Na opinião do jurista Walter Maierovitch, presidente do Instituto Giovanni Falcone de Ciências Criminais, a Operação Lava Jato da Polícia Federal --que nesta sexta (14) cumpriu 85 mandados de prisão em sedes de empreiteiras em seis Estados-- pode
representar um avanço para que o Brasil perca a imagem negativa que tem
de si mesmo. "Ela pode mudar a nossa imagem de país de impunidade, de
república das bananas", afirmou ao UOL Notícias.
"Essa operação é importantíssima, e com ela já se tem uma ideia do
quanto a corrupção priva de poder os órgãos de administração, que perdem
legitimidade de atuação. Por isso se diz nos foros internacionais que
lutar contra a corrupção é lutar pela manutenção do Estado democrático",
justifica.
Ex-secretário nacional Antidrogas da Presidência da
República, Maierovitch acredita que esta é a maior operação contra a
corrupção já realizada no país, mas muito em virtude da pouca quantidade
e alcance das operações anteriores, na opinião dele. "Se compararmos
com um caso envolvendo o ex-presidente Collor, o que estava em jogo era
apenas um automóvel", lembra, citando o caso da compra irregular de um Fiat Elba para a então primeira-dama Rosane Collor, em 1992.
Entrave
No entanto, o jurista se diz preocupado com dois fatos que podem enfraquecer a Lava Jato. A primeira é a notícia de que a PF apenas cumprirá diligências predefinidas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e autorizadas pelo relator,
o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki. "Isso
implica em redução da investigação e redução do poder investigativo. Me
parece uma clara inconstitucionalidade."
O outro entrave seria a
informação de que delegados envolvidos na Operação Lava Jato teriam
atacado o PT e elogiado Aécio Neves (PSDB) durante a campanha
eleitoral. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, determinou que a
Polícia Federal abra uma sindicância para investigar esses casos.
"O fato de um delegado ter tomado posição partidária não pode anular
todo o trabalho efetuado em conjunto na operação. Essa ideia é um
discurso que vai favorecer bandidos", afirma.
Como parte dos processos corre em foro privilegiado e os políticos envolvidos ainda não tiveram nomes oficialmente citados --a revista "Veja" listou em setembro
uma série de nomes supostamente citados na delação premiada do
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa-- Maierovitch não soube
analisar como a Lava Jato poderá afetar a política nacional, mas usou o
caso da Itália como exemplo.
"A operação Mãos Limpas,
que combateu a corrupção na política partidária italiana, resultou na
extinção de todos os partidos do país porque todos estavam envolvidos em
corrupção. Se tudo que já foi especulado for comprovado, chegaremos a
um resultado igual à Mãos Limpas. Mas estamos ainda na fase de
investigação, onde podem surgir acusações falsas. Na fase seguinte, a
processual, com as respectivas defesas, é que poderemos chegar à
verdade".
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