O "AJUSTE" TÃO vilipendiado na campanha eleitoral do governismo começou,
ratificado de resto pela presidente reeleita, em entrevista de ontem.
A taxa de juros aumentou e aumentará mais, ao passo dos reajustes de
preços regulados pelos governos e pela alta do dólar, que tendia mesmo a
subir e talvez suba um tanto mais porque o Banco Central dá indícios de
que não vai segurar o preço da moeda americana como o fazia desde
agosto de 2013. Os combustíveis sobem hoje. A seguir, vamos saber o
tamanho do reajuste do preço da eletricidade.
A próxima dúvida a ser esclarecida é a respeito do ritmo do acerto das
contas da economia, dos gastos do governo aos impostos. A seguinte,
sobre o efeito político de um segundo ano de estagnação econômica e do
provável, ainda que parcial, desmentido das promessas de campanha da
presidente reeleita.
O corte de gastos provavelmente deve ser progressivo, como tem afirmado o
governo. Mas deve sê-lo mais por precisão do que por boniteza. Quer
dizer, como é muito difícil reduzir despesas, dados o orçamento
engessado e compromissos inevitáveis, no curto prazo, o aumento da
poupança do governo deve, na melhor das hipóteses, ser suave. Certas
revisões de gastos insinuadas pela presidente, como despesas com
seguro-desemprego e pensões, são trabalhosas.
Quanto a impostos, há gente graúda no governo a dizer que não haverá aumentos. A afirmação é, no entanto, capciosa.
Primeiro, porque o governo pode restabelecer alíquotas antigas de
impostos existentes (Cide, IPI) e dizer, assim, que não houve aumento de
tributos, apenas a reversão de uma desoneração excepcional. Segundo,
porque não se sabe ainda quem será a gente graúda e com comando
econômico a partir de janeiro.
Lembre-se mais uma vez que, quanto mais lento o conserto das contas do
governo, a princípio por mais tempo as taxas de juros permanecerão em
alta ou altas. Não é um equilíbrio social e economicamente mais justo,
por mais que "cortar gastos" pareça um atentado à inclusão social, ou
lugar-comum parecido e equivocado.
Os impactos mais cotidianos de três anos de lerdeza econômica e um de
estagnação começam a aparecer por quase toda parte. Ontem, soube-se, por
exemplo, que os brasileiros estão colocando menos dinheiro nas
cadernetas de poupança, uma aplicação financeira sabidamente popular.
Trata-se de um sintoma.
Todas as vezes em que a economia brasileira embica para um ciclo menor
de crescimento, o saldo acumulado das captações da poupança embica para
baixo também, em ladeira abrupta, como acontece desde o terceiro
trimestre do ano passado (feita a conta com o acumulado de 12 meses).
Não se trata de indício de coisa pior, nada assim, mas de um sinal de
que está sobrando menos dinheiro e/ou de que parte das sobras dos
salários vai para aplicações a juros maiores.
É um sintoma de que as coisas não vão bem, daqueles facilmente
perceptíveis pelo cidadão comum. Assim como é visível que o consumo
desacelera, que os salários crescem mais devagar. Tudo embica para baixo
em sincronia. A ladeira vai ficar mais íngreme agora, que o "ajuste"
começou, seja lá qual for o seu tamanho.
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POLÍTICA E ECONOMIA