O Estado de S.Paulo
06 Novembro 2014 | 02h 05
Foi necessária a pressão de uma auditoria
estrangeira, que está sujeita às rigorosas leis dos Estados Unidos, para
que um diretor da Petrobrás acusado de envolvimento no escabroso
esquema de corrupção na estatal acabasse afastado do cargo. Tudo leva a
crer que, não fosse por isso, predominaria mais uma vez a vista grossa -
e o diretor continuaria em suas funções como se nada de errado ou
ilegal tivesse acontecido. No governo petista, todos prometem combater
os malfeitos, mas a história mostra que, na maior parte das vezes, os
malfeitores só são afastados quando o escândalo já não pode mais ser
abafado.
O Conselho de Administração da Petrobrás passou os últimos dias sob forte tensão, conforme noticiou o Estado.
Em vez de priorizarem as discussões sobre o necessário reajuste dos
combustíveis - afinal aprovado, mas ainda sem definição de porcentual
nem de data para entrar em vigor -, para superar a crise financeira da
estatal, seus integrantes tiveram de gastar energia para tratar do
assunto que assombra a empresa e que agora, por força da auditoria
externa, ameaça prejudicar ainda mais sua imagem lá fora - justamente no
momento em que mais precisa de capitais estrangeiros.
Responsável
por auditar os balanços financeiros e operacionais da Petrobrás, a
PriceWaterhouseCoopers (PwC) resistia a aprovar a demonstração contábil
porque entre os que a avalizaram constava o nome de Sérgio Machado,
presidente da Transpetro, subsidiária de transporte e logística da
Petrobrás. Segundo afirmou Paulo Roberto Costa, ex-diretor de
Abastecimento e pivô do escândalo na estatal, Machado lhe deu R$ 500 mil
em dinheiro para direcionar uma licitação.
Ao tomar
conhecimento da delação de Costa, a PwC fez duas exigências à Petrobrás:
a contratação de outras duas auditorias independentes, para ampliar as
investigações, e a demissão imediata de Machado - ex-deputado,
ex-senador e afilhado do presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), nomeado para o cargo em 2003, no governo Lula.
Não
se trata de um capricho da auditora. Como a Petrobrás tem ações
negociadas na Bolsa de Nova York, ela está submetida à legislação que
regula o mercado de capitais nos Estados Unidos. Essa lei manda que os
auditores incluam em seu trabalho "procedimentos concebidos para
detectar, com razoável grau de confiança, atos ilegais que tenham tido
efeitos materiais diretos na determinação dos montantes declarados".
Conforme a norma, o Conselho de Administração da Petrobrás, uma vez
notificado pela PwC, deve declarar-se ciente das demandas perante as
autoridades americanas.
O Conselho de Administração aceitou
contratar as auditorias exigidas pela PwC e encontrou uma maneira de
afastar Machado - oficialmente, ele se licenciou por um mês, até que se
concluam as investigações sobre seu envolvimento. Na prática, o governo
considera que sua volta ao cargo é improvável, em razão da pressão da
PwC, mas não é isso o que pensam os padrinhos de Machado. Peemedebistas
ouvidos pelo jornal O Globo disseram que a saída de Machado é apenas
provisória.
Esse caso mostra como a Petrobrás, aparelhada
pelos petistas e seus associados, está amarrada a compromissos políticos
que lhe tiram a autonomia necessária para agir conforme interesses
exclusivamente empresariais. No momento em que enfrenta dificuldades
consideráveis e precisa empenhar-se para superá-las, a estatal passa
pelo constrangimento de ter suas contas questionadas por uma auditoria
americana.
Ainda que a Petrobrás consiga convencer os
auditores da PwC de que fará o que for necessário para livrar-se da
corrupção, fica claro que os responsáveis pela estatal já não estão mais
na zona de conforto proporcionada por uma CPI que atende às
conveniências do governo, na qual os diretores da empresa deram
respostas previamente combinadas.
O cerco se fecha graças
não só à confissão de alguns dos que participaram do assalto à
Petrobrás, mas também a uma auditoria estrangeira, que nada tem a ver
com os acordos subterrâneos do governo petista.
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