Em
encontro com apoiadores e representantes dos partidos de sua
microcoligação, Marina Silva subiu o tom. Acusada por Dilma Rousseff de
mentir, ela se disse “indignada”. E devolveu: “Não me venha chamar de
mentirosa! Mentira é quem diz que não sabe que tinha roubo na Petrobras.
Mentira é quem diz que não sabe o que está acontecendo na corrupção
desse país. Mentira é quem diz que ia fazer 6.000 creches e faz apenas
400.”
Marina reuniu-se com seus aliados em São Paulo. Num discurso
inflamado, transmitido ao vivo pela internet, ela insinuou que membros
do comitê de Dilma perscrutam sua vida. Estimulou-os a prosseguir:
“Fiquei sabendo que tem uma CPI paralela vasculhando a minha vida dentro
do Senado. Podem vasculhar. E tenho certeza, tem gente que não vai
entender.”
O processo legislativo é complexo, disse Marina, como a
justificar as duas ocasiões em que votou contra a CPMF, apesar de dizer
que se posicionara a favor do tributo sobre movimentação financeira.
“Tem coisa que a gente vota no principal e depois não vota com as
emendas; vota com as emendas, mas não vota no principal”, disse, antes
de pegar novamente em lanças: “Quem não foi nem vereadora e vira
presidente do Brasil, não entende isso.”
Nas palavras de Marina,
Dilma “come pela boca do marqueteiro, come pela boca do assessor.” A
certa altura, a substituta de Eduardo Campos na corrida presidencial
repetiu três vezes: “Nós estamos no segundo turno, nós estamos no
segundo turno, nós estamos no segundo turno. Escrevam isso.”
Para
ela, o eleitorado já desfez o antigo Fla-Flu que vinha transformando as
disputas presidenciais nos últimos 20 anos em gincanas monopolizadas por
petistas e tucanos. “As forças que querem a polarização estão fazendo
de tudo para dizer que vai continuar entre os mesmos”, disse a
ex-petista Marina. “Não será entre os mesmos.”
Aferrada a
autocritérios, Marina apresentou-se como representante do pedaço da
sociedade que foi às praças em junho do ano passado para dizer que não
se sentiam representadas. A atual disputa, disse ela, “será entre a
sociedade brasileira e eles. Eu sou o melhor pretexto que a sociedade
tem para colocar as coisas no contexto da mudança da história, com a
altura e a profundidade que os brasileiros merecem.”
Minutos
antes, Marina entusiasmara a plateia ao afirmar que aqueles que a
sociedade não considera como seus representantes “pararam de apostar nas
virtudes.” Ela ironizou a insistência com que Dilma afirma que, no
governo dela, a Polícia Federal investiga.
“Eu acho muito
interessante dizer que a Polícia Federal está investigando. É como se a
Polícia Federal estivesse investigando a pedido do governo. Como se a
Polícia Federal fosse um órgão do governo, do partido. Não é. É do
Estado brasileiro. É o Estado brasileiro que está investigando.''
Marina
lamentou que os ataques à sua candidatura sejam patrocinadas por outra
mulher. “Aliás, mesmo tendo perdido, eu celebrei quando esse país a
elegeu a primeira mulher presidente do Brasil. Quinhentos anos de
história! Eu nunca pensei, que uma mulher pudesse permitir fazer o que
estão fazendo para destruir a biografia honrada de uma outra mulher.”
“Amanhã
vão dizer: ‘ela é fraca, ela se emociona, ela não serve para governar o
Brasil’. Olha, a pior coisa que existe é quando você fere e diz:
'engula o choro, não reclame, finja que não está doendo, mostre que você
é forte.' Essa é a pior fraqueza. É você fazer o jogo do dominador. É
você se integrar a ele para parecer com ele.” Nesse ponto, a ex-petista
Marina elevou o timbre: “Eu não quero me parecer com essa gente.” Ela
repetiu: “Não quero me parecer com essa gente.”
Marina disse que
esperava participar de uma campanha mais dignificante. “Era para ter uma
outra qualidade nas eleições. Eu queria tanto! Já imaginou? A Dilma,
eu, o Aécio… Eu, a neta da parteira, dona Júlia, que andava não sei
quantas horas [...] para ir fazer uma mulher parir um filho, soprando
numa garrafa, tomando chá de manjirioba, pendurada numa corda, nunca
perdeu um menino. E o neto do grande Tancredo Neves. E a nossa
presidente que foi presa. Olha a qualidade que seria! Eu e Eduardo
acreditamos que teria qualidade.”
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