"Porque não pode todo mundo ser o Ronaldinho"
Eis a explicação do presidente Lula para o tremendo sucesso de seu filho Fábio Luís, que coincide com o mandato presidencial do pai
Alexandre Oltramari
Lula Marques/Folha Imagem e Luciana
Prezia/AE |
BONS DE TV O Ronaldinho do presidente: em um ano, Lulinha saiu do emprego de 600 reais para virar fenômeno das comunicações |
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Como aconteceria com qualquer
pai, o presidente Lula tem demonstrado o orgulho que sente pelo
sucesso de seu filho Fábio Luís Lula da Silva. Aos
31 anos, Lulinha, apelido que ele detesta, é um empresário
bem-sucedido. É sócio de uma produtora, a Gamecorp,
que, com um capital de apenas 100.000 reais, conseguiu fazer um
negócio extraordinário: vendeu parte de suas ações
à Telemar, a maior empresa de telefonia do país, por
5,2 milhões de reais. Como a Telemar tem capital público
e é uma concessionária de serviço público,
a sociedade com o filho do presidente sempre causou estranheza.
Na segunda-feira passada, em entrevista ao programa Roda Viva,
Lula teve de falar em público sobre os negócios do
filho. "Não posso impedir que ele trabalhe. Vale para o meu
filho o que vale para os 190 milhões de brasileiros. Se têm
alguma dúvida, acionem ele", afirmou. Dois dias depois, em
entrevista à Folha de S.Paulo, o assunto Lulinha voltou
ao foco. Os jornalistas lhe apresentaram uma questão formulada
por um leitor do jornal, que não foi identificado. A pergunta
dizia o seguinte: "Tenho 61 anos, sou pai de quatro filhos adultos,
todos com curso superior, mas com dificuldades de bons empregos
ou de empreender. Como é que o seu filho conseguiu virar
empresário, sócio da Telemar, com capital vultoso
de 5 milhões de reais?".
Em sua resposta, o presidente
Lula começou explicando que seu filho virou sócio
da Gamecorp quando a empresa, fundada por alguns amigos em Campinas,
já tinha mais de dez anos de vida. "Eles fizeram um negócio
que deu certo. Deu tão certo que até muita gente ficou
com inveja", disse. Em seguida, o presidente fez menção
às suspeitas que cercam a sociedade da Gamecorp com a Telemar.
"Se alguém souber de alguma coisa que meu filho tenha cometido
de errado, é simples: o meu filho está subordinado
à mesma Constituição a que eu estou", disse
o presidente, fazendo logo depois uma divagação comparativa
que já nasceu imortal: "Porque deve haver um milhão
de pais reclamando: por que meu filho não é o Ronaldinho?
Porque não pode todo mundo ser o Ronaldinho". Os entrevistadores
gostaram do paralelo estabelecido pelo presidente entre seu filho
e o astro do futebol e perguntaram se não seria mais fácil
virar um Ronaldinho quando se é filho do presidente. Lula
respondeu: "Não é mais fácil, pelo contrário,
é muito mais difícil. E eu tenho orgulho porque o
fato de ser presidente da República não mudou um milímetro
o hábito dos meus filhos".
Antonio Milena |
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DUAS
PERGUNTASMichel Filho/Ag. O Globo | Sede da Gamecorp em São Paulo (à esq.) e o prédio da Telemar, no Rio de Janeiro: por que a telefônica optou pela Gamecorp e por que a sociedade foi montada de modo a ficar sob sigilo? |
Pouco ou nada se sabe dos hábitos
dos filhos de Lula antes ou depois de o pai receber a faixa presidencial.
Mas a trajetória profissional de Fábio Luís
mudou e muito. Foi só depois da posse que seus dons fenomenais
começaram a se expressar – e com tal intensidade a ponto
de o pai ver nele um Ronaldinho dos negócios. Ele mostrou
talento para as comunicações e, como se lerá
nesta reportagem de VEJA, para a atividade de lobista junto ao governo.
A reportagem revela que o filho do presidente associou-se ao lobista
Alexandre Paes dos Santos, um personagem explosivo, que responde
a três inquéritos da Polícia Federal, por suspeitas
de corrupção, contrabando e tráfico de influência.
