domingo, 27 de setembro de 2015

Eu também poderia ter pedido saída de Lula e FHC, diz líder do MBL


Ele passou no vestibular e agora poderia estar concluindo o primeiro ano de economia na Universidade Federal do ABC. Mas abandonou o projeto e, desde o ano passado, dedica-se integralmente à causa anti-Dilma Rousseff.


Kim Kataguiri, 19 anos, é um dos líderes do MBL (Movimento Brasil Livre), entidade criada no fim de 2014 para difundir ideias liberais e, principalmente, combater o PT.
Contra Dilma, Kim já postou incontáveis vídeos na internet; já foi de São Paulo a Brasília a pé; já se reuniu duas vezes com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ); já ajudou a organizar alguns dos maiores atos do país, como o de 15 de março, com 210 mil pessoas em São Paulo.

Nesta entrevista, ele explica porque quer derrubar a presidente. Seu principal argumento é o das chamadas pedaladas fiscais, manobra para maquiar as contas públicas. Confrontado com o argumento de que governos anteriores também pedalaram, disse que, se fosse adulto na época, também teria pedido impeachment de Lula e FHC.
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Folha - Como vocês se conheceram para montar o MBL? Kim - Aqui era uma produtora de vídeo e um escritório compartilhado. Eu fazia vídeos com eles para meu canal do YouTube. E a gente se conheceu pelo meio liberal, nas palestras. Lembro que conheci o Renan [Santos, outro membro] no seminário da escola austríaca. O MBL começou em novembro, quando a gente fez uma manifestação no Masp e deu umas 5.000 pessoas. Era por liberdade de imprensa e investigação de todos na Lava Jato. Como teve uma cobertura da imprensa, muitas pessoas começaram a se interessar. E aí começou a sair de São Paulo.
 
Como você começou?
Comecei a fazer vídeo no ensino médio, aos 17 anos. Começou quando meu professor de história iniciou um debate sobre Bolsa Família e falou que tirou o país da miséria, diminuiu desigualdade. Eu falei "poxa, que interessante, quero saber como funcionou". Foi aí que eu descobri os autores liberais, os institutos liberais, e fiz o meu primeiro vídeo. Era para mostrar para esse meu professor que [o Bolsa Família] não era bem assim.
 
Esse vídeo está no ar?
Ah, não.
 
Tirou?
É tudo vergonhoso já.
 
Por quê?
Minha cara, me vejo muito novo, o jeito de falar...
 
Mas o que você dizia?
Eu falava do boom das commodities, que o Brasil cresceu em cima disso, e que a maior parte das pessoas que tinha saído da miséria era pelo crescimento econômico, não pelo Bolsa Família.
 
O que o seu professou achou?
Achou interessante. Mas não concordou. Mas o que aconteceu é que o vídeo acabou saindo do colégio. Outras pessoas viram e passaram a pedir mais. Foi aí que eu criei meu canal no YouTube, fui me interessando mais, frequentando mais fóruns e palestras de institutos liberais.
 
Que institutos são esses?
Instituto Mises. Instituto Liberal. Instituto Millenium.
 
O que distingue o MBL do Vem Pra Rua e do Revoltados, outros grupos anti-Dilma?
Os outros dois têm mais foco na indignação, no "somos contra a corrupção". A gente tem pautas propositivas. A gente apresenta soluções.
 
De qualquer forma, vocês compartilham a causa do impeachment. Por que derrubar Dilma?
A gente acredita que, além de ter essa questão de ter de reconstruir o país, e a presidente Dilma não tem nem convicção para isso nem a força política, tem também a questão do modelo de corrupção que o PT criou. Concordo quando dizem que não foi o PT que inventou a corrupção. Mas foram eles que institucionalizaram, transformaram em método de governo.
 
A Constituição diz que para ter impeachment é preciso que se caracterize um crime cometido pelo presidente na vigência do mandato. Qual foi o crime cometido por Dilma?
A gente embasou nosso pedido principalmente sobre o crime das pedaladas [fiscais]. Tem esse debate: se o que ela cometeu no primeiro mandato vale para o segundo. A gente compartilha da tese do [jurista] Adilson Dallari, de que há uma continuidade.
 
Mas num de seus vídeos você diz que a primeira razão para apoiar o impeachment de Dilma é o preço da gasolina.
Ah, isso aí não é uma defesa institucional. Porque não é um vídeo do MBL.
 
É o quê?
É o meu canal de política e economia no Youtube. E que é de humor. Não estava fazendo embasamento jurídico.
 
O presidente do Itaú, Roberto Setubal, disse que impeachment não tem cabimento e exaltou o fato de Dilma jamais ter colocado barreira às investigações. O que achou?
Olha, eu acho que deve ter bastante interesse dele em defender o governo Dilma. Porque ele lucrou bastante com o governo. Com a quebra. Apesar do discurso do PT, são diversos bancos que bancaram o partido e a campanha de Dilma. Então eu acho que é conveniente para ele defender. Ele está se beneficiando. E esse discurso de que nunca se investigou tanto é uma grande baboseira. A gente vê, na própria questão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a [ministra] Luciana Lóssio, que foi advogada do PT, sentou em cima da ação [contra Dilma]. Então dizer que há esforço para que a apuração ande é absurdo. E as ações das pessoas que eles indicaram ao Supremo, em termos de proteger o partido... O próprio procurador-geral da República, que até agora não deu nenhuma resposta sobre as ações que o PSDB entrou semanas atrás.
 
Quais ministros do Supremo?
Luciana Lóssio.
 
Do Supremo?
Pode falar do [Dias] Toffoli.
 
O que ele fez?
Você vê que em todas as ações... Dessa vez nem é tanto o STF. É mais a Procuradoria. Completo descaso com tudo o que se entrou contra o PT.
 
Dilma indicou Janot para mais um mandato. Foi ruim?
Sim.
 
Ele foi o mais votado entre os próprios procuradores.
Até aí a presidente poderia ter indicado qualquer outro.
 
Vocês foram entregar pedido de impeachment a Eduardo Cunha. Diferentemente de Dilma, ele é investigado na Lava Jato. Um delator disse que lhe pagou US$ 5 milhões em propina. Não é entranho articular a derrubada de uma presidente com um político que já é acusado e pode virar réu?
A gente não pede impeachment dela com base em delação premiada ou denúncia do petrolão. A gente pede por causa das pedaladas. É um fato. Agora, a gente não tem nenhum documento desse tipo para pedir impeachment do Cunha. Não tem uma prova que diga que Eduardo Cunha é corrupto. Ele não foi julgado e condenado.
 
E se Cunha virar réu?
Se virar réu, complica um pouco a relação.
 
Aí ele deveria sair?
Se virar réu, continuam as investigações. Ele tem de ser condenado para que a gente peça alguma coisa sólida.
 
No caso das pedaladas, o governo diz que a mesma prática já ocorria nos governos Lula e FHC, mas isso nunca foi condenado, ninguém pediu impeachmet deles por isso.
Mas eu não estava aqui. Não existia MBL e eu era um bebezinho, não podia fazer nada. Eu estou vivendo agora o governo Dilma. Se tivesse vivido esses outros governos, poderia pedir também.
 
Na política, hoje, com quem vocês mais se identificam?
Acho que o [deputado] Onyx Lorenzzoni (DEM-RS) está tendo uma postura bastante boa. O próprio Carlos Sampaio, do PSDB (SP). O Mendonça Filho (DEM-PE), o Rubens Bueno (PPS-PR), todos estão tendo postura boa. Não de defesa do papel do Estado, aí discordamos. Mas de oposição. 



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POLÍTICA E ECONOMIA