Um dos principais aliados do presidenciável Aécio Neves
(PSDB) na região Nordeste, o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM),
critica a estratégia petista de disseminar no eleitorado nordestino o
"medo" de uma possível vitória do tucano.
Em entrevista à Folha, o neto do senador e governador baiano
Antônio Carlos Magalhães (1927-2007) diz que o PT "quer tomar para si a
condição de proprietário" do Nordeste.
"Não vamos aceitar", disse o prefeito, que ainda criticou o governador baiano Jaques Wagner (PT) por relativizar a importância do tema "corrupção" na disputa presidencial.
ACM Neto - A declaração de Agripino foi distorcida. Em nenhum momento ele deixou de ter confiança na ida de Aécio para o segundo turno. Eu também mostrei toda minha confiança. O que disse foi que o mais importante era tirar o PT do poder.
Sempre estive nesse projeto muito menos por expectativa de poder e muito mais por compromisso de vida. Estou há dez anos na oposição e mantive minha coerência.
Aécio se preparou para ser presidente e ocupou funções públicas de forma muito honrada. E, com todo o respeito que tenho aos candidatos de oposição que nos lideraram em outras eleições, ele é o mais preparado.
A presidente Dilma teve mais que o dobro de votos de Aécio no Nordeste no 1º turno. Como reverter esse cenário?
Procuramos fazer o esforço máximo. Crescemos em relação a 2010 no primeiro turno e queremos crescer mais no segundo turno. O desempenho de Aécio no Nordeste foi superior ao de Serra em 2010.
O fundamental é enfrentar a tática do medo e mostrar que qualquer alinhamento tem que ser programático. Também acho inadmissível a tática do PT de querer dividir o Brasil. E o único capaz de unificar o Brasil é Aécio. Ele, aliás, foi o único candidato que desenhou um plano específico para o Nordeste.
Aécio vai ter um olhar muito especial para o Nordeste. Isso incomoda o PT porque eles querem chamar para si a condição de donos, de proprietários de uma região. E, isso, não vamos aceitar.
O ex-presidente FHC afirmou que o PT se apoia em "setores sobretudo mal informados". O sr. concorda?
Não acho, de jeito nenhum. Acho que a fala de FHC foi descontextualizada e não vamos aceitar essa injustiça que o PT procurou fazer com o ex-presidente.
Refuto qualquer tentativa de dividir regiões e classes sociais. Isso não existe. Tanto é que a gente encontra eleitores do PT nas classes economicamente mais avantajadas e antipetistas nas classes mais pobres. Não acho que seja divisão de classe.
O DEM tinha uma meta de eleger 30 deputados e um governador. Elegeu 22 deputados e nenhum governador. Onde o partido errou nas eleições?
Todos os deputados do partido que disputaram foram reeleitos. E Ronaldo Caiado [DEM-GO] e Davi Alcolumbre [DEM-AP] agora são senadores. Por isso, acho que o partido teve uma estratégia mais corajosa, pensando no médio e no longo prazo.
Temos cinco senadores, podendo chegar a seis, se Aécio for eleito, 22 deputados e algumas prefeituras importantes como Salvador e Aracaju. Passada a eleição, vamos fazer um conjunto de debates para refinar a estratégia de futuro do partido.
O futuro passa por uma fusão?
Isso não está em pauta. Não quero nem descartar nem carimbar nenhuma hipótese. Vamos esperar passar a eleição e refletir as alternativas para o partido ganhar força e crescer. Mas estamos tranquilos. Nosso capital é importante, sobretudo pelo valor dos quadros do partido. O partido está unido, coeso e tem grandes quadros.
O governador Jaques Wagner disse que a corrupção é um tema rejeitado pela população. O sr. concorda com ele?
O PT, infelizmente, procurou banalizar o tema corrupção numa tentativa de nivelar todos os políticos por baixo.
O governador [Jaques Wagner] certamente é uma das últimas pessoas que têm autoridade para falar sobre corrupção. Seja por sua relação direta com os petistas envolvidos em escândalos recentes, seja pelo fato de ter colocado [o ex-presidente da Petrobras] José Sérgio Gabrielli como um secretário forte de seu governo.
Essa nomeação traz para o governo da Bahia essa conexão com o escândalo da Petrobras, empresa que é o maior patrimônio dos brasileiros, mas que foi tomada de assalto pelo governo petista.
Considera correta essa estratégia de opor as candidaturas no campo ético?
Isso não é uma estratégia, é um fato. Os petistas estão atrás das grades, fruto do mensalão, e agora estão envolvidos com o escândalo da Petrobras.
Os fatos mostram quem são os políticos que estão do lado de uma verdadeira mudança, da defesa de um novo momento da política, e aqueles que são o símbolo da corrupção na história recente da política brasileira.