Esse dom do filho do presidente se revelaria ainda no episódio
de sua associação com a Telemar.
Sabe-se agora que os 15 milhões
de reais investidos pela Telemar na empresa de Lulinha não
foram um investimento qualquer. As circunstâncias sugerem
que o objetivo mais óbvio seria comprar o acesso que o filho
do presidente tem a altas figuras da República. O setor de
telefonia estava e está em uma guerra em que, a se repetir
a tendência mundial, haverá apenas um ou dois vencedores.
Ganhar fatias do adversário é vital. Houve uma corrida
entre grandes empresas de telecomunicações para ver
quem conseguia alinhar o filho do presidente entre seu time de lobistas.
A Telemar venceu. A maior empresa de telecomunicações
do Brasil em faturamento e em número de telefones fixos instalados,
e com 64% do território nacional coberto por ela, a Telemar
é uma empresa cujo faturamento anual supera 7 bilhões
de dólares. A aposta na associação com Lulinha
acabou não sendo muito produtiva para a Telemar porque o
escândalo veio à tona. Mas foi por pouco. O governo
negociava a queda de barreiras legais que impedem a atuação
nacional de empresas de telefonia fixa. Além disso, por orientação
do governo, fundos de pensão de estatais preparavam-se para
vender fatias relevantes de sua participação acionária
no setor. Quem estivesse mais perto do poder se sairia melhor.
Vidal Cavalcante/AE |
GRATIDÃO
DO PRESIDENTE Kalil Bittar, sócio de Lulinha, a quem Lula chegou a fazer uma homenagem no Alvorada pela ajuda que dá a seu filho |
O Ronaldinho do presidente Lula
é mesmo um fenômeno. Formado em biologia, ele ainda
era chamado de Lulinha, apelido que os amigos hoje evitam, quando
trabalhava como monitor no zoológico de São Paulo,
com um salário de 600 reais por mês. Para reforçar
seus ganhos, dava aulas de inglês e computação.
Do ponto de vista profissional e financeiro, vivia uma situação
que parece ser muito semelhante à dos quatro filhos com curso
superior do leitor da Folha. Em dezembro de 2003, no entanto,
quando Lula estava em via de completar seu primeiro ano no Palácio
do Planalto, Lulinha começou sua decolagem rumo à
galeria exclusiva dos indivíduos fenomenais. Junto com Kalil
e Fernando Bittar, filhos de Jacó Bittar, ex-prefeito de
Campinas e um velho amigo do presidente, Fábio Luís
tornou-se sócio da Gamecorp, empresa de games que ainda se
chamava G4 Entretenimento e Tecnologia Digital. Até aqui
a trajetória de Fábio Luís lembra a dos geniozinhos
americanos do Vale do Silício que se enfurnam em uma garagem
e saem de lá com uma idéia matadora de vanguarda como
o Google ou o YouTube, projetando-se para o estrelato dos negócios
multimilionários. A Gamecorp continuou a expandir-se. Em
junho deste ano, fechou um contrato com a Rede Bandeirantes para
alugar seis horas de programação diária no
Canal 21. Depois que o contrato foi firmado, a emissora mudou de
nome: de Canal 21, passou a chamar-se PlayTV. Oficialmente, trata-se
de um arrendamento de horário.
Em janeiro de 2005, apenas um
ano depois da chegada de Lulinha à empresa, a Gamecorp já
estava recebendo o aporte milionário de 5,2 milhões
de reais da Telemar – e Lulinha já era um empreendedor
de raro sucesso. A Gamecorp dera um salto estratosférico,
coisa rara mesmo num mercado em expansão, como é o
caso da internet e dos jogos eletrônicos. A sociedade entre
a Telemar e a Gamecorp se materializou por meio de uma operação
complexa, que envolveu uma terceira empresa e uma compra de debêntures
seguida de conversão quase imediata em ações.
O procedimento visava a ocultar a entrada da Telemar no negócio.
VEJA revelou a associação em julho do ano passado.
