Alan Marques/Folhapress
Dilma Rousseff na posse dos novos ministros; ao fundo, o ministro da AGU, Eduardo Cardozo
04/03/2016 02h00
Eram quase 11h de quinta-feira (3) quando Dilma Rousseff convocou quatro de seus principais auxiliares para uma reunião de emergência
em seu gabinete, no terceiro andar do Planalto. Nervosa, andou de um
lado para o outro, bateu com as mãos sobre a mesa, xingou Delcídio do
Amaral (PT-MS) e ordenou a divulgação de uma nota.
Assinado por ela, o texto diz que o governo "repudia o uso abusivo de vazamentos como arma política".
Diante dos ministros Jaques Wagner (Casa Civil), José Eduardo Cardozo
(Advocacia-Geral da União), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e
do assessor especial da Presidência, Giles Azevedo, Dilma chegou a
soltar um "filho da p." em referência ao senador.
Disse que suas declarações eram "mentirosas" e que o vazamento da delação deveria ser tratado como "crime".
Ali foi levantada a hipótese de a delação ser anulada
em razão da publicidade do conteúdo, já que o sigilo é um pré-requisito
para a homologação das declarações pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Dilma então leu a reportagem divulgada pela revista "IstoÉ", com trechos em que Delcídio cita seu nome e o do ex-presidente Lula. "Faremos uma defesa ponto a ponto."
Foi a respeito da refinaria de Pasadena que ela reagiu com mais
indignação, segundo relatos. Delcídio diz que a presidente tinha pleno
conhecimento do processo de aquisição da refinaria –comprada pela
Petrobras com o valor de US$ 792 milhões superior ao que valia.
Dilma nega ter tido acesso ao contrato que sacramentava o negócio. À
época, ela era presidente do Conselho de Administração da estatal.
Ao ler a citação em que Delcídio diz que conversou com a presidente em
caminhada nos jardins do Palácio da Alvorada, Dilma esbravejou: "Isso
nunca existiu! Não tenho intimidade suficiente com ele para passeios no
jardim".
Segundo a delação, a presidente pediu a Delcídio, durante essa conversa,
que falasse com o ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça)
Marcelo Navarro para votar pela libertação de empresários presos na Lava
Jato.
A reunião precisou ser interrompida uma vez, quando a presidente, a
contragosto, recebeu as equipes brasileiras de atletas olímpicos de
ginástica artística. Impaciente, Dilma voltou ao gabinete.
A avaliação interna do governo é de que o conteúdo do depoimento acende a
discussão sobre o impeachment no Congresso e que, muito provavelmente, a
oposição vai apresentar novo pedido de afastamento de Dilma.
Além disso, avaliaram os assessores, os protestos marcados para 13 de março também devem ganhar fôlego.
O governo teme que Delcídio possa revelar fatos novos que possam
complicar ainda mais a situação de Dilma. nas palavras de um assessor, é
um caso que envolve um inimigo que, até pouco tempo, partilhava da
intimidade do Planalto.
Delcídio delata
Alan Marques/Folhapress | ||
Dilma Rousseff na posse dos novos ministros; ao fundo, o ministro da AGU, Eduardo Cardozo |
04/03/2016 02h00
Eram quase 11h de quinta-feira (3) quando Dilma Rousseff convocou quatro de seus principais auxiliares para uma reunião de emergência
em seu gabinete, no terceiro andar do Planalto. Nervosa, andou de um
lado para o outro, bateu com as mãos sobre a mesa, xingou Delcídio do
Amaral (PT-MS) e ordenou a divulgação de uma nota.
Assinado por ela, o texto diz que o governo "repudia o uso abusivo de vazamentos como arma política".
Diante dos ministros Jaques Wagner (Casa Civil), José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e do assessor especial da Presidência, Giles Azevedo, Dilma chegou a soltar um "filho da p." em referência ao senador.
Disse que suas declarações eram "mentirosas" e que o vazamento da delação deveria ser tratado como "crime".
