domingo, 28 de setembro de 2014

O 'Efeito Papuda' veio para ficar

Em 1500, quando Pedro Álvares Cabral chegou à Bahia, deixou dois degredados na praia. Um deles chamava-se Afonso Ribeiro. Tinha 18 anos, trabalhara com um grão-senhor e metera-se num assassinato. Ele viveu anos no meio dos índios e, não se sabe como, acabou resgatado por outra expedição, regressando à Europa. Contou sua história a um tabelião, mas até hoje o papel não foi achado. Por suas artes e pela sorte, a pena de degredo deu em nada, e Afonso Ribeiro pode ser considerado o patrono das pessoas que se safam da lei. Passaram-se 514 anos e a bancada de maganos que está presa na Papuda mostra que essa escrita começa a ser quebrada.


com a Justiça, tornando-se o primeiro "capo" a revelar a rede de operações e influências da Máfia. Ganhou nova identidade, fez uma plástica e morreu em 2000. 

A colaboração de Paulo Roberto e Youssef demanda paciência e tempo, com o prosseguimento de interrogatórios e acareações. Não haveria Paulo Roberto sem conluio com grandes empresas nacionais e estrangeiras. Da mesma forma, não haveria Youssef sem bancos que operassem suas traficâncias. Em todos os casos, o melhor que essas empresas têm a fazer é seguir o exemplo da Siemens, que ajudou a desvendar a rede de propinas na venda de equipamentos para governos tucanos de São Paulo. 

A ideia segundo a qual só há corrupção na política contém um vício. Se a corrupção fosse só dos políticos, no caso dos parlamentares, os doutores iriam a Brasília na segunda-feira e ficariam até quinta trocando propinas. Se fosse assim, na sexta a conta ficaria zerada. Falta botar na roda as empresas que movem o circo, e essa é a trilha que Paulo Roberto Costa e Youssef podem mostrar à Viúva.

AÉCIO ESCLARECE
Aécio Neves corrige e esclarece:
"Não uso sapatos Ferragamo e não me lembro sequer de ter um dia entrado numa loja da marca."
Aécio calça produção nacional.

GATO NA TUBA
A OAB do Rio de Janeiro encrencou-se no processo de indicação de advogados para o quinto constitucional do Tribunal de Justiça. Entre os candidatos está a advogada Marianna Fux, de 33 anos, filha do ministro Luis Fux, do STF, e são muitos os adversários de sua escolha, por motivos variados. Jogo jogado. Ela teve suas credenciais aceitas pela comissão competente da Ordem. O passo seguinte seria sua inclusão (ou exclusão) numa lista sêxtupla. O gato entrou na tuba quando, para preservar "a lisura do processo", o julgamento das credenciais da advogada foi remetido ao conselho da seccional. Como seria esse mesmo conselho quem organizaria a lista, a providência soa redundante (porque o conselho pode recusá-la) e casuística (porque só valeria para ela). No centro da questão está o fato de a advogada ser filha do ministro. Se alguém demonstrar que Fux fez pressão nepotista, ela não pode ser desembargadora, nem ele ministro. Sem isso, rito é rito. 

A nuvem do casuísmo desa-pareceria se a "lisura do processo" se tornasse permanente, transferindo-se aos conselhos os julgamentos das credenciais de todos os advogados indicados pela OAB.

LUIZ HILDEBRANDO
Foi-se embora Luiz Hildebrando Pereira da Silva. Por comunista, ralou 15 anos de exílio. Por cientista e brasileiro, voltou ao país e continuou suas pesquisas buscando a cura da malária, em Rondônia.
Como ele escreveu, despedindo-se: "Au revoir". 

OS CACIQUES DO PSB DETONARAM O RIO
No final de junho, o Partido Socialista, coligado com o Pros, tinha candidato ao governo do Rio. Era o deputado Miro Teixeira, indicado por Marina Silva, que à época era um apêndice na chapa de Eduardo Campos. Ele entraria numa disputa em que os favoritos eram medidos muito mais pela escala dos defeitos do que pela qualidade de cada um. Pezão, com a herança de Sérgio Cabral; Garotinho, com sua própria biografia, e Lindbergh Farias, com a marca petista. 

Num lance de astúcia, o PSB do Rio articulou-se para apoiar Lindbergh. Coisa esquisita, visto que Eduardo Campos fazia campanha contra o comissariado.
Defendendo a candidatura de Miro, Marina Silva chegou a organizar uma viagem ao Rio, subindo o morro da Mangueira com ele e Eduardo Campos. Não tiveram a companhia de um só representante do PSB. Desde então, Miro disputa mais um mandato de deputado federal. Estava eliminada a possibilidade de o Rio de Janeiro ter um candidato a governador que nada tivesse a ver com Cabral, Garotinho ou o comissariado. 

Semanas depois, caiu em Santos o jatinho em que viajava Eduardo Campos, Marina tornou-se competitiva, mas sua coligação ficou sem candidato no Rio.

Teria sido uma boa ideia levar aos eleitores um nome com dez mandatos de deputado federal sem nódoa. Mais: Miro Teixeira foi buscar a reeleição e pode exibir um levantamento do trabalho da bancada fluminense, na qual é o parlamentar com maior assiduidade (98% de comparecimento às sessões) e menor despesa com penduricalhos de gabinete. Enquanto houve quem gastasse R$ 1,2 milhão, ele só custou R$ 398 mil, que pagaram passagens do Rio para Brasília em quatro anos. 

Elio Gaspari, nascido na Itália, veio ainda criança para o Brasil, onde fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em 2003 por 'As Ilusões Armadas'. Escreve às quartas-feiras e domingos. 

FOLHA - Uol

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