Conhecido no escândalo Banestado como o principal operador de um esquema
clandestino de remessa de valores ao exterior, o doleiro Alberto
Youssef passou a usar, no escândalo da Petrobras, canais legais do
sistema financeiro, usando contratos de câmbio com registros no Banco
Central, bancos e corretoras de valores.
Por esses canais oficiais, segundo investigadores da Operação Lava Jato
da Polícia Federal, Youssef conseguiu enviar para fora do país US$ 234
milhões desde 2009 em nome de empresas como Labogen e Piroquímica.
Elas simulavam a compra no exterior de mercadorias, que nunca chegaram
ao Brasil. Quando foi interrogado pelo juiz federal Sérgio Moro, de
Curitiba (PR), em 28 de agosto, o empresário Leonardo Meirelles, dono da
Labogen, confirmou a fraude.
"As importações eram reais?", quis saber Moro. "As importações não eram
reais", respondeu Meirelles. "De quem eram esses valores?", indagou o
juiz. "A grande maioria era do Alberto Youssef", disse Meirelles.
A maior parte dos recursos, cerca de US$ 150 milhões, foi enviada para
contas em Hong Kong. Outros US$ 47 milhões foram para a China, segundo
dados reunidos na CPI da Petrobras.
Os valores eram enviados por meio de bancos, sobretudo o Citibank, após
serem trocados em corretoras como a Pionner, de São Paulo.De lá, o
dinheiro seguiu para contas ainda não completamente mapeadas pela
Polícia Federal e pela CPI.
Polícia Federal e pela CPI.
Para investigadores e membros da CPI, a facilidade com que o esquema
conseguiu operar por tantos anos pode revelar um buraco no sistema de
controle das atividades financeiras.
Para o BC, porém, não houve falha na fiscalização, e sim acerto, pois as
comunicações do Coaf, órgão de inteligência financeira do governo
federal, é que deram origem à Lava Jato e à delação pela qual o
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa denunciou o esquema de
corrupção.
OUTRO LADO
O advogado de Youssef, Antônio Figueiredo Basto, contradisse as
afirmações de Meirelles. Segundo o advogado, o doleiro "era cliente" de
Meirelles, mas "quem indicava as contas lá fora era o Leonardo",
enquanto este diz que as contas eram indicadas por Youssef.
Indagado se Youssef manteve essa versão no acordo de delação premiada
que começou a fazer na Justiça, o advogado disse que não poderia
comentar o depoimento do doleiro.
A advogada da corretora Pioneer informou que a empresa "nunca soube que os contratos eram fictícios".
Em nota, o Citibank diz que mantém "altos padrões de controles e compliance, cooperando com autoridades sempre que solicitado".
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POLÍTICA E ECONOMIA