Ali foi levantada a hipótese de a delação ser anulada
em razão da publicidade do conteúdo, já que o sigilo é um pré-requisito
para a homologação das declarações pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Dilma então leu a reportagem divulgada pela revista "IstoÉ", com trechos em que Delcídio cita seu nome e o do ex-presidente Lula. "Faremos uma defesa ponto a ponto."
Foi a respeito da refinaria de Pasadena que ela reagiu com mais
indignação, segundo relatos. Delcídio diz que a presidente tinha pleno
conhecimento do processo de aquisição da refinaria –comprada pela
Petrobras com o valor de US$ 792 milhões superior ao que valia.
Dilma nega ter tido acesso ao contrato que sacramentava o negócio. À
época, ela era presidente do Conselho de Administração da estatal.
Ao ler a citação em que Delcídio diz que conversou com a presidente em
caminhada nos jardins do Palácio da Alvorada, Dilma esbravejou: "Isso
nunca existiu! Não tenho intimidade suficiente com ele para passeios no
jardim".
Segundo a delação, a presidente pediu a Delcídio, durante essa conversa,
que falasse com o ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça)
Marcelo Navarro para votar pela libertação de empresários presos na Lava
Jato.
A reunião precisou ser interrompida uma vez, quando a presidente, a
contragosto, recebeu as equipes brasileiras de atletas olímpicos de
ginástica artística. Impaciente, Dilma voltou ao gabinete.
A avaliação interna do governo é de que o conteúdo do depoimento acende a
discussão sobre o impeachment no Congresso e que, muito provavelmente, a
oposição vai apresentar novo pedido de afastamento de Dilma.
Além disso, avaliaram os assessores, os protestos marcados para 13 de março também devem ganhar fôlego.
O governo teme que Delcídio possa revelar fatos novos que possam
complicar ainda mais a situação de Dilma. nas palavras de um assessor, é
um caso que envolve um inimigo que, até pouco tempo, partilhava da
intimidade do Planalto.
Delcídio delata
Ex-líder do governo no Senado quebra o silêncio e implica Dilma e Lula na Lava Jato, no mensalão e no fracasso de CPIs
Senador pelo PT-MS, era líder do governo na Casa até ser preso, em 25.nov, por interferir nas investigações da Operação Lava Jato
Interferência na Lava Jato
Interferência na Lava Jato
Os fatos
Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo, ex-presidentes de Odebrecht e Andrade Gutierrez, respectivamente, foram presos em jun.15. Suas defesas apresentaram pedidos de liberdade. No julgamento do STJ, em dez.15, apenas o ministro Marcelo Navarro votou pela concessão de prisão domiciliar
O que diz Delcídio
Orientadas pelo tesoureiro José Filippi, empresas fizeram contratos falsos com empresas de Assad, que repassou recursos para a campanha de Dilma em 2010. O esquema seria descoberto se a CPI dos Bingos –provável confusão com a CPI do Cachoeira– pedisse a quebra de sigilo do operador e, por isso, o governo determinou o encerramento dos trabalhos
O que diz Dilma
A presidente e Cardozo sempre afirmaram que não interferem nas inves- tigações da Lava Jato
Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo, ex-presidentes de Odebrecht e Andrade Gutierrez, respectivamente, foram presos em jun.15. Suas defesas apresentaram pedidos de liberdade. No julgamento do STJ, em dez.15, apenas o ministro Marcelo Navarro votou pela concessão de prisão domiciliar
O que diz Delcídio
Orientadas pelo tesoureiro José Filippi, empresas fizeram contratos falsos com empresas de Assad, que repassou recursos para a campanha de Dilma em 2010. O esquema seria descoberto se a CPI dos Bingos –provável confusão com a CPI do Cachoeira– pedisse a quebra de sigilo do operador e, por isso, o governo determinou o encerramento dos trabalhos
