Dom, 30/11/2014 às 08:45
Mônica Ciarelli e Fernanda Nunes
O presidente licenciado da Transpetro, Sergio Machado, vai
deixar definitivamente nesta semana o comando da subsidiária de
logística e transportes da Petrobrás. Machado foi envolvido pelo
ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa em um esquema de corrupção
na estatal petrolífera investigado pela Operação Lava Jato. A
presidência da Transpetro, no entanto, deve continuar sob influência do
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Machado se
licenciou no dia 3, logo após a PriceWaterhouseCoopers, que audita o
balanço da petroleira, ter se recusado a assinar o documento caso o
presidente da Transpetro permanecesse no cargo. Em depoimento ao juiz
federal Sérgio Moro, no Paraná, Costa disse que recebeu R$ 500 mil em
dinheiro das mãos de Machado, como parte do esquema de pagamento de
propina envolvendo a Petrobrás (mais informações na pág. A9). Até agora,
ele é o único dirigente do atual comando da estatal e subsidiárias que
teve o nome relacionado diretamente ao esquema de propinas.
Anteontem,
promotores do Ministério Público do Rio ouviram como testemunha o
ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, que cumpre pena domiciliar
na capital fluminense, em outro inquérito, de 2010, que investiga a
"evolução patrimonial incompatível com a renda do presidente da
Transpetro".
Com a saída definitiva do executivo, o comando
da Transpetro entrou na cota de negociação da presidente Dilma Rousseff
para garantir apoio no Congresso no segundo mandato. Após negociações, o
governo decidiu manter o cargo na cota do grupo de Renan, que era
padrinho político de Machado.
Como o Estado mostrou no dia
11, empresas contratadas pela Transpetro financiaram a campanha de Renan
ao Senado em 2010. A SS Administração e Serviços e a Rio Maguari
Serviços e Transporte Rodoviário, que vão construir 20 barcaças
destinadas ao transporte de etanol em São Paulo, doaram R$ 400 mil ao
PMDB de Alagoas três meses antes de vencerem a concorrência. Renan
defendeu a legalidade das doações e a Transpetro, descartando a
irregularidades na contratação feita pela subsidiária da Petrobrás.
Em
uma ação de improbidade administrativa, o Ministério Público Federal
acusa Machado de fraudar a licitação, no valor de US$ 239 milhões. Em
outubro, o Ministério Público pediu à Justiça que decretasse seu
afastamento do cargo e o bloqueio de seus bens.
Coronel. Filho de
tradicional família cearense de Crateús, o administrador de empresas e
economista Sergio Machado, de 68 anos, tinha fama de coronel entre seus
funcionários. Isso porque os executivos de sua equipe eram obrigados a
estar disponíveis aos seus chamados a qualquer hora do dia ou da noite.
Quando
contrariado, revelou um ex-funcionário, ele gritava: "Isso é um
absurdo", e dava um tapa na mesa. Quem trabalhava no andar da
presidência sofria com a longa jornada de trabalho do executivo. Deixar a
Transpetro antes do chefe não era bem visto. Machado chegava às 9 horas
e saía à meia-noite. Mas era comum varar a madrugada trabalhando. Além
disso, segundo funcionários, exigia extrema fidelidade da equipe.
Machado
não recebia políticos em seu escritório. Mas embarcava religiosamente
uma vez por semana para Brasília para costurar articulações com
parlamentares. Já representantes do setor naval eram comumente vistos na
Transpetro.
Quem conhece Machado diz que ele também gosta
de discursar a plateias, como nos tempos de deputado e senador. Um
estilo que não agradava à presidente Dilma. Em público, a relação entre
os dois era cordial, mas incomodava a tentativa do executivo de se
apresentar como "pai" do Programa de Renovação e Expansão da Frota
(Promef), projeto de contratação de navios e responsável pela retomada
do setor naval.
Tamanho o apreço de Sergio Machado pelo
Promef que, da sua sala, acompanhava as obras em tempo real, por uma
tela instalada na parede. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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POLÍTICA E ECONOMIA