Aécio tem uma trajetória política tradicional. Porque ele representaria um novo momento na política?
Aécio está disposto a fazer reformas e promover mudanças extremamente profundas. Não é mais possível continuar com um tipo de relação do poder Executivo com o Legislativo que foi construída pelo PT na base do toma-lá-dá-cá, da cooptação dos partidos, na base da troca de favores.
Aécio está determinado a promover essa ruptura. Ele vai não só usar toda sua força e capital político para promover uma reforma política, mas estabelecer uma relação com o Legislativo acerca de ideais e propostas. O tipo de relação [com o Congresso] construída pelo PT é a causa dos principais escândalos do governo petista.
Caso eleito, Aécio deve buscar o apoio do PMDB?
O Aécio deve dialogar com todo os partidos e com todos os deputados e senadores que queiram discutir um projeto para o Brasil.
A maioria congressual ele terá por um reconhecimento de deputados e senadores do resultado das urnas, do que a sociedade está indicando.
As negociações têm que se dar em torno da pauta que for encaminhada para o Congresso. Tenho a confiança de que, eleito, Aécio vai reunir capital político necessário para ter uma maioria em torno das propostas que são desejadas pela sociedade.
O que o senhor defende como reforma política?
É fundamental rever a quantidade de partidos políticos. Não dá mais para ter essa facilidade para criação de um partido.
Sou a favor do fim da reeleição, com mandato de cinco anos e com coincidência de eleições. Eleição de dois em dois anos é um problema.
É preciso acabar com a mercantilização do tempo de TV e reforçar a fidelidade partidária. A reforma tem que fortalecer os partidos.
Seu partido perdeu, novamente, as eleições para o governo da Bahia. Acha que subestimou a força do governador?
Não acho. O histórico das últimas eleições nos impediria de subestimar. Disputamos contra uma máquina fortíssima operando em alta velocidade com prefeitos e lideranças políticas. Foram vários convênios firmados de última hora e ruas sendo asfaltadas nas vésperas das eleições. Além disso, enfrentamos uma das campanhas mais caras de todo do Brasil.
A gente construiu uma aliança que nos deu expectativa de vitória até momentos antes das eleições, mas que não se confirmou. Agora, é respeitar a vontade do povo.
O resultado, ao contrário de me desanimar, me dá muita confiança. Tivemos o melhor desempenho dos últimos anos. É um dado que aponta para o futuro. Ganhar e perder é do jogo, esta eleição não será a última.
"Não vamos aceitar", disse o prefeito, que ainda criticou o governador baiano Jaques Wagner (PT) por relativizar a importância do tema "corrupção" na disputa presidencial.
Raul Spinassé/Folhapress | ||
Entrevista com o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), em Salvador |
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Folha - Há cerca de 20 dias, o cenário da eleição era outro. O
presidente do DEM, José Agripino, defendeu o apoio a Marina Silva no 2º
turno. O sr. também disse que apoiaria Marina, caso Aécio não tivesse
sucesso. Não acreditavam mais em Aécio?
ACM Neto - A declaração de Agripino foi distorcida. Em nenhum momento ele deixou de ter confiança na ida de Aécio para o segundo turno. Eu também mostrei toda minha confiança. O que disse foi que o mais importante era tirar o PT do poder.
Sempre estive nesse projeto muito menos por expectativa de poder e muito mais por compromisso de vida. Estou há dez anos na oposição e mantive minha coerência.
Aécio se preparou para ser presidente e ocupou funções públicas de forma muito honrada. E, com todo o respeito que tenho aos candidatos de oposição que nos lideraram em outras eleições, ele é o mais preparado.
A presidente Dilma teve mais que o dobro de votos de Aécio no Nordeste no 1º turno. Como reverter esse cenário?
Procuramos fazer o esforço máximo. Crescemos em relação a 2010 no primeiro turno e queremos crescer mais no segundo turno. O desempenho de Aécio no Nordeste foi superior ao de Serra em 2010.
O fundamental é enfrentar a tática do medo e mostrar que qualquer alinhamento tem que ser programático. Também acho inadmissível a tática do PT de querer dividir o Brasil. E o único capaz de unificar o Brasil é Aécio. Ele, aliás, foi o único candidato que desenhou um plano específico para o Nordeste.
Aécio vai ter um olhar muito especial para o Nordeste. Isso incomoda o PT porque eles querem chamar para si a condição de donos, de proprietários de uma região. E, isso, não vamos aceitar.
O ex-presidente FHC afirmou que o PT se apoia em "setores sobretudo mal informados". O sr. concorda?
Não acho, de jeito nenhum. Acho que a fala de FHC foi descontextualizada e não vamos aceitar essa injustiça que o PT procurou fazer com o ex-presidente.