O caso de Lulinha tem uma complexidade
maior. Sua relação com a Telemar não se esgota
nos interesses de ambos na Gamecorp. O filho do presidente foi acionado
para defender interesses maiores da Telemar junto ao governo que
o pai chefia. Em especial, em setores em que se estudava uma mudança
na legislação de telecomunicações que
beneficiava a Telemar. VEJA descobriu agora que a mudança
na lei foi tratada por Lulinha e seu sócio Kalil Bittar com
altos funcionários do governo. O assunto levou a dupla a
três encontros com Daniel Goldberg, titular da Secretaria
de Direito Econômico do Ministério da Justiça
(SDE). Em um desses encontros, ocorrido no início de 2005,
Lulinha e Kalil, já então sócios da Telemar,
sondaram o secretário sobre a posição que a
SDE tomaria caso a Telemar comprasse a concorrente Brasil Telecom
– fusão que a lei proíbe ainda hoje. Goldberg,
ciente do obstáculo legal, disse que o negócio só
seria possível mediante mudança na lei. O estouro
do escândalo Lulinha abortou os esforços para mudar
a legislação e favorecer o sócio do filho do
presidente.
Quando a Telemar fez uma oferta
de compra à Brasil Telecom, o mercado interpretou o movimento
como um sinal de que a mudança na lei era dada como certa.
Paralelamente à oferta, estavam em plena efervescência
os encontros de Lulinha e Kalil com Goldberg para tratar dos bastidores
da negociação entre duas gigantes da telefonia. Oficialmente
nada disso ocorreu. O assessor de Lulinha e Kalil, o jornalista
Cláudio Sá, diz que, se houve encontros com Goldberg,
foram contatos meramente sociais. Mas do que eles falaram? "Encontros
sociais. Aperta a mão. Como vai? Tudo bem? Tudo certo? Esse
tipo de coisa", responde o assessor. Goldberg diz que não
foi nada disso. Ele conta que conversou com Lulinha e Kalil para
aconselhá-los a contratar uma "consultoria tributária
e um escritório de advocacia". É bastante improvável
que essa seja toda a verdade porque, nessa época, a Gamecorp
já tinha consultor. Era Antoninho Marmo Trevisan, amigão
do presidente.
A constatação que
se esconde por trás disso é a de que Lulinha, depois
de receber a bolada da Telemar, começou a comportar-se como
lobista da empresa junto ao governo de seu pai. Pode-se afirmar
com certeza que em pelo menos um encontro oficial Lulinha tratou
de ajudá-la. Antes de entrar o dinheiro da Telemar o lobby
da dupla Lulinha-Kalil era feito justamente em favor da concorrente,
a Brasil Telecom. Com a ajuda de Lulinha e Kalil, Yon Moreira da
Silva, da Brasil Telecom, conseguiu ser recebido pelo presidente
Lula em uma audiência que, curiosamente, não constou
da agenda oficial do Palácio do Planalto. Ela foi marcada
por César Alvarez, assessor especial da Presidência,
e durou quase duas horas – sem mais ninguém na sala.
Sobre o que Yon Moreira e o presidente conversaram? Segundo Yon
Moreira, sobre o projeto Computador Conectado, que visaria difundir
a venda de computadores populares e o acesso gratuito à internet.
"Lula ficou impressionado com o projeto que apresentei a ele", diz
Yon. "Houve uma sintonia entre nós. Mas não falamos
nenhuma palavra sobre o filho dele." Yon Moreira completa: "Lula
queria que os pobres do Brasil tivessem acesso à internet,
e eu tinha o melhor projeto para realizar esse sonho". O auxílio
de Lulinha e Kalil ao então diretor da Brasil Telecom é
grave à luz de uma informação adicional: o
encontro ocorreu no mesmo período em que o representante
da empresa pagava 60.000 reais mensais a Lulinha e Kalil a pretexto
de patrocinar um programa de games da dupla exibido pela Rede Bandeirantes.
Essa é a mais simples e clara demonstração
de um lobby empresarial junto ao governo: a Brasil Telecom patrocinava
Lulinha e Kalil e, ao mesmo tempo, a dupla abria as portas da sala
do presidente da República à Brasil Telecom. Parece
inocente. Não é. Como esses encontros ocorreram a
portas fechadas e como os interesses das teles eram (e são)
bilionários, qualquer simpatia do governo por um ou outro
contendor é decisiva.
