petrolãoDaniel Marenco - 26.out.2010/Folhapress |
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Dilma Rousseff durante campanha à Presidência, em 2010, em Fortaleza |
A Andrade Gutierrez, segunda maior empreiteira do país, afirma ter pago despesas com fornecedores da campanha eleitoral de Dilma Rousseff em 2010. O pagamento, ilícito, foi feito por meio de contrato fictício de prestação de serviço.
A revelação foi feita no acordo para a delação premiada de 11 executivos da Andrade, segundo a Folha apurou, e é a primeira citação direta de irregularidade apurada pela Lava Jato que envolve uma campanha da presidente da República.
O fornecedor conhecido até aqui, segundo pessoas que tiveram acesso aos
detalhes do acordo no Ministério Público Federal, é a agência de
comunicação Pepper –que trabalhou para Dilma em 2010.
O pagamento foi feito, segundo delatores, a pedido direto de um dos coordenadores da campanha do PT.
Para dar um aspecto de regularidade ao pagamento em sua contabilidade, a
Andrade produziu um contrato fictício com a Pepper, segundo o relato. O
valor, segundo o mesmo relato, superava os R$ 5 milhões à época.
Em 2010, a Andrade Gutierrez fez três doações oficiais para o comitê
financeiro da campanha de Dilma, entre agosto e outubro, que somam R$
5,1 milhões. Já a campanha de Dilma declarou gastos de R$ 6,5 milhões
especificamente com a agência Pepper.
De acordo com ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), esse tipo
de triangulação representa caixa dois. Como se trata da campanha de
2010, na Justiça Eleitoral não haverá implicações diretas em caso de
comprovação do crime, como perda do mandato, porque o governo se
encerrou em 2014.
Cabem, contudo, ainda ações criminais sobre o episódio.
Procurado pela Folha, o tesoureiro da campanha presidencial de
2010, José de Filippi Júnior, negou irregularidades apontadas pela
Andrade Gutierrez. Segundo ele, "tudo foi feito de maneira legal,
legítima e não houve fraude".
MAIS REVELAÇÕES
Além de informações sobre a campanha de 2010, o roteiro acertado
com os procuradores inclui ainda revelações sobre irregularidades
cometidas nas obras da usina nuclear de Angra 3, da hidrelétrica de Belo
Monte, na Petrobras e em três estádios da Copa do Mundo (Arena
Amazonas, Maracanã e Mané Garrincha, em Brasília).
Segundo o que os delatores acertaram com o Ministério Público, a propina
nesses casos iria para o PT e para o PMDB na forma clássica apurada
pela Lava Jato: doações eleitorais legais, mas com a origem dos recursos
em acordos irregulares em obras públicas.
O acordo entre a Andrade Gutierrez e o Ministério Público envolve o
pagamento, pela construtora, de uma multa de R$ 1 bilhão e determina que
11 executivos que trabalham ou trabalharam na empreiteira contem o que
sabiam sobre o pagamento de propina pela empresa.
REAÇÃO NO PLANALTO
As acusações dos executivos da Andrade Gutierrez foram recebidas com
preocupação pelo Palácio do Planalto, que considerou mais um fator de
desgaste à imagem da presidente e que empurra novamente o governo
federal para o centro das investigações da Polícia Federal.
Os auxiliares e assessores da petista reconhecem que as suspeitas serão
exploradas pelos partidos de oposição para defender o impeachment da
petista, mas avaliam que não terão impacto direto no processo de
cassação da chapa presidencial na Justiça Eleitoral, uma vez que ele
analisa supostas irregularidades na campanha de 2014, não de 2010.
Do ponto de vista político, a informação emerge em momento de grande fragilidade do governo, que acaba de anunciar a troca do ministro
José Eduardo Cardozo (Justiça), um dos coordenadores da campanha de
Dilma em 2010, por pressão do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Quem assume a pasta é Wellington César Lima e Silva.
Cardozo, que permanecerá no governo à frente da Advocacia-Geral da
União, era escalado para ajudar a blindar o Planalto sempre que a Lava
Jato ou outra investigação batia às portas do governo.
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