Vicente Nunes
Correio Braziliense
Em campanha aberta para tentar atrair o apoio do empresariado à
reeleição da presidente Dilma Rousseff, o quase ex-ministro da Fazenda,
Guido Mantega, tem lançando, no afogadilho, pacotes com o intuito de
criar fatos positivos — e, quem sabe, garantir uns votos a mais à chefe.
As medidas, como ocorreu em todo o atual governo, terão efeito
limitado. Além de serem mal-elaboradas, muitas não saem do papel. São
puro produtos de marketing, que funcionam bem em programas eleitorais.
A gestão de Mantega à frente da Fazenda no governo Dilma vai se
encerrar de forma melancólica. Não bastasse a Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) ter cortado a previsão de
crescimento para o Brasil, de 1,8% para 0,3% neste ano, o Fundo
Monetário Internacional (FMI) avisou que rebaixará a perspectiva para o
país e, pior, avisou que a inflação, mesmo com recessão, não cairá tão
cedo, o que obrigará o Banco Central a promover uma nova rodada de
aumento dos juros.
Nas palavras do FMI, o Brasil que Dilma entregará ao próximo governo,
que pode estar sob o comando dela, caso vença as eleições de outubro,
será desastroso. Será um país com economia estagnada, envolto em uma
onda de desconfiança que há décadas não se via, inflação no teto da
meta, de 6,5%, preços administrados represados, juros em alta, contas
públicas no vermelho e deficit externo recorde.
O resumo do fracasso que foi a tal da “nova matriz econômica” de
Dilma será debatido pelo FMI na reunião do G20, na Austrália, neste fim
de semana. Estrategicamente, Mantega e o presidente do Banco Central,
Alexandre Tombini, optaram por não irem ao encontro. Preferiram enviar
subordinados para não serem confrontados com um quadro tão ruim da
economia brasileira. O pior é que não há nada no horizonte que mostre
uma reversão do desastre tão cedo.
HORIZONTE NEBULOSO
Na avaliação de Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho,
apesar do discurso do governo de que a atividade vai se recuperar neste
segundo semestre, os sinais de fragilidade são evidentes. “O
crescimento do Brasil neste ano será mínimo”, diz. Ele ressalta que, a
despeito desse resultado frustrante, a inflação continuará muito
elevada.
No Banco Central, o sentimento é visão é semelhante. Técnicos da
instituição dizem que, em julho, depois de ir ao fundo do poço, a
indústria realmente mostrou um desempenho melhor. Mas, no mês passado,
voltou a tombar. O varejo, por sua vez, sofre com as dificuldades
enfrentadas pelas famílias, que tiveram o poder de compra corroído por
um longo período de inflação no teto da meta e se atolaram em dívidas.
CLIMA AZEDOU
Os investidores aumentaram ontem as apostas na possibilidade de
vitória de Marina Silva no segundo turno das eleições presidenciais.
Acreditam que o movimento anti-PT levará a maioria dos votos de Aécio
Neves para a candidata do PSB. No Palácio do Planalto, o clima anda para
lá de azedo.
Por fim, um grupo de funcionários do ministério da Fazenda foi
retirado ontem auditório no qual estavam reunidos para a coletiva à
imprensa de Guido Mantega. Ao serem avisados da entrevista, um deles
perguntou: “O ministro vai avisar que saiu?”. Ao ser indagado se era
isso que queria ouvir, não titubeou. “Sim”, respondeu.
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POLÍTICA E ECONOMIA