O que diz Dilma
A presidente e Cardozo sempre afirmaram que não interferem nas inves- tigações da Lava Jato
Petrobras
Petrobras
O caso
A aquisição da refinaria de Pasadena gerou prejuízo de US$ 792 mi à Petrobras. O negócio teve aval de Dilma, que era presidente do Conse- lho de Administração da estatal. O diretor da área Internacional era Nestor Cerveró, que, em 2008 passou ao cargo de dire- tor da BR Distribuidora
O que diz Delcídio
Dilma sabia que havia esquema de superfaturamento por trás da com- pra da refinaria. A alega- ção da petista de que ignorava informações sobre cláusulas do con- trato é questionável. Ela teve ainda participação na nomeação de Cerveró para a BR
O que diz Dilma
A compra de Pasadena foi feita com base em relatório falho da área Internacional, que não citava cláusulas que geraram a maior parte do prejuízo. A nomeação de Cerveró para a BR foi um entendimento do ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra e Lula
A aquisição da refinaria de Pasadena gerou prejuízo de US$ 792 mi à Petrobras. O negócio teve aval de Dilma, que era presidente do Conse- lho de Administração da estatal. O diretor da área Internacional era Nestor Cerveró, que, em 2008 passou ao cargo de dire- tor da BR Distribuidora
O que diz Delcídio
Dilma sabia que havia esquema de superfaturamento por trás da com- pra da refinaria. A alega- ção da petista de que ignorava informações sobre cláusulas do con- trato é questionável. Ela teve ainda participação na nomeação de Cerveró para a BR
O que diz Dilma
A compra de Pasadena foi feita com base em relatório falho da área Internacional, que não citava cláusulas que geraram a maior parte do prejuízo. A nomeação de Cerveró para a BR foi um entendimento do ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra e Lula
Adir Assad
Adir Assad
O caso
O operador Adir Assad foi investigado, em 2012, pela CPI do Cachoeira. A base governista no Con- gresso conseguiu barrar diversos pedidos de quebra de sigilo, inviabi- lizando os trabalhos da comissão. Após 8 meses, a CPI entregou relatório final de duas páginas sem indiciar ninguém
O que diz Delcídio
Orientadas pelo tesoureiro José Filippi, empresas fizeram contratos falsos com empresas de Assad, que repassou recursos para a campanha de Dil- ma em 2010. O esquema seria descoberto se a CPI dos Bingos –provável confusão com a CPI do Cachoeira– pedisse a quebra de sigilo do operador e, por isso, o governo determinou o encerramento dos trabalhos
O que diz Dilma
Sempre afirmou que todas as doações a suas campanhas foram legais e declaradas
O operador Adir Assad foi investigado, em 2012, pela CPI do Cachoeira. A base governista no Con- gresso conseguiu barrar diversos pedidos de quebra de sigilo, inviabi- lizando os trabalhos da comissão. Após 8 meses, a CPI entregou relatório final de duas páginas sem indiciar ninguém
O que diz Delcídio
Orientadas pelo tesoureiro José Filippi, empresas fizeram contratos falsos com empresas de Assad, que repassou recursos para a campanha de Dil- ma em 2010. O esquema seria descoberto se a CPI dos Bingos –provável confusão com a CPI do Cachoeira– pedisse a quebra de sigilo do operador e, por isso, o governo determinou o encerramento dos trabalhos
O que diz Dilma
Sempre afirmou que todas as doações a suas campanhas foram legais e declaradas
CPI do Carf
CPI do Carf
Os fatos
A Operação Zelotes investiga compras de decisões em conselho ligado ao Ministério da Fazenda, o Carf, e de medidas provisórias que beneficiaram o setor automotivo. A empresa de lobby Marcondes & Mautoni é suspeita de atuar nas duas frentes. A M&M pagou R$ 2,4 mi a uma empresa do filho caçula de Lula, Luis Cláudio Lula da Silva, em 2014