Ricardo Benichio |
Pedro Rubens |
MAUS
LOBISTAS Os movimentos de Lulinha e Kalil incluíram serviços para a empresária Arlette Siaretta (acima, à esq.), a quem levaram até o Palácio da Alvorada; ajuda ao então diretor da Brasil Telecom, Yon Moreira da Silva (abaixo, à esq.); e sondagem sobre a Telemar junto a Daniel Goldberg, secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça |
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Rafael Jacinto/Valor/Folha Imagem |
Elza Fioesa/ABR |
Em suas visitas a Brasília,
Lulinha e Kalil ocupavam uma sala no escritório do lobista
Alexandre Paes dos Santos, conhecido como APS (veja
reportagem). O escritório de APS está
instalado em uma imponente mansão com quatro andares e elevador
na sofisticada região do Lago Sul. Ali, com regularidade
mensal, Lulinha e Kalil despacharam por quase dois anos, entre o
fim de 2003 e julho do ano passado. A sala usada pela dupla tem
40 metros quadrados. Fica bem ao lado da sala do lobista APS. Há
algumas semanas, estava mobiliada com duas mesas. Todas as cadeiras
eram vermelhas. Havia dois computadores, duas linhas telefônicas,
uma impressora e um único quadro na parede. Lulinha e Kalil
tinham ramais privativos, o 8118 e o 8130. Sobre sua relação
com a dupla Lulinha-Kalil, APS diz apenas: "Eu emprestei a sala,
mas não tenho a menor idéia do que eles faziam lá".
Seria ingênuo esperar que dissesse alguma coisa mais comprometedora
sobre os vizinhos de sala e colegas por dois anos.
Além da sala, APS também
colocou sua frota à disposição da dupla. Quando
Lulinha e Kalil começaram a freqüentar o escritório
do lobista, seus deslocamentos por Brasília eram feitos em
Ford Fiesta. Com cerca de 1,90 metro de altura, Kalil reclamou que
o Fiesta era desconfortável e disse que gostaria de um carro
mais espaçoso. APS substituiu o Fiesta por um Omega. Enquanto
despachavam na mansão de APS durante o dia, Kalil e Lulinha
eram hospedados na Granja do Torto ou no Palácio da Alvorada,
residências oficiais da Presidência da República.
Quando isso não era possível, Kalil ia para o hotel
Blue Tree, a menos de 1 quilômetro do Alvorada. Não
se conhecem bem as razões pelas quais Lulinha e Kalil mantinham
uma sala no escritório do lobista de métodos heterodoxos.
O que faziam ali? Por que despachavam dali? Em busca dessas respostas,
VEJA descobriu que a sala foi cedida a Lulinha e Kalil como parte
de um acordo dele com a francesa Arlette Siaretta, dona do grupo
Casablanca, um conglomerado de 54 empresas que, entre outras atividades,
faz produção de filmes e eventos, gravação
de comerciais e distribuição de DVDs.
Em 2002, Arlette Siaretta e APS
se tornaram sócios num projeto de transmissão de imagens
digital via satélite. Desde então, a mansão
do lobista passou a funcionar como filial informal da empresa Casablanca
em Brasília. "Ela me pediu a sala e eu cedi", diz APS. Mas
por que a Casablanca teria interesse em instalar Lulinha e Kalil
em sua filial informal em Brasília? Apesar de ser dona de
metade do mercado de finalização de comerciais no
país, Arlette Siaretta tinha um problemão no início
do governo de Lula. Ligada ao PSDB e produtora das últimas
três campanhas presidenciais tucanas, a empresária
encontrou no PT uma muralha que lhe barrava negócios com
o governo federal e as estatais, até então uma de
suas grandes fontes de receita. Arlette Siaretta precisava de alguém
para lhe abrir as portas do governo.
No fim de 2003, o sócio
de Lulinha apareceu em seu escritório, em São Paulo,
prometendo exatamente aquilo de que a empresária precisava
– portas abertas. "Você tem uma grande empresa. Eu tenho
acesso às pessoas que decidem. Podemos ganhar dinheiro juntos",
teria dito Kalil, conforme o relato feito a VEJA por uma testemunha
do encontro. Arlette Siaretta adorou a idéia. Fecharam negócio:
Kalil receberia 5% das transações no governo que a
Casablanca conseguisse por seu intermédio. Não poderia
haver escolha melhor. Os "meninos" do presidente entregaram o que
prometeram. Pois bem, Siaretta continuou tendo no governo petista
a mesma participação que tinha no mercado nos oito
anos dos tucanos, algo em torno de 50% de todos os contratos de
filmes feitos para as empresas de publicidade que prestam serviço
ao governo.