Refuto qualquer tentativa de dividir regiões e classes sociais. Isso não existe. Tanto é que a gente encontra eleitores do PT nas classes economicamente mais avantajadas e antipetistas nas classes mais pobres. Não acho que seja divisão de classe.
O DEM tinha uma meta de eleger 30 deputados e um governador. Elegeu 22 deputados e nenhum governador. Onde o partido errou nas eleições?
Todos os deputados do partido que disputaram foram reeleitos. E Ronaldo Caiado [DEM-GO] e Davi Alcolumbre [DEM-AP] agora são senadores. Por isso, acho que o partido teve uma estratégia mais corajosa, pensando no médio e no longo prazo.
Temos cinco senadores, podendo chegar a seis, se Aécio for eleito, 22 deputados e algumas prefeituras importantes como Salvador e Aracaju. Passada a eleição, vamos fazer um conjunto de debates para refinar a estratégia de futuro do partido.
O futuro passa por uma fusão?
Isso não está em pauta. Não quero nem descartar nem carimbar nenhuma hipótese. Vamos esperar passar a eleição e refletir as alternativas para o partido ganhar força e crescer. Mas estamos tranquilos. Nosso capital é importante, sobretudo pelo valor dos quadros do partido. O partido está unido, coeso e tem grandes quadros.
O governador Jaques Wagner disse que a corrupção é um tema rejeitado pela população. O sr. concorda com ele?
O PT, infelizmente, procurou banalizar o tema corrupção numa tentativa de nivelar todos os políticos por baixo.
O governador [Jaques Wagner] certamente é uma das últimas pessoas que têm autoridade para falar sobre corrupção. Seja por sua relação direta com os petistas envolvidos em escândalos recentes, seja pelo fato de ter colocado [o ex-presidente da Petrobras] José Sérgio Gabrielli como um secretário forte de seu governo.
Essa nomeação traz para o governo da Bahia essa conexão com o escândalo da Petrobras, empresa que é o maior patrimônio dos brasileiros, mas que foi tomada de assalto pelo governo petista.
Considera correta essa estratégia de opor as candidaturas no campo ético?
Isso não é uma estratégia, é um fato. Os petistas estão atrás das grades, fruto do mensalão, e agora estão envolvidos com o escândalo da Petrobras.
Os fatos mostram quem são os políticos que estão do lado de uma verdadeira mudança, da defesa de um novo momento da política, e aqueles que são o símbolo da corrupção na história recente da política brasileira.
Aécio tem uma trajetória política tradicional. Porque ele representaria um novo momento na política?
Aécio está disposto a fazer reformas e promover mudanças extremamente profundas. Não é mais possível continuar com um tipo de relação do poder Executivo com o Legislativo que foi construída pelo PT na base do toma-lá-dá-cá, da cooptação dos partidos, na base da troca de favores.
Aécio está determinado a promover essa ruptura. Ele vai não só usar toda sua força e capital político para promover uma reforma política, mas estabelecer uma relação com o Legislativo acerca de ideais e propostas. O tipo de relação [com o Congresso] construída pelo PT é a causa dos principais escândalos do governo petista.
Caso eleito, Aécio deve buscar o apoio do PMDB?
O Aécio deve dialogar com todo os partidos e com todos os deputados e senadores que queiram discutir um projeto para o Brasil.
A maioria congressual ele terá por um reconhecimento de deputados e senadores do resultado das urnas, do que a sociedade está indicando.
As negociações têm que se dar em torno da pauta que for encaminhada para o Congresso. Tenho a confiança de que, eleito, Aécio vai reunir capital político necessário para ter uma maioria em torno das propostas que são desejadas pela sociedade.
O que o senhor defende como reforma política?
É fundamental rever a quantidade de partidos políticos. Não dá mais para ter essa facilidade para criação de um partido.
Sou a favor do fim da reeleição, com mandato de cinco anos e com coincidência de eleições. Eleição de dois em dois anos é um problema.
É preciso acabar com a mercantilização do tempo de TV e reforçar a fidelidade partidária. A reforma tem que fortalecer os partidos.
Seu partido perdeu, novamente, as eleições para o governo da Bahia. Acha que subestimou a força do governador?
Não acho. O histórico das últimas eleições nos impediria de subestimar. Disputamos contra uma máquina fortíssima operando em alta velocidade com prefeitos e lideranças políticas. Foram vários convênios firmados de última hora e ruas sendo asfaltadas nas vésperas das eleições. Além disso, enfrentamos uma das campanhas mais caras de todo do Brasil.
A gente construiu uma aliança que nos deu expectativa de vitória até momentos antes das eleições, mas que não se confirmou. Agora, é respeitar a vontade do povo.
O resultado, ao contrário de me desanimar, me dá muita confiança. Tivemos o melhor desempenho dos últimos anos. É um dado que aponta para o futuro. Ganhar e perder é do jogo, esta eleição não será a última.
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