Foi ao ar na noite passada o debate
presidencial promovido pela CNBB, entidade máxima da Igreja Católica no
Brasil. Deus esteve no controle até o terceiro bloco. Zelou para que as
regras engessadas inibissem as possibilidades de confronto. No quarto
bloco, Ele, que já não é full time, foi dormir. E o Diabo
assumiu, ateando fogo no evento. O Coisa-Ruim proporcionou à platéia
alguns dos mais eletrizantes momentos da atual temporada eleitoral.
Passou a impressão de estar fechado com a evangélica Marina Silva.
Cavalgando
a língua do Pastor Everaldo, o Tinhoso endereçou a Aécio uma açucarada
pergunta sobre a Petrobras. O tucano alçou voo: “Os brasileiros estão
envergonhados, indignados com aquilo que vem acontecendo com a nossa
mais importante empresa pública, submetida à sanha de um grupo político
que, para se manter no poder, permitiu que um vale-tudo fosse feito na
nossa maior empresa.”
Aécio bicou: “…Uma gravíssima denúncia
surgiu, que fez com que o mensalão parecesse coisa pequena.
Denúncia
feita pela Polícia Federal, que disse que existe uma organização
criminosa atuando no seio da nossa maior empresa. A partir daí, um
diretor nomeado pelo governo do PT e confirmado pela atual presidente da
República disse que, durante todos esses últimos anos, financiava com
propinas, com parcelas de recursos das obras sob sua alçada, a base de
sustentação do governo.”
Sob olhares atendos de Marina, Aécio
retorceu o bico: “…Não é possível que o Brasil continue a ser
administrado com tanto descompromisso com a ética, com a decência, com
os valores cirstãos. A vida pública não é para ser exercida dessa forma.
Quem não teve condições de administrar nossa maior empresa não tem
condições de administrar o país.”
Abespinhada, Dilma solicitou
direito de resposta. E Marina só de olho. Enquanto o pedido era
analisado, o mediador sorteou o nome do candidato que faria a indagação
seguinte. O Capiroto guiou a escolha: Aécio Neves pergunta para Luciana
Genro. Quais são as suas propostas, candidata, para melhorar a educação
no Brasil? Como que tomada pelo Cramulhão, a candidata do PSOL preferiu
dizer a Aécio que sabia o que o tucanato fizera no verão passado.
“O
senhor fala como se no governo do PSDB nunca tivesse havido corrupção”,
disse Luciana Genro. “Na realidade, nós sabemos que o PSDB foi
precursor do mensalão, com seu correligionário e conterrâneo Eduardo
Azeredo. E o PT deu continuidade a essa prática de aparelhamento do
Estado, que o PSDB já havia implementado durante o governo Fernando
Henrique.”
A filha de Tarso Genro, o governador petista do Rio
Grande do Sul, prosseguiu: “Também foi público e notório o processo de
corrupção que ocorreu durante a compra da [emenda] da reeleição… E a
corrupção nas empresas públicas que foram privatizadas, num processo que
ficou conhecido como privataria tucana…”
Luciana chutou o balde:
“Então, o senhor, Aécio, falando do PT, é como o sujo falando do mal
lavado. Porque o senhor é de um partido que tem promovido a corrupção…
As empreiteiras que fizeram o escândalo de corrupção da Petrobras são as
mesmas que financiam a sua campanha, a da Marina e a da Dilma… Fale do
PT, mas fale do seu partido também.”
Na tréplica, Aécio saudou o
retorno da ex-petista Luciana Genro “às suas origens, atuando como linha
auxiliar do PT”. Ignorando-a, pôs-se a falar bem de si mesmo,
enaltecendo a obra educacional que realizara como governador de Minas.
Mas Lúcifer reservara uma tréplica para Luciana: “Com todo o respeito,
linha auxiliar é uma ova, candidato Aécio… O senhor não tem resposta
para debater comigo a corrupção, até porque foi protagonista de um dos
últimos escândalos…”
O Rabudo, definitivamente, apossara-se dos
lábios de Luciana Genro. Ela recordou o caso do aeroporto da cidade
mineira de Cláudio. “…O senhor é tão fanático pela corrupção que
consegue usar dinheiro público para construir um aeroporto beneficiando
exclusivamente a sua família. É realmente escandaloso o que o PSDB faz
no Brasil.” Aécio requereu direito de resposta.
A essa altura, o
Pata-Rachada já havia decidido que Dilma teria direito de responder aos
petro-ataques do rival tucano. O Chifrudo concedeu-lhe um minuto. E ela:
“Ao longo da minha vida, eu tive sempre tolerância zero com a
corrupção.” No que se refere ao convívio com malfeitores, não teve a
mesma intolerância.
“No caso da Petrobras, eu quero lembrar ao
candidato Aécio que quem investigou e descobriu todos os crimes foi um
integrante do governo.” Um integrante do governo? Imaginou-se que Dilma
anunciaria ao país o nome de um investigador secreto. Mas ela se
equivocara. Quisera dizer não um integrante, mas um órgão do governo, a
Polícia Federal.
Expressando-se num idioma muito parecido com o
português, Dilma afirmou: “Fica claro que não é fácil descobrir um
sistema daquele tamanho, na medida em que está metida a Polícia Federal,
o Ministério Público e o Judiciário.” Quem ouviu ficou com a sensação
de que a presidente acusava os investigadores de estarem metidos nos
crimes. Mas ela queria dizer o oposto.
“Quero dizer que nós
fortalecemos a Polícia Federal, criamos o Portal da Transparência… Nunca
escolhemos engavetador-geral da República. Se hoje descobrem atos de
corrupção e ilícitos é porque nós não varremos para baixo do tapete…”
Dilma se absteve de mencionar que o governo testa permanentemente os
órgãos de controle do Estado, fornecendo-lhes escândalos em série. O
tapete ficou pequeno.
Antes de encerrar o penúltimo bloco, o Demo
autorizou Aécio a usufruir do direito de responder aos ataques de
Luciana Genro. “Política é isso: aquele que se propõe a governar o
Brasil tem que ouvir impropérios. E aqueles que são irrelevantes fazem
acusações absolutamente irresponsáveis e levianas.” Falou de sua
infância católica, de sua formação cristã, do seu apreço pela ética, de
sua obra no governo mineiro. Nada que pudesse suscitar um novo pedido de
resposta de Luciana Genro.
No último bloco do debate, dedicado às
considerações finais, Marina Silva, que observara calada a troca de
ofensas, caminhou sobre o mar de lama. “Tenho dito que quem vai ganhar
essas eleições não são as estruturas dos partidos da polarização: PT e
PSDB, que acabaram de aqui se digladiar. Quem vai ganhar as eleições é
uma nova postura, principalmente do cidadão brasileiro, que está
disposto a fazer a mudança, blá, blá blá…”
Eis as duas grandes mensagens que o Príncipe das Trevas passou por meio do debate da CNBB: 1)
o que o país está assistindo nos últimos 20 anos é apenas uma sucessão
de exemplos de tucanos e petistas distraídos sendo usados, vendo sua
respeitabilidade e sua boa imagem exploradas por gatunos. 2)
se Aécio e Dilma estiverem corretos, Marina é apenas uma biografia
imaculada que ainda não teve de negociar um projeto de lei com a bancada
do PMDB.
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POLÍTICA E ECONOMIA