O que diz Delcídio
Foi pressionado por Lula para que Mauro Marcondes e Cristina Mautoni, donos da M&M, não depusessem à CPI do Carf. O ex-presidente estava preocupado com implicações à sua famí- lia, especialmente com os filhos Fábio Luis e Luis Cláudio. Delcídio mobili- zou a base do governo para derrubar os requerimentos de convocação do casal em reunião em nov.2015
O que diz Lula
Jamais participou de qualquer ilegalidade
A Operação Zelotes investiga compras de decisões em conselho ligado ao Ministério da Fazenda, o Carf, e de medidas provisórias que beneficiaram o setor automotivo. A empresa de lobby Marcondes & Mautoni é suspeita de atuar nas duas frentes. A M&M pagou R$ 2,4 mi a uma empresa do filho caçula de Lula, Luis Cláudio Lula da Silva, em 2014
O que diz Delcídio
Foi pressionado por Lula para que Mauro Marcondes e Cristina Mautoni, donos da M&M, não depusessem à CPI do Carf. O ex-presidente estava preocupado com implicações à sua famí- lia, especialmente com os filhos Fábio Luis e Luis Cláudio. Delcídio mobili- zou a base do governo para derrubar os requerimentos de convocação do casal em reunião em nov.2015
O que diz Lula
Jamais participou de qualquer ilegalidade
Interferência na Lava Jato
Interferência na Lava Jato
O caso
Conforme gravação feita pelo filho de Cerveró, Delcídio, um assessor e o advogado Edson Ribeiro discutiram plano de fuga ao exterior e pagamento de mesada ao ex-diretor da Petrobras para que ele não fizesse delação. O senador, Ribeiro e o assessor foram presos, e Cerveró fechou o acordo
O que diz Delcídio
Lula ordenou o pagamento da mesada a Cerveró. O objetivo era que o ex-diretor não delatasse José Carlos Bumlai e seu papel na fraude de licita- ção da Petrobras para pagar empréstimo ao PT. Delcídio fez um paga- mento de R$ 50 mil ao advogado Edson Ribeiro. No total, os repasses somaram R$ 250 mil
O que diz Lula
Jamais participou de qualquer ilegalidade. Sobre o empréstimo acertado por Bumlai, diz que nunca tratou com ninguém sobre supostos empréstimos ao PT ou sobre o contrato da Petrobras
Conforme gravação feita pelo filho de Cerveró, Delcídio, um assessor e o advogado Edson Ribeiro discutiram plano de fuga ao exterior e pagamento de mesada ao ex-diretor da Petrobras para que ele não fizesse delação. O senador, Ribeiro e o assessor foram presos, e Cerveró fechou o acordo
O que diz Delcídio
Lula ordenou o pagamento da mesada a Cerveró. O objetivo era que o ex-diretor não delatasse José Carlos Bumlai e seu papel na fraude de licita- ção da Petrobras para pagar empréstimo ao PT. Delcídio fez um paga- mento de R$ 50 mil ao advogado Edson Ribeiro. No total, os repasses somaram R$ 250 mil
O que diz Lula
Jamais participou de qualquer ilegalidade. Sobre o empréstimo acertado por Bumlai, diz que nunca tratou com ninguém sobre supostos empréstimos ao PT ou sobre o contrato da Petrobras
Mensalão
Mensalão
Os fatos
Denúncias
feitas pelo ex-deputado Roberto Jefferson sobre a compra de
parlamentares pelo PT passaram a ser investigadas em 2005 pela CPI dos
Correios, presidida por Delcídio. Ao depor à CPI, o publicitário Marcos
Valério, suspeito de ser o operador dos pagamentos, negou todos as
acusações. Hoje, ele cumpre pena de 37 anos a que foi condenado no
julgamento do mensalão
O que diz Delcídio
Lula
pagou pelo silêncio de Valério. Delcídio e Paulo Okamotto, presidente
do Instituto Lula, tentaram negociar o pagamento ao publicitário, mas o
ex-ministro Antonio Palocci foi o responsável final pelo acerto. O
publicitário queria R$ 220 milhões, mas recebeu menos
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POLÍTICA E ECONOMIA