Aaron Cadena Ovalle - 09.set.2014/Efe | ||
Marta Suplicy durante entrevista quando ainda era ministra da Cultura |
A senadora Marta Suplicy (PT) voltou a criticar o governo Dilma Rousseff
e a condução feita pela presidente da política econômica.
Em artigo publicado na Folha desta terça-feira (27), intitulado "O diretor sumiu",
a senadora e ex-ministra diz que hoje o país vive crises econômica,
política, moral, ética, hídrica, energética e institucional por ausência
de transparência, confiança e credibilidade.
"Se tivesse havido transparência na condução da economia no governo
Dilma, dificilmente a presidente teria aprofundado os erros que nos
trouxeram a esta situação de descalabro. Não estaríamos agora tendo de
viver o aumento desmedido das tarifas, a volta do desemprego, a
diminuição de direitos trabalhistas, a inflação, o aumento consecutivo
dos juros, a falta de investimentos e o aumento de impostos, fazendo a
vaca engasgar de tanto tossir", afirma.
A senadora –que foi ministra da Cultura no primeiro governo
Dilma–criticou a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda,
nome que agrada ao mercado e à oposição, sem explicar o porquê da
escolha. "Se tudo ia bem, era necessário alguém para implementar ajustes
e medidas tão duras e negadas na campanha? Nenhuma explicação."
Diz ainda que a realidade "não é nada rósea" como foi dito durante a
campanha eleitoral, e que não há clareza sobre o que pensa a presidente.
"Ela logo desautoriza a primeira fala de um membro da equipe", diz,
sobre o episódio em que a presidente fez circular nota corrigindo o
ministro Nelson Barbosa (Planejamento), negando que haverá mudança na regra de reajuste do salário mínimo.
CORRUPÇÃO
As críticas também atingem o PT. Segundo Marta, o partido "embarcou no
circo de malabarismos econômicos, prometeu, durante a campanha, um
futuro sem agruras, omitiu-se na apresentação de um projeto de nação
para o país, mas agora está atarantado sob sérias denúncias de
corrupção".
Segundo ela, o país vive um "estado de total ausência de transparência,
absoluta incoerência entre a fala e o fazer, o que leva à falta de
credibilidade e confiança", abalando o mercado, que não investe. E
termina o artigo afirmando que "o diretor sumiu".
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) usou o Twitter para contestar o artigo
de Marta, o qual classificou como "inaceitável". Segundo ele, o artigo
não traduz o sentimento dos petistas nem do povo brasileiro.
CRÍTICAS
Não é a primeira vez que a senadora petista critica seu partido e a presidente. Neste mês, ela já havia dito, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo",
que a política econômica de Dilma era um "fracasso" e que a mandatária
não mudou os rumos da gestão "porque isso fortaleceria a candidatura do
Lula".
Questionada se a nova equipe econômica poderia recorrer a Lula se
contrariada, a senadora afirmou: "Você não está entendendo [referindo-se
à jornalista]. O Lula está fora, totalmente fora."
Ao "Estado", Marta se disse decepcionada com o próprio partido e que se
sente "há muito tempo alijada e cerceada". "Cada vez que abro um jornal
fico estarrecida (...) É esse o partido que ajudei a criar e fundar?".
Disse também que o ex-presidente, em jantar organizado por ela com
empresários, "entrou nas críticas" dos presentes e "decepava (sic) ela
[Dilma]". Marta afirmou ter ouvido Lula reclamar de dificuldade na
relação com Dilma. "Estou conversando com ela, mas não adianta, ela não
ouve", teria dito o petista.
Partidários afirmam que a senadora tece as críticas com o intuito de forçar sua saída do Partido dos Trabalhadores.
O Palácio do Planalto avalia que ela tenta, com sua saída do PT, concorrer à Prefeitura de São Paulo nas eleições de 2016 por outro partido.
O ministro Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) chegou a dizer que as críticas anteriores de Marta eram tema superado.
Tanto Lula quanto o PT já sinalizaram à senadora que desejavam sua permanência na legenda.
Mas o diretor do Instituto Lula, o ex-ministro e assessor de Lula Paulo
Vannuchi (Direitos Humanos), classificou na semana passada à Rádio
Brasil Atual, ligada à CUT, e em entrevista à Folha, como
"sórdida", "chocante", "intolerável" e "inaceitável" -entre outros
adjetivos- a "manobra" usada por Marta ao revelar conversas particulares
que ela teve com Lula.
Vannuchi ressaltou que não fala em nome de Lula. Na ocasião, Marta foi
procurada para comentar a entrevista do diretor do instituto, mas não
respondeu.
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POLÍTICA E ECONOMIA