Não se sabe por que Arlette
Siaretta confiou em Kalil. Procurada por VEJA em cinco oportunidades,
a empresária não quis dar entrevista. Sabe-se, porém,
que uma das melhores credenciais de Kalil para dizer-se influente
foi sua proximidade com Lulinha – que, registre-se, não
esteve presente na negociação com Siaretta. A pedido
de Kalil, a empresária até concordou em trabalhar
com Alberto Lima, conhecido como Beto Lima, amigão de Kalil
(há quinze anos) e de Lulinha (há nove anos). Dono
de um bar em Campinas que falira em agosto de 2003, Beto Lima passou
a despachar diariamente na sede da Casablanca, em São Paulo.
Siaretta mandou imprimir cartões de visita com seu nome e
a custear suas despesas com passagens aéreas e hospedagem
no triângulo São Paulo–Brasília–Rio
de Janeiro. Assim como Kalil e Lulinha, Beto Lima também
passou a usar o escritório de APS em Brasília, que
lhe servia de apoio para suas visitas às principais agências
de publicidade que trabalham para o governo e para estatais. Beto
Lima dá sua versão: "Minha função é
prospectar novos negócios para a Casablanca. Usei o escritório
como base operacional, apenas para dar e receber telefonemas".
Em julho de 2004, a turma deu
uma grande exibição de sua influência para Arlette
Siaretta. O cineasta Aníbal Massaini Neto, diretor de Pelé
Eterno, um documentário sobre a vida do craque, queria
exibir seu trabalho ao presidente Lula, mas não conseguia
romper o bloqueio. Arlette Siaretta, que produziu o filme, colocou
em movimento sua engrenagem: acionou Beto Lima, que acionou Kalil,
que acionou Lulinha – que marcou uma sessão de cinema
no Alvorada com a presença do pai. A exibição
aconteceu na noite de 13 de julho de 2004. Depois, houve um jantar,
com arroz, feijão, peixe e farofa, além de uísque
e charutos cubanos. Estavam todos lá: Lulinha, Kalil, Beto
Lima, além de Siaretta. A certa altura, já empolgado,
Lula fez um discurso no qual começou afirmando admirar duas
pessoas na vida. A platéia apostou que uma seria Pelé,
o astro do filme e presente à festa. Mas não. Lula
disse que admirava Abraham Lincoln e – tchan, tchan, tchan,
tchannn Kalil Bittar. Era a gratidão por tudo de bom
que Kalil já fizera por Lulinha. A empresária Arlette
Siaretta ficou muito satisfeita com o resultado do jantar, pelo
acesso que conseguira e pelo prestígio de seus colaboradores.
Lulinha e Kalil mantêm-se
mergulhados no mutismo sobre a real dimensão dos negócios
e interesses que ajudaram em Brasília. Não falam também
sobre seus despachos na sala ao lado da do lobista APS, bem como
sobre suas andanças por empresas privadas e gabinetes federais.
O assessor da dupla, procurado por VEJA, conversou com a revista.
Disse que Kalil esteve na mansão do lobista APS, mas que
Lulinha jamais colocou os pés lá. APS desmente o assessor
de Kalil e Lulinha. Ele confirma que o filho do presidente despachava
no escritório cedido por ele. Quando VEJA quis saber sobre
outros detalhes, o assessor disse que Lulinha e Kalil não
prestariam nenhum esclarecimento adicional. As investidas de lobista
de Lulinha em Brasília e suas conexões empresariais
merecem um esclarecimento mais pormenorizado. Todo pai tem direito
de ver no filho um Ronaldinho e na filha uma Gisele Bündchen.
Da mesma forma é vital tentar entender o mistério
por trás de certas transformações extraordinárias
dos filhos de presidentes, em especial quando elas ocorrem durante
o ápice de poder dos pais.
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