O avião em que a PF encontrou R$ 116 mil
pertence a Benedito de Oliveira, compadre e homem influente na campanha
do governador eleito de Minas Gerais, Fernando Pimentel
DIEGO ESCOSTEGUY E MURILO RAMOS
31/10/2014 21h53
- Atualizado em
01/11/2014 14h00
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Há três semanas, logo após o primeiro turno das eleições, a Polícia
Federal fez uma batida num avião em Brasília e descobriu R$ 116 mil, em
dinheiro vivo, com pessoas ligadas à campanha de Fernando Pimentel,
do PT, governador eleito de Minas Gerais. Pimentel disse, em nota, que
não poderia ser considerado responsável pela “conduta de fornecedores”.
Admitiu apenas que o empresário Benedito de Oliveira, um dos passageiros
do avião, fornecia material gráfico para sua campanha. A PF encontrou o
dinheiro com Benedito e Marcier Moreira, assessor de Pimentel na
campanha. Moreira ocupara cargos em dois ministérios dos governos Lula e Dilma.
Sob a suspeita de que se tratava de sobra de campanha, abriu-se
inquérito na PF para investigar a origem do dinheiro. Nenhum dos
investigados confessou. Desde então, Bené, como é conhecido no mundo
político, ou o mero “fornecedor”, como define a nota de Pimentel,
recusa-se, assim como o próprio Pimentel, a falar sobre o caso. O
silêncio persistente de ambos leva à indagação: o que eles têm a
esconder?
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A ascensão de Pimentel coincide com a ascensão de Bené. Enquanto um subia na política, o outro subia nos negócios. Segundo pessoas próximas, Bené se aproximou do PT após o mensalão, em 2005. Por coincidência, aproximou-se por meio do mesmo homem que apresentara o operador Marcos Valério ao partido: o deputado Virgílio Guimarães, do PT de Minas. No segundo mandato de Lula, enquanto sua Gráfica Brasil e sua empresa de eventos ganhavam contratos milionários e, segundo o TCU, superfaturados, Bené acumulava influência no PT e no PP. Em 2009, aproximou-se de Pimentel, que coordenava a primeira campanha de Dilma. Bené alugou a casa, em Brasília, onde trabalhava a equipe de imprensa de Dilma. Pagava o aluguel em dinheiro vivo. Equipou-a com computadores. Assessores de Dilma logo passaram a produzir dossiês contra o PSDB. Na metade de 2010, quando o caso veio a público, Bené e Pimentel foram obrigados a se afastar da campanha.
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Em 22 de novembro de 2010, logo após a vitória de Dilma, Bené comprou nos Estados Unidos, segundo comprovam documentos obtidos por ÉPOCA, o avião que foi apreendido pela PF nas -eleições deste ano. A estrutura do King Air, prefixo PR-PEG (iniciais dos filhos de Bené), foi comprada à vista, por US$ 735 mil, segundo nota fiscal emitida pelos vendedores americanos. “Ele precisava de um avião para transportar políticos e o que mais fosse necessário, discretamente”, diz um dos homens de confiança de Bené. A nota fiscal aponta o comprador como a Lumine Editora, empresa registrada em nome dos irmãos de Bené. O contrato de câmbio para efetuar o pagamento, a que ÉPOCA também teve acesso, foi assinado por Júlio César de Oliveira, irmão de Bené e diretor financeiro de uma das empresas dele. Hoje, o King Air está registrado na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em nome da Bridge Participações. Os donos da Bridge são desconhecidos. Documentos comerciais da empresa mostram que ela é controlada pelo próprio Bené.
Quando Pimentel assumiu o Ministério do Desenvolvimento, no começo do governo Dilma, a influência do amigo Bené se revelou prontamente. Em fevereiro de 2011, Pimentel nomeou Humberto Ribeiro como secretário de Comércio e Serviços da pasta. Cabia a ele promover a exportação de serviços, notadamente os de engenharia. Humberto Ribeiro é irmão de Luiz Cezar Ribeiro, ex-sócio de Bené. Ribeiro ocupou o cargo até julho deste ano. Bené se aproximou também de dois assessores de Pimentel: Eduardo Serrano e Carolina Oliveira. Serrano foi um dos coordenadores da campanha de Pimentel. Em 2012, Pimentel se separou e engatou um namoro com Carolina Oliveira. Segundo amigos em comum, Bené e sua namorada, Juliana Sabino, passaram a sair com Pimentel e Carolina. As duas namoradas tornaram-se amigas. Pouco depois de começar o namoro com Pimentel, ainda funcionária do ministério, Carolina abriu, ao lado da mãe, a empresa Oli Comunicação. Em 6 de outubro de 2011, dia em que a Oli Comunicação foi registrada, Carolina estava em compromisso oficial com Pimentel, em Bruxelas, na Bélgica.
Carolina deixou o ministério em dezembro de 2011. A Oli, em seguida, foi contratada pelo PT para prestar serviços de assessoria de imprensa. Duas salas da Oli, em Brasília, eram alugadas por Bené. ÉPOCA esteve no endereço informado pela Oli à Receita Federal, um pequeno prédio comercial no final da Asa Norte, e não achou a empresa. Três pessoas que trabalham no prédio disseram nunca ter visto a empresa nem reconheceram fotos de Carolina. O contador da Oli disse que ele registrara seu endereço comercial como o domicílio fiscal da Oli. “A Oli não tem funcionários”, afirmou. Assim como os demais personagens desta história, Carolina trabalhou na campanha de Pimentel.
ÉPOCA enviou uma série de perguntas a Pimentel sobre sua relação com Bené. Ele se negou a respondê-las objetivamente. Afirmou que as perguntas de ÉPOCA “partiam de premissas irreais e de fontes desqualificadas”. Disse ainda que “as inverdades expostas no questionário constituem crime da maior gravidade contra a honra do governador eleito de Minas Gerais e da jornalista Carolina Oliveira”. ÉPOCA perguntou então se Pimentel poderia responder de modo objetivo às questões. Sua assessoria informou que a “resposta é a nota”. Luiz Cézar Ribeiro confirmou ter sido sócio de Bené. Afirmou, no entanto, não manter contato com ele “há muito tempo”. Disse ainda que Bené não pediu a Pimentel que nomeasse seu irmão Humberto para ocupar a Secretaria de Comércio e Serviços do Ministério do Desenvolvimento. Bené não foi encontrado. Sua namorada, Juliana Sabino, não respondeu aos pedidos de entrevista.
ÉPOCA
LEOPOLDINA CORRÊA é jornalista com formação em Mídias Digitais pela UFC >>>> Diploma
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