19 de outubro de 2014 por
Em geral, quando estou um pouco mais tranquilo e as crianças
dormindo, gosto de ler matérias de jornais de anos atrás para ver erros
de analistas (eu inclusive) e tentar fazer o contra ponto entre o que
esperávamos e o que aconteceu. Não é que me deparei com uma entrevista
do Secretario do Tesouro Nacional, Arno Augustin, ao jornal Valor
Econômico publicada no dia 2 de julho de 2012.
É interessante lembrar como o secretario enfatizava a necessidade de
manter a responsabilidade fiscal como um meio de garantir juros mais
baixo e taxa de câmbio mais desvalorizada. Ou seja, naquela época, Arno
Augustin falava a mesma linguagem dos economistas que o governo
pejorativamente chama hoje de “ortodoxos” e pessimistas.
Destaco dois trechos da entrevista (quem quiser ler a integra clique aqui).
1) “…..Estamos de olho em uma mudança
estrutural. Talvez a mais relevante do último período seja a queda dos
juros, dos spreads bancários. Estamos olhando isso também. Aproveitar
este momento [de crise] para sair com uma coisa positiva. Já que há
crise, o que é negativo, vamos, pelo menos, sair dela com taxa de juros
muito mais adequada do que tínhamos no passado. Por isso que o mix
fiscal é tão importante.”
2) “….Da outra vez [na crise de 2008],
as medidas foram muito voltadas para o crédito. Desta vez, nós
cuidamos, desde o início, do fiscal para que o exterior [crédito
externo] não secasse tanto para as empresas brasileiras. Para muitas
empresas, a possibilidade de fazer captações externas é fundamental. Com
a exportação ruim, uma crise na Europa, o corte do financiamento pode
ter efeito dramático. Olhamos muito o fiscal para que o Brasil esteja
forte nesse campo, para que não tenha nenhum fenômeno de dúvidas sobre
nossas empresas. Por isso, é importante o fiscal.”
O que aconteceu no final de 2012? A economia cresceu apenas 1%,
frustrando as expectativas do governo e o crescimento da arrecadação,.
Assim, para fechar as contas naquele ano o governo teve que recorrer a
truques contábeis que, ao invés de manter a credibilidade da política
fiscal, levou a uma descrença generalizada do mercado aqui e lá fora do
real compromisso do governo com a responsabilidade fiscal. Isso depois
se agravou.
Adicionalmente, em abril de 2013, o Banco Central começou a sua lenta
trajetória de aumento dos juros até o patamar atual de 11% ao ano, taxa
Selic maior do que aquela do início do governo Dilma que era de 10,75%
ao ano. Estamos terminando este governo com o fiscal em frangalhos,
juros altos e uma taxa de câmbio valorizada (temos um déficit em conta
corrente de 3,5% do PIB, ante 2,4% do PIB em 2012).
Ao que parece, justamente devido à questão fiscal, o governo está
terminando com indicadores macroeconômicos muito piores que o seu
início. Abaixo, apenas para refrescar a memória, as manchetes dos
jornais de 4 de janeiro de 2013 sobre o resultado fiscal de 2012. Quem
quiser ler a matéria da Folha de São Paulo do início de janeiro sobre
esse episódio clique aqui e aqui para a matéria do Estado de São Paulo. Detalhe, o Ministério da Saúde adverte que Armínio Fraga não era ministro da fazenda.
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POLÍTICA E ECONOMIA