quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Lobista Fernando Baiano foi à Câmara antes de fazer pagamentos

Reginaldo Teixeira/Veja
O lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, é apontado com responsá¡vel pelo recolhimento da propina que cabia ao PMDB. Ele é acusado de ser o operador do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras. (Foto Reginaldo Teixeira/Veja) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano

10/09/2015 02h00

 Apontado como responsável por repassar para o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) propina do esquema de corrupção descoberto na Petrobras, o lobista Fernando Soares esteve na Câmara dos Deputados dias antes de receber os últimos pagamentos do lobista Júlio Camargo.

Camargo é um dos delatores da Operação Lava Jato e afirmou em depoimento à Procuradoria-Geral da República que os pagamentos feitos a Soares, mais conhecido como Fernando Baiano, eram propina e tinham Cunha como destinatário final.

Segundo registros de entrada da Câmara, que foram obtidos pelo PSOL e serão enviados à Procuradoria, Baiano foi ao anexo 4 em 3 de outubro de 2012. É o principal prédio onde ficam os gabinetes dos deputados federais.

Os registros, porém, não revelam o local exato a que ele se dirigiu. Naquela data, Cunha estava em Brasília, de acordo com os registros das viagens pagas com verbas do seu gabinete nessa época.

Pouco depois, em 10 de outubro, Júlio Camargo repassou R$ 422 mil a uma empresa de Baiano. Em 30 de outubro, fez o último pagamento a Baiano, no valor de R$ 377 mil.As transferências foram identificadas pelos investigadores com a quebra de sigilo bancário das empresas de Camargo.

As declarações de Camargo e os comprovantes das transferências são as principais evidências exibidas pelo Ministério Público na denúncia apresentada contra Cunha ao Supremo Tribunal Federal, que ainda não decidiu se aceitará a ação penal, o que tornaria Cunha réu.

O deputado é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro pela Procuradoria. Camargo disse que o peemedebista tinha US$ 5 milhões em propina a receber.

A Câmara registrou nove visitas de Fernando Baiano, entre 2005 e 2014. Em 10 junho de 2005, Baiano participou de uma reunião na Petrobras com o então diretor Nestor Cerveró, o lobista Julio Camargo e representantes da empresa Mitsui, de acordo com a Procuradoria.

Na ocasião, foi feito o acerto inicial entre a empresa e a Petrobras para a aquisição de dois navios-sonda para exploração de petróleo. Foram esses contratos que, segundo a Procuradoria, geraram a propina para Eduardo Cunha.

Um mês após a reunião na Petrobras, em 14 de julho, Baiano visitou um gabinete da Câmara, mas os registros não identificam o local visitado.

Outra ida de Baiano à Câmara foi em 5 de março de 2013. Nesta mesma data, foi arquivado um dos requerimentos da então deputada Solange Almeida (PMDB-RJ) que, segundo a Procuradoria, foram usados para pressionar Camargo a pagar a propina.

A liderança do PSOL na Câmara pediu vídeos com registros das visitas do lobista, mas a Casa respondeu que os vídeos só são guardados por 40 dias e, portanto, não existiam mais, restando apenas registros escritos de acesso às dependências da Câmara.

Houve uma visita de Fernando Baiano em 2005, uma em 2012, seis em 2013 e uma em maio de 2014. O ofício encaminhado ao PSOL informa que outros acessos à Câmara podem ter ocorrido "sem identificação ou sem passar pelo controle de acesso".

OUTRO LADO

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), nega que tenha recebido propina e disse que, pelo que se lembra, nunca encontrou o lobista Fernando Baiano nas dependências da Câmara.

"Que eu me lembre, nunca o encontrei lá", afirmou à Folha. Em seu depoimento à CPI da Petrobras em março, Cunha havia sido mais incisivo e disse que "ninguém nunca comprovou" que Baiano esteve alguma vez na liderança do PMDB na Câmara.

Cunha disse na ocasião que Baiano não tem relação com o PMDB e que o conhece porque o lobista representava uma empresa espanhola que atuava no Porto de Açu, no Rio, e por isso fez "várias gestões" para obter apoio à obra.

Cunha afirma que o lobista Julio Camargo foi pressionado pela Procuradoria Geral da República a mudar seus depoimentos iniciais, nos quais não mencionava Cunha, para depois acusá-lo.

Procurada, a defesa de Fernando Baiano, preso desde novembro por causa da Operação Lava Jato, não respondeu aos contatos da Folha. 



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