Pela segunda vez e sem mudanças, a Comissão Mista de Orçamento do
Congresso aprovou no início da madrugada desta terça-feira (24) o
projeto de lei que autoriza o governo a descumprir a meta de economia
para pagamento de juros da dívida pública em 2014, o chamado superavit
primário.
O texto –que discutido em meio a um novo clima de guerra entre
governistas e oposicionistas– segue para a análise final no plenário do
Congresso. A ideia da base aliada é tentar concluir a votação da manobra
fiscal ainda nesta semana para garantir ao governo fechar as contas do
ano.
Os planos do Planalto, no entanto, podem esbarrar na oposição que
promete usar o regimento para dificultar a programação e até mesmo em
insatisfações na base aliada com as negociações da reforma ministerial.
Antes de discutir a alteração na meta do superavit, os líderes do
Congresso acertaram que vão analisar nesta terça os 39 vetos
presidenciais que estão na pauta de votação. Isso pode atrasar a votação
para quarta-feira ou para a próxima semana.
O projeto altera a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) permitindo ao
Executivo descontar dessa espécie de poupança todo o valor gasto no ano
com obras do Programa de Aceleração do Crescimento e com as desonerações
tributárias.
Com isso, a meta fiscal, hoje fixada em pelo menos R$ 81 bilhões, deixa
na prática de existir, e o governo federal fica autorizado até mesmo a
fechar o ano com as contas no vermelho.
Na semana passada, o Planalto assumiu formalmente que não cumprirá a
meta de poupar R$ 80,8 bilhões para o abatimento da dívida pública. O
relatório bimestral da execução orçamentária divulgado informou que a
poupança calculada é de R$ 10,1 bilhões –mas nem isso é certeza.
Pedro Ladeira/Folhapress |
Manifestantes discutem antes do início da reunião |
OFENSAS
Aprovado na Comissão Mista de Orçamento na noite da terça-feira da
semana passada em meio a uma sessão tumultuada, o projeto teve que
passar por nova votação no mesmo colegiado depois que a oposição ameaçou
recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) para anular a análise
anterior alegando que prazos regimentais não foram respeitados.
Durante a votação desta segunda, governistas e oposicionistas voltaram a
trocar insultos e provocações. O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) e o
presidente da comissão, Devanir Ribeiro (PT-SP), se chamaram de
"moleque" e outras ofensas. O tucano chegou de dedo em riste para cobrar
do petista espaço para se manifestar sobre a manobra fiscal.
O relator da proposta, senador Romero Jucá (PMDB-RR), foi chamado de
autoritário e ditador. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) afirmou que os
governistas colocaram a proposta num balcão de negócios em troca de
cargos e verba.
Na discussão sobre o projeto, a oposição lançou mão de questões
regimentais para tentar adiar a análise da proposta. Mobilizados pelo
Palácio do Planalto após articulações malsucedidas que atrapalharam a
pressão do governo para acelerar a tramitação, a base aliada atuou para
inviabilizar os movimentos contrários ao texto. A tropa de choque de PT e
PMDB coordenaram as negociações que duraram mais de quatro horas.
Os oposicionistas se revezaram nos ataques à condução da política
econômica do governo, acusando a gestão petista de promover a falência
das contas públicas e gerar a irresponsabilidade fiscal. Outros
reclamaram que a medida representava um cheque em branco ao Planalto.
Em defesa do ajuste, os governistas sustentaram que o Brasil tem uma
situação melhor do que países como França e Italia, com dívida líquida
de 33,6% do Produto Interno Bruto e alegaram que a medida já foi adotada
em sete anos. Outra justificativa é de que a meta não estava sendo
anulada, mas apenas ampliando o redutor do superavit.
Do lado de fora da comissão, manifestantes mobilizados por parlamentares
da oposição protestaram contra o projeto do Executivo, com gritos de
vergonha e fora PT. Houve empurrões entre os seguranças e as pessoas que
participavam dos protestos. Eles não foram autorizados a acompanhar a
reunião dentro da sala da comissão. Alguns que conseguiram acompanhar o
debate estenderam a faixa pedindo a derrubada da matéria.
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POLÍTICA E ECONOMIA