Após a publicação da coluna de Elio Gaspari deste domingo (19), que
rememorava escândalos noticiados durante seu governo, o ex-presidente da
República Fernando Henrique Cardoso enviou carta à Folha com resposta a pontos levantados pelo colunista. Leia a seguir a íntegra da resposta de FHC ao texto de Gaspari.
Marlene Bergamo 29.jan.2014/Folhapress | ||
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no Instituto FHC |
A propósito do esclarecedor artigo de Elio Gaspari "Todos soltos, todos
soltos até hoje", que começa a desfazer o slogan de escândalos do PSDB,
desejo esclarecer:
a) Quanto ao caso Sivam, não só que a contratação da Raytheon se deu no
governo Itamar, como que ao governo nunca foi atribuído haver
participado de malfeitos. A "prensa" para que o processo andasse se
referia à aprovação do mesmo pelo Senado, posto que o relator do caso
demorava em se pronunciar. Houve inquérito, o servidor mostrou inocência
(havia sido afastado das funções por mim) e, posteriormente, foi muito
justamente nomeado embaixador na Colômbia pelo presidente Lula.
b) A "pasta rosa", como dito no artigo, se refere a supostos recursos de
campanha destinados, antes de meu governo, a candidatos parlamentares
de vários partidos; o inquérito, no caso, competia à Justiça Eleitoral e
a legislação nas eleições até 1994 era diferente da atual, não sendo
fácil, de serem verdadeiras as suposições, tipificar os atos como crimes
eleitorais.
c) Quanto à alegada compra de votos para a reeleição, além dos acusados
não serem do PSDB e terem sido objeto de inquérito no Congresso que os
levou à renúncia, quanto à insinuação vaga de que teria havido
envolvimento de um ministro no processo de suborno, o ministro aludido
foi espontaneamente à Comissão de Justiça da Câmara e rechaçou as
aleivosias. Nunca houve acusação formal ao ministro, que eu saiba.
d) No que se refere ao chamado "mensalāo mineiro", ainda "sub judice", minha opinião, independentemente de endossar as acusações, foi, desde o início, de que deveria haver apuração e julgamento. Diga-se que, quando surgiu o caso, eu não era mais presidente.
d) No que se refere ao chamado "mensalāo mineiro", ainda "sub judice", minha opinião, independentemente de endossar as acusações, foi, desde o início, de que deveria haver apuração e julgamento. Diga-se que, quando surgiu o caso, eu não era mais presidente.
e) Por fim, não existe um "cartel do PSDB" de São Paulo na compra dos
trens ou do metrô. Segundo o relatório técnico do Cade, há acusação a
empresas que formaram cartel para operar tanto em obras federais como
estaduais. Provavelmente houve suborno de funcionários desses dois
níveis de governo, mas não há acusação a partidos.
Ficarei grato se esta carta for publicada para assim complementar as informações do jornalista Elio Gaspari.
Cordialmente,
Fernando Henrique Cardoso
Fernando Henrique Cardoso
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