradece a preocupação, mas está muito bem sozinho, obrigado.
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