Com a proximidade das eleições, o
tom da campanha começa a se elevar, e os candidatos cuidam, além de
defender os seus propósitos, de desqualificar os dos adversários. Dilma,
por exemplo, ataca o programa de governo apresentado por Marina Silva,
taxando-o de recessivo, sem levar em conta que sua política econômica já
deságua, nitidamente, em recessão técnica. Há quem, a essa altura, já
sinta saudades, até mesmo, do pibinho que, há pouco, criticávamos. Ainda
assim, Guido Mantega, embora já tenha recebido seu cartão vermelho,
tornou-se o mais longevo de todos os ministros da Fazenda na história do
país. O candidato Aécio Neves alerta que sua luta é travada contra um
PT em dobro, já que as 2 candidatas a ele adversas têm a mesma origem no
partido que, se um dia, viu a esperança vencer o medo, hoje se vê
assaltado pelo terror de perder o poder.
Esta situação parece lembrar o tempo da
ditadura militar, quando foi estabelecido o instituto da sublegenda. Em
1977, quando os partidos foram extintos, criaram-se 2 novos denominados
Arena e MDB, permitindo-se a cada 1 deles apresentar mais de 1
candidato, nas eleições majoritárias. Ao final, somavam-se os votos
dados às sublegendas, e a sua totalidade era atribuída ao candidato mais
votado. Essa regra ajudava a Arena, ao impedir que o MDB se
beneficiasse de eventuais divisões internas do partido do governo. Nessa
linha de raciocínio, caso Dilma seja alijada do segundo turno, fato já
admissível pelo andar da carruagem, a vitória de Marina perpetuaria o PT
no poder, já que, nas palavras de Lula, ela é “uma petista de raiz”. É
bem verdade que os tempos são outros, e a situação não se apresenta tão
simples assim. Com a morte de Eduardo Campos, Marina – uma evangélica
cuja fala tem a expressão de quem está no púlpito de um templo –, parece
ter sido cooptada a ocupar o vácuo gerado pelas manifestações
espontâneas de junho de 2013, personificando o perfil que habita o
imaginário coletivo, ainda que o mesmo não tenha contornos claramente
definidos quanto à sua natureza apartidária ou antipartidária. Junte-se a
essa conotação o messianismo com que tentam atrelar sua imagem à luta
de Davi contra Golias, para que tenha renascido o simbolismo de quem a
identifique como a depositária do anseio generalizado da multidão, que
não se sente representada pelos projetos vocalizados pelo PT ou PSDB.
Como a mutação no Brasil só ocorre ao
ser disparado aquilo que Nelson Rodrigues, metaforicamente, denominava
de Sobrenatural de Almeida no futebol, os escândalos que se sucedem
podem, até a véspera da eleição, provocar mudanças de expectativa,
fazendo com que o voto migre na mesma direção das novas ventanias e dos
vendavais que as tormentas prenunciam no horizonte sombrio das delações
premiadas. Paulo Roberto, o diretor da Petrobras, havia advertido: “Se
eu falar, não vai haver eleição”. Para que surja um novo caos
progressista em nosso meio, é preciso que sejam identificados todos os
lobos que se travestem de cordeiros em nossa selva política, antes das
eleições de outubro, a fim de que exorcizemos o mito de que o Brasil é o
país da impunidade. Essa sequência de escândalos faz com que nós,
pobres e patéticos assistentes de tantos descalabros, nos transformemos
em cúmplices de seus autores e, pela inércia que nos acomete, também, em
reféns com acentuados sintomas da síndrome de Estocolmo. Quem sabe,
toda essa bagunça que hoje nos oprime possa adubar o terreno para o
advento de um novo ciclo, através do qual consigamos plantar a versão
tupiniquim da Operação Mãos Limpas, cuja dimensão propicie ampla
investigação judicial, visando a esclarecer, julgar e punir, de uma vez
por todas, os casos contínuos de corrupção, praticados com tanta
desenvoltura nas 2 últimas décadas.
Wagner Gomes, administrador de empresas
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POLÍTICA E ECONOMIA