Bobby Fabisak/JC Imagem
- Dilma Rousseff faz campanha ao lado do ex-presidente Lula no centro de Recife
Ausente no pronunciamento de Dilma em Brasília após o primeiro turno, o "padrinho eleitoral" pôs o pé na estrada e voltou aos palanques.
Depois de fazer campanha em Belo Horizonte na semana passada com um discurso acirrado criticando o candidato do PSDB, Aécio Neves, justamente no domicílio eleitoral deste, na terça-feira, Lula investiu seu capital político onde é mais forte – seu estado natal no Nordeste.
O ex-presidente acompanhou Dilma em três visitas a Pernambuco, um
colégio cujo voto ainda está dividido após a morte de Eduardo Campos e a
saída de cena de Marina Silva – e com o PSB agora encampando a campanha
de Aécio.
Pernambuco foi o único Estado nordestino em que Dilma não venceu no primeiro turno - Marina ficou em primeiro lugar, com 48% dos votos, contra 44% dados a Dilma, e 5,9%, a Aécio.
Enquanto o partido de Campos busca usar sua influência no Estado em
favor do candidato do PSDB, Lula entre em cena pessoalmente para dar
peso à campanha de Dilma.
Lula e Dilma começaram o dia em
Petrolina, onde a presidente falou sobre os programas do PT para
enfrentar as secas, e seguiu para Goiana, onde visitou a nova fábrica da
Fiat – que está sendo construída após acordo firmado no governo Lula.
Há duas semanas, uma pesquisa do
Datafolha afirmou que o ex-presidente é o "padrinho" com o maior
potencial de transmissão de votos em comparação com outro ex-presidente,
Fernando Henrique Cardoso, "cardeal" do PSDB.
E uma prova do
carisma de Lula foi dada em Goiana: em seu comício na cidade, ele foi
apresentado como presidente pelo mestre de cerimônias e recebido
calorosamente pelas milhares de pessoas que esperaram mais de duas horas
pelo início do evento.
Ao começar o seu discurso, foi interrompido por um corinho de "olê, olê-olê, olá, Lu-lá, Lu-lá".
Prestígio transmitido
Percussionista da Nação Zumbi, o músico Gilmar Bola 8 marcou presença
no ato e disse considera a entrada de Lula nessa reta final decisiva
diante do atual cenário acirrado.
"As pessoas aqui confiam mais
no Lula do que na presidente. Ele fala a linguagem do povo e o povo
escuta o que ele fala", disse.
Para Jussara de Albuquerque, que
acompanhava o comício de longe, numa cadeira na calçada, há um forte
sentimento de gratidão ao ex-presidente no Nordeste, região que
concentrou os investimentos em programas sociais nos dois mandatos de
Lula (2003-2010) e nos quatro anos de governo Dilma.
"O Lula é como um pai para a população do Nordeste", diz Jussara, professora da rede pública estadual.
"O povo daqui deve muito a ele, e Dilma está conseguindo tudo isso por causa do Lula."
Ao lado de Jussara, Sandra Cavalcanti, auxiliar de serviços gerais, não
poderia destoar mais da amiga em termos de intenção de voto.
"Sou Aécio", dizia ela, que parecia uma exceção na rua principal de
Goiana onde a maioria dos passantes se dirigia ao palco armado para o
comício levando bandeiras do PT ou vestidas de vermelho.
"Olhando assim parece que todo mundo aqui é PT, mas a cidade está dividida", disse Sandra.
"Só que o povo adora uma festa, então está todo mundo aqui. Só quero ver como é que vão votar no domingo."
Observando o comício, o coordenador local da campanha de Aécio,
Francisco Corrêa, imagina que uma maioria para Dilma no Nordeste seja
inevitável no segundo turno, mas diz que a campanha espera chegar a um
patamar mais equilibrado em comparação com o primeiro turno, quando
Dilma concentrou quase 60% dos votos.
O candidato do PSDB
visitou o Estado logo após o primeiro turno e visitou a família de
Eduardo Campos, recebendo seu apoio oficial.
Corrêa lembrou que
Lula teve uma parceria muito forte com Campos quando este era governador
de Pernambuco, e isso abriu caminho para muitas parcerias e
investimentos para o Estado.
"Isso com certeza terá um peso para os pernambucanos", disse.
"Mas esperamos que quem deseje mudança consiga fazer uma separação."
Um dos investimentos fruto dessa parceria é a fábrica da Fiat, motivo
para o comício passar por Goiana, que tem cerca de 80 mil habitantes.
Em seu discurso, Lula destacou os empregos que a fábrica, prevista para operar a partir do início do ano que vem, vai gerar.
Ele e Dilma ressaltaram os avanços no Nordeste, com o aumento de investimentos na região.
"Os nordestinos conquistaram o direito de andar de cabeça erguida", discursou Lula.
"Provaram que não nasceram para ser pedreiro nem ir ser construtor de ponte lá em São Paulo."
A estudante de direito Andrezza Caroline Albuquerque, de 19 anos,
acompanhava tudo com a família na porta de casa, bem em frente ao local
do comício.
Ela disse ter votado em Marina no primeiro turno,
mas agora está apoiando Dilma por considerar que as políticas do PT
trazem mais oportunidade às classes menos favorecidas. Mas a estudante
acha que a presença de Lula dará mais chances a Dilma.
"Quem
segura ela aqui (em Pernambuco) é o Lula. Ela não tem muito carisma para
atrair as pessoas. Já o Lula, as pessoas se identificam muito com ele",
diz. "Nessa reta final, ele veio para chamar o povo para a rua."
Coincidência ou não, as primeiras pesquisas mostrando Dilma à frente de Aécio surgiram justamente depois da intensificação da participação de Lula na campanha.
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